OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

histórias em 77 palavras: É Outono...

histórias em 77 palavras: É Outono...: A chuva cai lá fora com força É Outono!!! Dias cinzentos, tristes, frios, sonolentos, caseiros, aborrecidos É Outono!!! Céu carrega...

DESAFIO Nº75


A ideia é construir um texto em que a estrutura seja esta:

Frase de 7 palavras

Frase de 2 palavras

Frase de 7 palavras

Frase de 2 palavras

E assim por diante… ( são 8 grupos de 7+2 )
...

A última tem só 5 palavras.

É Outono...
 A chuva cai lá fora com força
É Outono!!!
 Dias cinzentos, tristes, frios, sonolentos, caseiros, aborrecidos
É Outono!!!
 Céu carregado, cor de chumbo, choroso, deprimente
É Outono !!!
 Cá dentro, vidros embaciados, luz acesa, silêncio
É Outono!!!
 Cheira a chuva, a humidade, a bolor
É Outono!!!
Nada para fazer... apenas olhar a chuva
É Outono!!!
 Vou comer batata doce assada no forno
É Outono!!!
Cozo e asso castanhas brilhantes e sadias
É Outono!!!

Tranquilamente, como as castanhas quentinhas....

Zuzu Baleiro

Sou um bule rachado, sou!


Sou um bule rachado, sou! Como não hei-de ser se a megera da empregada da minha dona tão mal sempre me tratou. Aconteceu naquele dia em que, furiosa, me colocou com tão ou tão pouco cuidado em cima da pedra mármore da mesa da cozinha abrindo-me uma racha que me desfigurou para sempre. Mesmo assim continuo a ser o eleito da minha dona!
Só eu e ela, a senhora da casa, sabemos o porquê desta preferência.
Eu, fui-lhe oferecido pelo amor da sua vida, conhecedor de o quanto a sua amada apreciava o cházinho da tarde. A sua paixão não deu em casamento pois os seus pais tinham-lhe destinado outro marido. Nunca a sua mãe percebeu  por que ela tanto adorava o seu bule amarelo, eu, pois não era loiça fina, nem sequer fio dourado me adornava.

Ainda hoje, já mais rachado, vou à mesa levando o chá às suas amigas para grande desespero da Rita.

Felismina Trindade

77 PALAVRAS

Desafio nº6
De dia viam-se muito pouco……………………………Quem diria!

De dia viam-se muito pouco. Os donos do Miúra e da Bonita levavam-nos para pastos diferentes. Como ele adoraria segui-la, poder roçar-se por ela, aquele pêlo tão macio que ele tão bem conhecia quando se encostavam e, assim, dormiam no curral que partilhavam.

Naquele dia tudo foi diferente, nada se passou como habitualmente. 

Que estranho! Que teria acontecido? Aonde os levariam? No último momento ele apercebeu-se do  que os esperava. Estavam à porta do matadouro. Quem diria!   

Felismina Trindade, 68 anos, Estremoz

O Blogue da Zu Baleiro: Escrevendo na sala de aula - poemas

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O Blogue da Zu Baleiro: Oficina Virtual - Como ler um poema? (Completo)

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O Blogue da Zu Baleiro: Fica a dica de Literatura: Como ler poesia.

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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

