OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

domingo, 13 de setembro de 2015

NOITE DE INSÓNIA



Não valeu de nada ter-me deitado mais tarde. Voltas e voltas na cama e nada de sono. Tateio no escuro para agarrar o relógio, ilumino-o: são quatro horas! Mais uma noite de insónia.
Cinco, seis, sete horas. Chegada aqui uma vontade premente faz-me saltar da cama. Azar! O Manel chegou primeiro e já ocupa a sanita.
(Ttenho que falar com a médica para lhe receitar um remédio mais potente que o faça dormir mais umas horas de manhã...)
Ainda consigo puxar de um bacio antes que o faça pelas pernas abaixo...
Com a casa de banho ocupada, ( e vai demorar...), que vou eu fazer?
Volto novamente para a cama na esperança de ainda dormir um pouquinho. Nada! Maldita insónia que, já vai para uma semana, me atormenta!
E está na hora de ir ajudá-lo a tomar banho!
Finalmente despachada, reparo que já são dez e um quarto.
Pequeno almoço engolido à pressa saio para a rua para umas compras e espairecer um pouco. Faz-me falta andar mas as dores são tantas que muitas vezes tenho receio de não conseguir regressar. Eu que era uma andarilha nata que tomava sempre a dianteira em qualquer passeio...
De volta a casa resolvi que era hoje que terminaria as bonecas que estou fazendo para a minha Leonor. Escusado! Alguém toca à porta. A minha amiga Lúcia vem trazer-me um presente. Traz-me um saco de figos da Índia descascados e prontos a comer sem sombra de picos. Deu-lhos o filho mas, como ela sabe que sou perdida por este petisco, resolveu que seria eu a comê-los. Em boa hora, pois eram deliciosos e, pela primeira vez, comi figos sem ficar com uma carrada de picos espalhada pelo corpo!
Comidos o figos de novo me agarro à costura. Mas, ainda não era desta! Tocam à porta novamente e, desta vez, era alguém a entregar uma encomenda que vinha à cobrança. Não tinha dinheiro em casa e ainda disse ao homem que, se pudesse esperar iria levantar dinheiro à Caixa mas, como o vi hesitante, toquei às três campainhas do prédio e, a que atendeu, emprestou-me o dinheiro.
Comprei, a meias com a Mina, uns apetrechos em gel de que faziam enorme reclame pela net. Usando aquilo, adeus joanetes!!!  Como estavam com preço de promoção resolvemos experimentar. Não consegui falar com ela e nem abri a encomenda. Depois se verá!
E assim se passou a manhã sem fazer nenhum...
Horas de almoço e foi um corrupio para fritar uns peixinhos minúsculos muito saborosos e fazer umas migas de espargos para acompanhar. Tinha dito à Lúcia que iria passar por casa dela mas tive de desistir. A minha filha vem hoje com os filhos e tenho que preparar jantar.
Ainda pus a máquina de costura em cima da mesa mas não lhe cheguei a mexer. Como os lisboetas estavam atrasados, dei de jantar ao Manel. Ainda fiz uns bifinhos e um puré de maçã para o nosso jantar porque só a sopa tinha ficado feita.
Chegaram e nem mesa posta nem jantar acabado!
Já tinha tantas saudades dos meus netinhos que não via há muito tempo... Estão enormes! Ele já fez a licenciatura em engenharia eletrotécnica e de computadores e ela depois de muitas indecisões matriculou-se este ano em biologia.
Às dez horas da noite estávamos finalmente sentados à mesa. Como tinha lanchado bem nem dei pelas horas...
Os gaiatos mal apanham a mesa disponível puxam do computador, põem uns auscultadores nos ouvidos e adeus conversa...
Eu aproveitei para escrever mais um pouco.
A minha netinha está linda e não me canso de olhar para ela !
Nenhum deles gosta de fotografias mas amanhã irei fazer algumas para compensar as grandes ausências. Sempre vou matando saudades olhando para elas...
Ele ficou até tarde no computador e eu fiz-lhe companhia. Quando dei por mim já passava das duas ! Vamos ver se amanhã não me deixarei dormir...


Ps- é o que fiz ontem à pressa e com muita conversa à volta. Não sei se serve. Bj
Maria Helena Alves, 82 anos 

sexta-feira, 20 de março de 2015

DA POESIA AOS PÉS






“Nós nunca estamos verdadeiramente onde estamos
Viajamos.”
Jaime Salazar Sampaio, "O Mar não precisa de poetas"

Após uma aula sobre as marcas dos pés no chão da nossa literatura na Academia Sénior de Estremoz às simpáticas e atentas alunas da minha querida Zuzu e outras maravilhosas pessoas que quiseram aparecer, depois de me inebriar com o ar do sempre reconfortante Alentejo berço, numa cidade particularmente estimulante das minhas memórias, com belas janelas, saudades da presença viva de António Telmo, as sempre misteriosas cegonhas, as nobres oliveiras centenárias, e tantos tantos outros doces recordares, finalmente o meu corpo baixou ao sono, sob um tecto de traves a lembrar o céu das minhas noites em cama de avó. Aos meus pés, Pantufa, a gatinha da Zuzu e do Zé, deitou-se poeticamente sobre a manta de rosetas e ali ficou toda a noite e velar ambos os sonos: o meu e o seu silencioso ronronar.
No meu ouvido adormecido, reverberava ainda um dos poemas lidos na aula:
"TOMÉ NATANAEL
Leva nas mãos o arco
E às costas o violino
Grande como um barco.
A música é maior do que o menino.
Mas sem esforço ou cansaço
O leva pela estrada o infinito
E à distância de um só seu passo
Descuidadamente finito.
A música não pesa
Nem o som que conduz
Por isso a estrada é um rasgo de luz."
António Telmo