OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A MINHA VIAGEM DE SONHO



Na minha adolescência foi sempre minha aspiração viajar e correr mundo. Ai  de mim que as viagens mais frequentes eram até Casa Branca, terra dos meu pais e, lá muito de longe em longe, uma saída até Lisboa, onde o meu irmão estudava.
Foi já depois de casada que consegui ir concretizando o meu sonho.
Viajei muito mais do alguma vez imaginara e posso dizer que conheço a maior parte da Europa e não só. A maior parte das vezes na companhia da minha amiga Aura.
Mas há uma viagem que ficou para mim inesquecível e se sobrepõe a todas as outras. Foi em Agosto de 1978.
Tinha eu na altura um Datsun 1300 muito grande , com um banco corrido na frente e o meu bom amigo Albardeiro logo o cobiçou para irmos dar uma volta por toda a orla marítima de Espanha, saíndo pelo norte de Portugal, passando por Andorra e França. Viajei muito com estes amigos mas estas férias nunca irei esquecer.
Iria eu com as minhas filhas e marido e o João e a Ana.
Já os preparativos eram um gozo adiantado com mapas estendidos na mesa onde iam sendo marcados os itinerários tudo resolvido unicamente pelo chefe que não nos pedia opinião. A Ana veio a minha casa com um qualquer tecido bera e eu fiz-lhe um reduzidíssimo biquini que mal se via quando molhado. Na bagagem tínhamos ordens severas de só incluirmos o absolutamente indispensável, tanto no que tocasse a roupa como para tudo o resto. A Ana apenas levou o seu belo biquini e um ligeiríssimo vestido de alças. Para mim e minhas filhas ainda meti mais uma peça para além do biquini.
A tenda, colchões, fogareiro e talheres foram atados no tejadilho como era costume naqueles tempos. Na frente sentavam-se os homens com um grande saco ao meio com o resto dos pertences e atrás nós quatro. Quando nos sentávamos íamos quase ao colo umas das outras mas, como o calor era muito e viajávamos sempre de biquini, começávamos a suar e lá nos conseguíamos ajeitar.
Tínhamos uma carteira comum que se ia gastando e renovando sempre que necessário, quatro partes para mim duas para eles. Eu e a Ana ficámos encarregadas das compras e refeições, mas o chefe trazia-nos de rédia curta e nunca na minha vida comi tanta salada e latinha de conserva como naqueles dias. Uma vez por outra assávamos umas sardinhas ou grelhávamos carne.  Apanhámos um calor de esturricar e as gaiatas pediam um gelado. Em vão porque só quando ele lá resolvia muito de longe em longe surgia um geladinho para todos. Era dia de festa!
A tenda era daquelas com um quarto e uma arrecadação que ele deixou em casa levando apenas a cobertura.
A montagem da tenda era um espetáculo: ele ficava com os ferros, o Jacinto com o pano eu com as estacas que a Ana ia martelando e as gaiatas acabavam de arrumar colchões e sacos cama. Batemos um honroso recorde de sete minutos ...
Arranjou um mapa dos parques de campismo à beira mar e todas as noites acampávamos num parque diferente.
Como não levávamos mesa nem cadeiras era encostadas ao capot do carro que tomávamos as nossas belas refeições.

Num dos parques quando apanhámos os donos a tomar banho na praia,  apoderámo-nos de mesas e cadeiras e comemos sentados que nem uns lordes...O que nós nos divertimos !
Muitas foram as peripécias desta viagem e não resisto a contar algumas delas.