AS ESCOLAS

Estava eu a dar aulas em Cabeça de Carneiro quando pedi a exoneração pela primeira vez. Ia casar-me em 9 de junho e resolvi sair antes disso.
Tinha feito o curso muito contrariada e nunca fora de minha escolha ser professora com tudo o que isso implicava na época de Salazar.
Quem como eu residia na aldeia onde dava escola tinha que receber o padre na sala de aulas, preparar as crianças para a comunhão e, se lá ficava no fim de semana, arranjar uma boa desculpa para não ir à missa e assistir à cerimónia final.
O ensino no tempo do fascismo era todo virado para passar às crianças tudo o que devíamos a Salazar: as estrada, as pontes, a paz, tudo isto veiculado ao mais pequeno pormenor nos manuais escolares. Acima dele unicamente Deus!
 Tornava-se insuportável para mim dar aulas e afirmar coisas em que nem de longe acreditava e contra as quais sempre me havia batido.
Embora gostasse muito de crianças e de ensinar não via a hora de me livrar daquele martírio. E foi o casamento que me salvou.
Com o acordo do Jacinto pedi a exoneração e fiquei em casa. Dei explicações,
muitas delas de graça, porque gostava mesmo de ensinar.
Depois dei aulas de francês e matemática na Telescola dirigida pelo professor Amaro.
O Jorge Simões foi durante uns tempos professor de Educação Visual na Escola Secundária de Estremoz. Quando foi chamado para a tropa resolveu dar o salto para a Bélgica e assim se escapar de ir para a guerra.
A minha cunhada Natália conseguiu convencer-me a substituí-lo e assim me tornei professora de Educação Visual durante três anos. Às tantas apareceu no mini concurso uma rapariga que disse ter o curso da António Arroio. Como eu não tinha tantas habilitações. Foi-me proposto ficar a dar aulas no Ciclo Preparatório o que não aceitei e aí pedi a minha segunda exoneração.
TrtAfinal a menina que me substituíu revelou-se ser uma falsificadora.  Quando teve que apresentar os documentos veio a saber-se que nunca tinha sequer frequentado a Escola António Arroio.
Eu já estava fora e não havia volta a dar.
Entretanto tive a Isabelinha que viveu um ano de sofrimento com tetralogia de Fallot e veio a morrer precisamente no dia de aniversário.
A seguir nasceu o Luís Miguel também ele doente com paralisia cerebral e que a partir dos nove dez anos viveu completamente paralisado numa cama. Morreu com dezoito anos.
Um dia procurou-me o senhor Mota a pedir-me para ir substituir a D. Cacilda, sua mãe , que se reformara. E lá fui eu assumir a responsabilidade das quatro classes da primária no Colégio de S. Joaquim. A D. Cacilda, já muito idosa na altura, ensinava como tinha aprendido nos seus tempos mandando às urtigas o novo programa. Foi uma revolução  naquela sala com um ensino mais moderno, com cartolinas com as letras e as palavras que iam aprendendo espalhadas pelo chão ou papéis recortados ou papel frisado para os trabalhos manuais.
A porta da sala tinha um vidro estrategicamente localizado à altura de quem passava e muitas vezes dei com os olhos do Sr. Mota aterrorizados com toda aquela confusão. Nunca me disse uma palavra de reprovação e tanto gostou que, quando o Colégio fechou, me pediu para eu levar os alunos para minha casa até todos completarem a quarta classe. Entre outros tinha como alunos o Miguel,  o José Luis e o Rui respetivamente o filho e os sobrinhos.
Lá fiz um colégio em casa onde se vieram juntar a Teresinha Peres e a Cristina Maldonado como alunas do pré escolar.
A Teresinha viria a ganhar o segundo prémio do " Natal visto pelas crianças"  com um desenho e colagens apresentado numa folha de jornal. Hoje é professora de desenho fazendo jus aos dotes que já se adivinhavam quando criança.

Antes de Cabeça de Carneiro já tinha passado por outras escolas : Ourada, Glória e Mártires. Penso que a Escola dos Mártires fosse a primeira. Lecionava lá nessa altura a minha cunhada Natália e eu ia substituir uma regente escolar a que chamavam menina.              .
Eu tinha 19 anos, pequenina, com uns 40 kg, parecia bem mais uma menina que outra coisa.
A Natália não esteve com meias medidas: chamou todas as pessoas que ali viviam, os alunos e ali botou discurso.
Que era uma professora como ela e nem queria saber de alguém me chamar de menina! Era a Senhora professora  D. Maria Helena! Nem mais!
Eu estava capaz de me enfiar pelo chão abaixo muito envergonhada até porque o meu feitio não era para aquelas coisas. Bem me importava a mim que me tratassem por menina, por Maria Helena ou por outra qualquer maneira que quisessem...
Proibiu a Maria Felismina e o João Armando de me tratarem por tu como sempre o tinham feito porque agora era Professora!!! Para eles seria a prima Maria Helena! Coitadinhos...
Mas ela era mesmo assim toda virada para estes preconceitos. Já não ouviu os alunos da Mata tratarem-me por tu e pelo meu nome. Ficaria no mínimo bastante escandalizada, coitada.


