Não é fácil escrever sobre objectos de estimação, porque
ligado a cada um deles, vêm sempre situações dolorosas que se foram rolando ao
longo do tempo e não me apetece nada remexer em tudo isso.
Vou, por isso, escolher um púcaro de alumínio, já cheio de
amolgadelas, mas que me remete para tempos felizes, sem nunvens.
Associado a ele está a figura da minha tia Palmira que foi um
farol na minha infância.
Era cheia de imaginação, sempre a inventar coisas para a
criançada – eu, o meu irmão e os filhos dela ( três raparigas e um rapaz ).
Como todos nós eramos franzinos, “descobriu” que beber leite de burra seria o
remédio ideal para de “fraquitos” nos tornarmos em crianças robustas. E pôs o
plano em prática: descobriu uma horta no campo, mas não muito longe das nossas
casas, onde havia uma burra e cuja dona concordou em nos receber.
E lá íamos, de manhã muito cedo, cada um com o seu pucarinho,
beber o milagroso leite de burra. Punhamos o pucarinho junto da teta da burra e
a dona ordenhava.
Bebíamos directamente da fonte para não haver contaminações.
Beber o leite não era agradável, mas o passeio estrada fora, as brincadeiras, o
ar puro, as flores que apanhávamos , os vegetais que trazíamos da horta para
serem cozinhados, tudo isso era uma fonte de alegria para nós...
Os passeios para irmos beber o leite terminaram, já não me
lembro porquê, mas o pucarinho ainda hoje me recorda esses dias felizes e
despreocupados.
Estremoz, Junho 2014
Aura Simões
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