Oh meu Jesus adorado
Fecha os teus olhos divinos
Num soninho descansado;
Que a não sermos tu e eu
Todo a gente do povoado,
Desde os velhos aos meninos,
Há muito que adormeceu.
E o Menino Jesus não se dormia ...
Dorme, dorme, dorme agora
(Cantava a Virgem Maria)
Que mal assomou a aurora,
Sentei-me junto ao tear
E por todo o dia fora,
Até que já se não via,
Não deixei de trabalhar!
Mais triste, mais
abatida,
Pedia a Virgem Maria:
Tem pena da minha
vida,
Que se a quero é para
ti...
Vida aflita e dolorida!
Só por ti a viveria
Tão longe de onde
nasci!...
E o Menino Jesus não
se dormia…
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E o Menino Jesus não se dormia…
Tornava Nossa Senhora,
Numa voz mais
consumida:
Dorme, dorme, dorme
agora
E que eu descance
também,
Porque mesmo
adormecida
Vela sempre, a toda a
hora,
No meu peito, o amor
de mãe.
E o Menino Jesus não
se dormia…
Numa voz mais
fatigada,
Tornava a Virgem
Maria:
Dorme pombinha nevada,
Dorme, dorme, dorme
bem ...
Vê que está quase
apagada
A frouxa luz da bugia,
E a voz da Virgem volveu:
Repara no meu olhar,
Vê como ele
entristeceu...
Dorme, dorme, dorme
bem,
Oh alvo lírio do céu!
Olha que estou a
chorar,
— Tem pena da tua mãe!
Nosso Senhor, então,
adormeceu …
|
Do pouco azeite que
tem.
E o Menino Jesus não
se dormia…
Rogava Nossa Senhora:
Modera a tua alegria
...
Não deites a roupa
fora
Do teu leito pequenino
...
Não rias mais. Dorme
agora
E brincarás todo o dia
...
Dorme, dorme, meu
menino.
E o Menino Jesus não
se dormia…
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Poema de Augusto Gil
(1916)
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