-Milena Falcato

OBJETO PERDIDO E REENCONTRADO

A minha amiga Ana Maria veio a minha casa na passada quinta feira, coisa que já não acontecia há bastante tempo. Tinha para ela o livro da Papu comprado no dia do lançamento e autografado por ela. Finalmente chegara a altura de lhe dar a prenda que sabia lhe agradaria pois é uma grande leitora.
A Ana tem uma vida que não lhe invejo. Não sei quantas galinhas, pintos, cães, gatos e dois cavalos tudo isto para além de trabalho em casa e as refeições para os filhos, pouco tempo lhe sobra para um dos seus passatempos preferidos, a leitura. o
Mas passemos à visita da Ana. Também ela me trouxe uma prenda. Não sei explicar como fora parar a sua casa um dossier que me pareceu ser da Mina.
Nos anos 2005/06 a minha sobrinha Joana descobriu o blogue da Papu .
Achou-o muito interessante e fez fotocópias para a Mina ver.
São 40 páginas postada em Novembro de 2005 a partir de Londres onde mora. Reli-as agora, saboreei-as e confirmei o que sentira na altura. Estava ali uma escritora que só precisava de ser descoberta por alguém que publicasse a sua escrita. Por mim sempre que tinha alguma pista de pessoa ou editora interessada em publicar obras de gente jovem, avisava-a  Até lhe indiquei vários concursos a que poderia concorrer. Seria com um concurso talvez não indicado por mim que ganharia o prémio Leya que a projetou nacional e internacionalmente.
Acredito que muito se irá ainda falar desta escritora.
Quando a Ana me entregou o dossier fiquei perplexa. Como teria ido parar a sua casa? Nem ela própria o soube dizer.
Embora pertença à minha comadre Mina tive uma das melhores surprezas com este reencontro com a escrita da minha amiguinha Papu. Sabe sempre melhor ler a palavra em papel do que através  da net onde sou visita assídua do seu blogue.
Agradeço à Ana a satisfação que proporcionou.


Para quem estiver interessado:

http://www.papuinlondon .blogspot.com/    (Pensamentos, acontecimentos do dia a dia, estórias,  coisas dos filhos, poesia, etc)

Http://outro-lado-da-lua.blogspot.com/    (poesia)