Ainda em França, em Pons, chegámos tão tarde que já não encontrámos parque de campismo. Uns populares disseram-nos que poderíamos pôr a tenda ao pé do complexo desportivo que ficava um pouco afastado. Noite cerrada, a custo armámos a tenda e, de cansados que estávamos, logo dormimos. Às tantas acordámos muito sobressaltados com um restolhar e conversa de homens. A custo conseguimos calar as minhas filhas e entrámos todos em pânico. Os homens levantaram-se sorrateiramente cada um com seu martelo dispostos a abrir a cabeça aos assaltantes. Chegados lá fora viram um bando de rapazes de viola e algumas cervejas dispostos a passar um  serão  divertido como era costume fazerem frequentemente ali naquele local. Um resto de noite descansados e, ao acordar de manhã, vimos que estávamos num sítio lindíssimo com um largo rio a correr junto de nós. Mas lá estava uma tabuleta para aterrorizar a Lena que dizia : cuidado! enchentes súbitas ! Toda a gente viu que seria no inverno mas, quem a convencia?
O rio era largo e com uma grande corrente mas com pé.  Ao lavar-me deixei cair os dentes. Grande choro, promessa de se fazer nova placa em Barcelona, quando o Albardeiro pondo os seus conhecimentos científicos e a sua persistência ao serviço do próximo, conseguiu o milagre: ao fim de meia hora de porfiados esforços num rio com uma corrente fortíssima e quando todos já haviam desistido há muito trouxe para terra os três destinos que tanta falta faziam à velhota.
Ainda hoje não compreendo como  ele o conseguiu. O leito do rio  tinha milhares de seixos branquinhos e pequeninos. A placa era transparente deixando apenas ver os dentes que eram iguais aos seixos...

A minha Lena andava perdida de amores por um  rapazinho de Lisboa que estava acampado na serra de Gredos , penso que a mais alta de Espanha, 4000 e tal metros. Tanto chateou o João que ele lhe fez a vontade. Chegados lá não me lembro já se encontrámos o rapaz mas esperáva-nos um panorama fantástico e umas cataratas que caíam num lago natural de água límpidas ondas os campistas se banhavam deliciados.

Para reduzir a bagagem não levámos mesa nem cadeiras e era no capot do carro que nos servíamos das nossas saladas. Perto de Valência resolvemos estender uma toalha no chão , não muito limpo ,  como no resto de Espanha e fazermos um piquenique. Mal tínhamos começado a comer vimos vir em nossa direção um manifestação não sei se proibida porque às tantas choviam tiros de todos os lados. Em segundos juntámos os quatro cantos da toalha com tudo lá dentro e em menos de um fósforo metemo-nos no carro e fugimos dali a toda a pressa.

Em Barcelona fomos acampar no parque Calagogo que à data era um dos melhores da Europa. Armámos a tenda debaixo de chuva e debaixo da mesma fomos para a praia tomar banho sob os olhares trocistas dos outros campistas. Mar esplêndido sem ondas e quentinho. De regresso ao parque metemo-nos numas belas piscinas aquecidas de onde só a custo saímos.
Uma surpresa nos aguardava: a água quente do duche era paga e os pelintras ainda que de má vontade lá se foram refrescar com um belo duche de água gelada...

Em Torreblanca saímos para comprar o almoço  e tivemos que esperar por uma enorme procissão que estava a passar. Todas quatro em biquini a ver passar a procissão perante o olhar reprovador de toda aquela gente...

Em Huelva esperáva-nos uma surpresa desagradável. Logo à entrada do parque vimos toda a fachada da receção negra de fogo recente. A ETA lançara ali na véspera uma potente  bomba. Agradecemos o facto do atraso que tivéramos na viagem que nos fez passar por ali um dia depois...

Chegados a Sevilha, feitas as contas ao que sobrara das nossas economias, foi-nos dito pelo "patrão" que iríamos ter um dia inesquecível.
E levou as quatro maltrapilhas a um bom restaurante onde tivemos um almoço de princesas, comodamente sentadas e a ser servidas com toda a deferência por empregados atenciosos.
Mas não se ficou por aqui. À noite levou-nos ao melhor tablado de Sevilha para um serão deslumbrante de bailado flamengo que nunca poderei esquecer.
Só quem tenha passado por uma contenção nas despesas como  nos aconteceu pode imaginar como aquela situação foi para nós como um sonho feito realidade.

Obrigada João por estas e muitas outras vivências que me proporcionaste.
Nunca te esquecerei, amigo.


