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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

FOTOGRAFIA EM MOVIMENTO

Aí os piqueniques dos Falcatos ! A família sempre gostou de se juntar principalmente nas ferias de verão. Os piqueniques eram o melhor pretexto para essas reuniões e, fosse de carroça ou na camioneta do Vitalino, farnel bem fornecido , aí estávamos nós, prontos para um dia bem passado.
O local escolhido era, na maioria das vezes, a herdade do Mouchão.
O dia um pouco enfarruscado, não faz desanimar esta família. Um lenço na cabeça, um casaquinho de malha, carapuço na cabeça das crianças, fazem esquecer que o verão já vai de volta e que seria melhor ficar em casa no aconchego do lar.
Ainda em cima da camioneta estão vários cestos de verga vermelha com duas tampas a abrir por cima muito próprios para estas festanças e algumas alcofas de buinho algarvias. Vêm cheios com vários petiscos que se irão comer pelo dia fora até que o sol se esconda de todo.
Lá encontraremos pastelinhos de bacalhau, costeletas panadas da Maria Emília, carnes cheias produção da Amélia, alface e tomate para as saladas, pão e vinho, muito vinho que as gargantas hão-de vir secas dos passeios a pé que se irão fazer.
A fotografia não mostra nem metade das pessoas que aqui se reuniram.
Alguns aproveitaram para um passeio a pé num reconhecimento daqueles campos tão lindos com o ribeiro lá ao fundo...
Como é o hábito ficaram as mulheres para preparar o almoço para quando chegassem os senhores esfomeados da caminhada. Era assim naquele tempo e ainda hoje perdura...
Hoje trata-se duma favada que elas estão descascando.
A prima Idalina mãe do Vitalino e avó da Zuzu, pôs um pano no colo para proteger a saia. É uma boa pessoa com quem me dou muito bem. O marido, o primo Perninhas é, como se costuma dizer, "unha com carne" com o meu pai.
Muito divertido o primo Perninhas enche uma casa com os seus dito e suas anedotas.
A Maria Amélia que não consegue estar parada descasca batatas. Para quê não percebo, pois se para o almoço temos favas! Ela lá sabe...
Esta minha prima é muito bem disposta e uma fonte inesgotável de anedotas.
A minha tia Alice levantou-se talvez para ir buscar mais umas favas. Muito gorda deve ter alguma dificuldade em se deslocar neste terreno malandamoso.
É a minha segunda mãe e sempre que tenho uns dias de férias lá estou eu em sua casa na Casa Branca. Gosta muito de mim e eu retribuo-lhe esse amor.
A Maria Emília dá a papa à Cristina ao mesmo tempo que observa o trabalho das outras. Deve estar a dizer-lhes: não descasquem tudo que assim que ela comer já aí vou dar uma ajuda. Ou ela não fosse a dona de casa trabalhadora que todos conhecemos
E a pobre da Cristinita olha para a mãe à espera que ela deixe a conversa e lhe meta a colher na boca...
A Leninha esperneia tentando escapar-se do colo da avó Bárbara que não a deixa fugir. Deve querer ir atrás da Guida que já daqui se escapuliu. É mexida esta miúda, não consegue estar sossegada nem um minuto. Parece que tem azougue...
A Leninha é mais pachorrenta mas está sempre a chorar. Ou porque quer o brinquedo da irmã, ou porque o pai não lhe dá a lua, ou por coisa nenhuma.
Já apanhou a fraqueza do pai e tudo lhe pede porque já sabe que quase sempre os seus pedidos são satisfeitos.
Aqui há dias estávamos nós sentados na marquise e pelos vidros entrava-nos em casa uma enorme lua cheia brilhando no escuro da noite.
-Pai, quero aquela bola! -diz ela enroscandosse-lhe no colo. Em vez de lhe explicar que aquilo era a lua e não saía do céu, começou numa demorada explicação, dizendo que era precisa uma escada muito alta para o pai lá chegar e não tinha essa escada. Quanto mais pormenorizava mais ela chorava, e acabou-se a noite com uma birra enorme, gritando sempre que queria a bola.
Mas desta vez era mesmo impossível satisfazer os caprichos desta menina mimada...
A avó Bárbara, minha sogra, é uma pessoa faladora, amiga de contar histórias dos seus tempos que as netas ouvem encantadas. Viúva muito nova ficou com quatro filhos para criar e grávida de outra. Valeu-lhe ter uma mercearia donde foi tirando o suficiente para o sustento da casa.
Muito vaidosa, assim que pousava os sacos vinda de Lisboa ou Casa Branca, seguia logo para a loja para comprar uns sapatos ou algo para vestir...
Para o fim fiquei eu. Como se pode ver estou parada a observar  os outros a trabalhar.
É esta a minha tarefa de eleição. Dar apoio moral a quem trabalha...
Nem sei porque não fui eu passear com os cavalheiros...


-Milena Falcato

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