far far away


-Milena Falcato

FOTOGRAFIA EM MOVIMENTO

Aí os piqueniques dos Falcatos ! A família sempre gostou de se juntar principalmente nas ferias de verão. Os piqueniques eram o melhor pretexto para essas reuniões e, fosse de carroça ou na camioneta do Vitalino, farnel bem fornecido , aí estávamos nós, prontos para um dia bem passado.
O local escolhido era, na maioria das vezes, a herdade do Mouchão.
O dia um pouco enfarruscado, não faz desanimar esta família. Um lenço na cabeça, um casaquinho de malha, carapuço na cabeça das crianças, fazem esquecer que o verão já vai de volta e que seria melhor ficar em casa no aconchego do lar.
Ainda em cima da camioneta estão vários cestos de verga vermelha com duas tampas a abrir por cima muito próprios para estas festanças e algumas alcofas de buinho algarvias. Vêm cheios com vários petiscos que se irão comer pelo dia fora até que o sol se esconda de todo.
Lá encontraremos pastelinhos de bacalhau, costeletas panadas da Maria Emília, carnes cheias produção da Amélia, alface e tomate para as saladas, pão e vinho, muito vinho que as gargantas hão-de vir secas dos passeios a pé que se irão fazer.
A fotografia não mostra nem metade das pessoas que aqui se reuniram.
Alguns aproveitaram para um passeio a pé num reconhecimento daqueles campos tão lindos com o ribeiro lá ao fundo...
Como é o hábito ficaram as mulheres para preparar o almoço para quando chegassem os senhores esfomeados da caminhada. Era assim naquele tempo e ainda hoje perdura...
Hoje trata-se duma favada que elas estão descascando.
A prima Idalina mãe do Vitalino e avó da Zuzu, pôs um pano no colo para proteger a saia. É uma boa pessoa com quem me dou muito bem. O marido, o primo Perninhas é, como se costuma dizer, "unha com carne" com o meu pai.
Muito divertido o primo Perninhas enche uma casa com os seus dito e suas anedotas.
A Maria Amélia que não consegue estar parada descasca batatas. Para quê não percebo, pois se para o almoço temos favas! Ela lá sabe...
Esta minha prima é muito bem disposta e uma fonte inesgotável de anedotas.
A minha tia Alice levantou-se talvez para ir buscar mais umas favas. Muito gorda deve ter alguma dificuldade em se deslocar neste terreno malandamoso.
É a minha segunda mãe e sempre que tenho uns dias de férias lá estou eu em sua casa na Casa Branca. Gosta muito de mim e eu retribuo-lhe esse amor.
A Maria Emília dá a papa à Cristina ao mesmo tempo que observa o trabalho das outras. Deve estar a dizer-lhes: não descasquem tudo que assim que ela comer já aí vou dar uma ajuda. Ou ela não fosse a dona de casa trabalhadora que todos conhecemos
E a pobre da Cristinita olha para a mãe à espera que ela deixe a conversa e lhe meta a colher na boca...
A Leninha esperneia tentando escapar-se do colo da avó Bárbara que não a deixa fugir. Deve querer ir atrás da Guida que já daqui se escapuliu. É mexida esta miúda, não consegue estar sossegada nem um minuto. Parece que tem azougue...
A Leninha é mais pachorrenta mas está sempre a chorar. Ou porque quer o brinquedo da irmã, ou porque o pai não lhe dá a lua, ou por coisa nenhuma.
Já apanhou a fraqueza do pai e tudo lhe pede porque já sabe que quase sempre os seus pedidos são satisfeitos.
Aqui há dias estávamos nós sentados na marquise e pelos vidros entrava-nos em casa uma enorme lua cheia brilhando no escuro da noite.
-Pai, quero aquela bola! -diz ela enroscandosse-lhe no colo. Em vez de lhe explicar que aquilo era a lua e não saía do céu, começou numa demorada explicação, dizendo que era precisa uma escada muito alta para o pai lá chegar e não tinha essa escada. Quanto mais pormenorizava mais ela chorava, e acabou-se a noite com uma birra enorme, gritando sempre que queria a bola.
Mas desta vez era mesmo impossível satisfazer os caprichos desta menina mimada...
A avó Bárbara, minha sogra, é uma pessoa faladora, amiga de contar histórias dos seus tempos que as netas ouvem encantadas. Viúva muito nova ficou com quatro filhos para criar e grávida de outra. Valeu-lhe ter uma mercearia donde foi tirando o suficiente para o sustento da casa.
Muito vaidosa, assim que pousava os sacos vinda de Lisboa ou Casa Branca, seguia logo para a loja para comprar uns sapatos ou algo para vestir...
Para o fim fiquei eu. Como se pode ver estou parada a observar  os outros a trabalhar.
É esta a minha tarefa de eleição. Dar apoio moral a quem trabalha...
Nem sei porque não fui eu passear com os cavalheiros...


-Milena Falcato