Alguns
anos após o 25 de Abril, deu-se o boom
do campismo. Toda a gente fazia campismo. Ia-se à Nauticampo comprar tendas
e autocaravanas. A Feira era muito concorrida, havia gente por todos os lados,
vendo e apreciando as tendas, casas em miniatura que nos levavam a sonhar com
férias baratas, em contacto directo com
a natureza.
O Zé
não estava nada entusiasmado, mas como tínhamos alguns amigos que eram uns
entusiastas do campismo, lá fomos nós à Nauticampo comprar uma tenda. Vimos uma
montada que era uma casa autêntica, podia-se andar lá em pé, os quartos ficavam
um de cada lado da tenda e ao meio tinha uma sala, ao fundo era o quarto dos
meus pais!
Levámos
aquela. Nem nos preocupámos em saber se a conseguiríamos montar!!? Lá fomos nós,
felizes e contentes carregados com dois sacos enormes, um da tenda e o outro
dos ferros!
Os
nossos amigos iam montar a tenda no Parque de Campismo da Ericeira, que tinha
sido inaugurado há muito pouco tempo, e nós também fomos com eles. O Parque
abria no dia 1 de Junho e podíamos montar lá as tendas até Setembro. Assim
fizemos durante 4 anos. Montávamos a tenda e só a tirávamos de lá no final de
Agosto ou Setembro.
Escolhíamos
um local próximo dos balneários, e fazíamos uma “aldeia” com as tendas à volta
e um terreiro no centro, onde passávamos a maior parte do tempo. Chegámos a ter
lá 5 tendas. O meu pai fez uma espécie de portão para se entrar e por cima pôs
um letreiro, Aldeia dos Felizardos, ou lá como era... já não me consigo lembrar
do nome. O curioso é que os outros campistas respeitavam aquela entrada e
ninguém passava por ali. Estávamos completamente isolados do resto dos
campistas.
Os
nossos amigos tinham filhos da mesma idade das minhas filhas, assim a Vina e o
Américo tinham o Paulo e a Sandra, os Teixeiras tinham a Nani, a Vera e o João
Pedro, o Tó e a Cândida tinham o João Carlos e o André ( mais pequeninos) .
Íamos todos os fins de semana para o campismo e o mês de Agosto era todo lá
passado. Amigos e familiares iam visitar-nos, alguns levavam tendas pequenas e ficavam
lá alguns dias.Quando decidíamos fazer caldeirada ou sardinhada ou febras
grelhadas era para todos. Logo pela manhã, muito cedo íamos à praça da Ericeira e comprávamos o que precisávamos. Na Ericeira aproveitávamos para beber café e
comer as célebres “parras” do Salvador, ficávamos ali sentados na esplanada,
lendo o jornal e aproveitando o tempo que ainda tínhamos para depois irmos para o Parque de Campismo.
As manhãs muito frescas, o cacimbo da manhã, o cheiro do mar a maresia, o
cheiro dos pinheiros criavam um ambiente muito muito agradável.
Íamos
a pé, para a praia que fica mesmo em frente do Parque, era uma praia pequena,
rodeada de grandes rochas e com um mar
bastante agitado. Não era vigiada, nem tinha bar. Dizíamos que era uma praia
selvagem. Era frequentada pelos campistas, por isso tinha muito pouca gente. Não
tínhamos medo do mar, as miúdas nadavam o tempo todo, brincavam todos juntos,
estávamos felizes.
Como
ficávamos no Parque de Campismo muitos meses, todos os fins de semana levávamos
alguma coisa que nos estava a fazer lá falta, frigorifico, carpete para o chão
da tenda, cadeiras de campismo, televisão, rádio, etc. etc. ... íamos equipando
a tenda com tudo aquilo que nós precisávamos.
Passámos
momentos muito agradáveis, de verdadeiro convívio e amizade, muito bem
dispostos, muito tranquilos. Os meus pais adoravam ir para lá. A minha mãe ia
num autocarro de Benfica para a Ericeira, para ficar lá mais tempo, nós íamos
buscá-la à Ericeira e depois o meu pai vinha ao fim de semana. Os meus cunhados
também eram visitas frequentes. O meu tio Zé Varela e a família ficaram lá uns
dias e adoraram aquele convívio.
Os
miúdos, os sete e mais alguns que apareciam aos fins de semana, adoravam a
brincadeira. Andavam sempre muito bem dispostos, a brincar pelo parque e a
andar de bicicleta. A Marta era a mais pequenina, mas todos tinham muita
paciência para ela e levavam o tempo todo na brincadeira. À tarde, voltávamos a
ir para a praia ou vestíamos as nossas roupas de verão e íamos passear à
Ericiera.
Como éramos muitos, nunca fazíamos refeições às
horas dos outros campistas. Quando acabávamos de almoçar ou jantar, já os
outros campistas estavam a passear ou a descansar.
Lembro-me
da hora de lavar a louça nos lava-louças do parque. Arranjámos uma caixas de
plástico da fruta, muito grandes e aí
escorríamos a louça. Eu e a minha mãe pagávamos, uma de cada lado e lá íamos nós lavar a louça, era
uma alegria. Tínhamos os lava-louças por nossa conta, falávamos alto,
brincávamos, ríamos. Tudo era uma brincadeira, tudo era divertido, nada nos
aborrecia.
Num
fim de semana, houve uma enorme
trovoada, seguida de chuva torrencial. Estávamos com medo que chovesse
dentro da tenda, mas felizmente isso não aconteceu na nossa tenda. Muitas tendas
do parque ficaram completamente inundadas, os colchões a “nadar” dentro das
tendas, mas a nossa portou-se muito bem. Tínhamos uma cozinha de campismo, onde
cozinhávamos e onde estava o frigorífico. A água corria em regos largos com
muitas agulhas dos pinheiros e paus. Entrou pelo motor do frigorífico que ficou
completamente tapado com tanta coisa. Pensámos que o frigorífico não ia mais
trabalhar, mas não, retirámos a lama, as agulhas dos pinheiros, deixámos secar e
no dia seguinte lá estava ele a trabalhar com toda a força. Era o frigorífico que eu tinha levado no meu casamento, era um Hoover, muito resistente e forte, como já não se fabricam, que comprei através do meu tio Jacinto.
Quando
chegava a hora de desmontar aquilo tudo, era um quebracabeças. O meu pai tinha
uma Ford Transit que ia duas vezes a nossa casa, carregadíssima com tudo o que
nós tínhamos vindo a trazer a pouco e pouco.
Eu e
o Zé desmontávamos a tenda, o que era um trabalho complicadíssimo, pois a tenda
era muito alta e o pano da tenda era enorme. Ficávamos estafados e o Zé que
nunca teve jeito para bricolage, arranjava sempre uma enorme dor de cabeça, de
tanto cansaço e tanto enervamento.
Durante
o inverno, as nossas conversas giravam a volta daqueles meses passados no
campismo. Lembrávamos cenas e situações caricatas e divertidas que nos tinham
acontecido. Os miúdos falavam com saudade das brincadeiras ao ar livre, da
praia e do campismo. No ano seguinte lá estávamos nós outra vez...
Zuzu
Baleiro Junho 2014
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