OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

sábado, 16 de novembro de 2013

HISTÓRIA DA CAROCHINHA

Era uma vez uma carochinha que andava a varrer a casinha e achou cinco réis e foi logo ter com uma vizinha e perguntou-lhe: “Oh vizinha, que hei-de eu fazer a estes cinco réis?”
Respondeu-lhe a vizinha: “ Compra doces!”
Nada, nada, que é lambarice!” – respondeu a carochinha
Foi ter com outra vizinha e ela disse-lhe o mesmo; depois foi ter com outra que lhe disse:” Compra fitas,flores,braceletes e brincos, vai-te pôr à janela e diz: "Quem quer   casar com a carochinha, que é bonita e perfeitinha?”
Foi a carochinha comprar muitas fitas, rendas, flores, braceletes de ouro e brincos; enfeitou-se muito enfeitada e foi-se pôr à janela, dizendo:
“Quem quer casar com a carochinha,
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um boi e disse:” Quero eu!”
Como é a tua fala?” –perguntou a carochinha
“Ummm, Ummmm, Ummmmmm” – Mugiu o boi.
“ Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite” – disse a carochinha
O boi foi-se embora. Depois a carochinha tornou outra vez  dizer:
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um burro e disse: “Quero eu, quero eu!”
Como é a tua fala? – perguntou a carochinha
“Em ...ó...em....ó...em....ó...” - zurrou o burro
“Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite!” – disse a carochinha
E o burro foi-se embora.
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Depois passou um porco e a carochinha disse-lhe: - “Deixa-me ouvir a tua fala!”
 “Onnnnn, onnnnn, onnnn” -  grunhiu o porco
“Nada, nada, não me serves que me acordas os meninos de noite.”
E o porco foi-se embora.
Passou um cão e a carochinha disse-lhe: “Deixa-me ouvir a tua fala?
“Béu, béu, béu” – ladrou o cão
“Nada, nada, não me serves que me acordas os meninos de noite!”
E o cão foi-se embora.
Passou um gato, e a carochinha disse-lhe:- ” Deixa-me ouvir a tua fala?”
“Miau, miau, miau” – respondeu o gato
“Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos à noite!” – respondeu a carochinha.
O gato foi-se embora. A carochinha já estava muito triste por não encontrar com quem casar. Pôs-se de novo à janela a dizer:
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um rato e disse : - “Quero eu!”A carochinha perguntou-lhe: “ Como é a tua fala?”
“Chi, chi, chi” – respondeu o rato.
“Tu sim, tu sim, quero casar contigo!” – disse a carochinha muito contente.
Então o ratinho casou com a carochinha e ficou-se chamando João Ratão. Viveram alguns dias muito felizes, mas tendo chegado o Domingo, a Carochinha disse ao João Ratão que ficasse ele a tomar conta na panela que estava ao lume a cozer a sopa, enquanto ela ia à missa.
O João Ratão foi para junto do lume para ver se a sopa estava cozida, meteu a mãe na panela e ficou-lhe lá. Meteu a outra; também lá ficou; meteu-lhe um pé; sucedeu-lhe o mesmo e sem ele dar por isso deu um trambolhão para dentro do caldeirão. E ficou cozido no caldeirão.
Voltou a carochinha da missa e como não visse o João Ratão procurou por todos os buracos e não o encontrou, e disse para consigo: “Ele virá quando quiser, deixa-me ir comer a minha sopa!” . Mas ao deitar a sopa no prato encontrou o João Ratão dentro da panela, morto e cozido.
A carochinha começou a chorar em altos gritos e uma tripeça que ela tinha em casa perguntou-lhe:
Que tens carochinha,
Que estás a chorar?

Morreu o João Ratão
E por isso estou a chorar.

E eu que sou tripeça
Ponho-me a chorar.

 Diz dali uma porta:
 Que tens tu, tripeça
Que estás a dançar?
Morreu o João Ratão
Carochinha está a chorar.
E eu que sou tripeça
Pus-me a dançar.
E eu que sou porta
Ponho-me a abrir e a fechar.

Diz dali uma trave:
 Que tens tu, porta,
Que estás a abrir e a fechar?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
 E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar.
E eu que sou trave
Quebro-me.

Diz dali um pinheiro:
 Que tens, trave,
Que te quebraste?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
 E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar,
E eu quebrei-me.
E eu que sou pinheiro
Arranco-me.

Vieram os passarinhos para descansar no pinheiro e viram-no arrancado e disseram:

Que tens, pinheiro,
Que estás no chão?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
E eu arranquei-me.
E nós que somos passarinhos
Vamos tirar os olhinhos.

Os passarinhos tiraram os olhinhos, e depois foram á fonte beber água. E diz-lhe a fonte:

Porque foi passarinhos,
Que tirastes os olhinhos?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
O pinheiro arrancou-se,
E nós passarinhos,
Tirámos os olhinhos
E eu que sou fonte
Seco-me

Vieram os meninos do rei com os seus cantarinhos para levarem água da fonte e acharam-na seca e disseram:

Que tens fonte,
Que secaste?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
Atripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
 E eu sequei-me.
E nós quebramos os cantarinhos.

E foram os meninos para o palácio e a rainha perguntou-lhes:

Que tendes meninos,
 Que quebrastes os cantarinhos?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
 A fonte secou-se.
E nós quebramos os cantarinhos.
Pois eu que sou rainha
Andarei em fralda pela cozinha.

Diz dali o rei:
E eu vou arrastar o cu
Pelas brasas....
(Versão de Coimbra)


Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Ed. Leya (Pág. 43-47)









Sem comentários:

Enviar um comentário