-Milena Falcato

sábado, 6 de setembro de 2014

A MINHA VIAGEM DE SONHO

Acho que nunca vou fazer a minha viagem de sonho.
Primeiro queria conhecer o meu país de norte a sul, de seguida fretava um avião e ia a Paria visitar Versalhes, assistir no Olimpia a um concerto de Charles Aznavour, sempre gostei muito de o ouvir cantar e é pena que já não se encontre entre nós.
Voltando ao avião, ia a Roma ver os monumentos e visitar o Vaticano, seguia para Milão e assistia à Ópera no Scala, ia a Florença ver as obras dos grandes pintores e a Veneza andar de gondola.
Seguia para Viena de Áustria onde iria assistir ao concerto no Palácio do Imperador e dançar a valsa ao som de uma boa orquestra. De seguida, ia à Holanda ver os campos de tulipas.
Depois desta viagem cultural pela Europa fazia um cruzeiro no Nilo e para terminar ia a Cabo verde dançar a morna.
De seguida, voltava a minha casa para descansar antes da próxima viagem.
Há tanta coisa que eu gostava de visitar!!
Eglantina

AS MINHAS FÉRIAS DE SONHO

A férias associo sempre viagens e todas me encantam - conhecer pessoas e lugares é para mim o supremo dos prazeres. 
Há, contudo, uma que foi um deslumbramento. Quando me reformei, fui à Índia e estive lá mais de um mês. Gente maravilhosa, um mundo que não podemos aferir com os nossos critérios de ocidentais, mas que me fascinou. A nível social contrastes gritantes, não tanto no Estado de Goa, mas noutros pontos da Índia que visitei. Nova Deli e Bombaim chocam um bocado. Sobretudo em Bombaim havia, na altura, 2 milhões de pessoas a viverem praticamente nas rua, nos passeios junto ao hotel mais luxuoso de Bombaim dormiam centenas de pessoas. Comparado com os outros Estados da União Indiana Goa é um paraíso. Nunca esquecerei o pôr-do-sol no Indico, as cores das redes de pesca - azul, anil, laranja, rosa- redes lançadas ao mar e depois puxadas com um esforço enorme e nós a vermos surgirem do mar aquelas cores maravilhosas, só rede, só rede, e lá no meio daquele extensão toda, meia dúzia de peixes que alegravam os olhos daqueles pescadores como se fosse um tesouro.
As feiras são outro mundo que não esquecerei nunca - os cheiros, todas as bugigangas, o sorriso dos vendedores. Estar na praia, e aproximarem-se lentamente uma ou mais vacas, numa comunhão perfeita com todo o ambiente.
Parte da minha estadia foi num aparthotel e outra na casa de uma grande amiga minha que recordo com muita saudade ( pensei sempre voltar à India, mas infelizmente a minha amiga Vera deixou-nos e agora dificilmente lá voltarei )
Em casa da Vera tudo era um deslumbramento, desde os vizinhos que nos tratavam como se fossemos de família, pequenos almoços fabulosos com papaia colhida no quintal da Vera ( nunca mais comi papaias tão saborosas!...) (...) os macacos, para grande arrelia da Vera, pois partiam as telhas do telhado...
Há também um episódio que não posso deixar de relatar e que diz muito da maneira de ser daquele povo. Ao longo de uma semana, tomámos regularmente um autocarro às 6 horas da amanhã num cais em Pangim, e todas as manhãs lá encontrávamos uma rapariga lindissima, de sari de cores lindas, a jogar à bola com os filhos, três miúdos lindos. Achando estranho a hora da brincadeira às 6 horas da manhã, comentei com alguém e fiquei a saber que eram sem abrigo, dormiam ali, acordavam cedo e brincavam alegremente como se vivessem num belo palácio...

77 palavras ( 14 vezes a palavra NÃO)

Não, hoje não faz tanto calor, não me apetece sair de casa. Como era dia da aula de poesia e conto, não podia faltar. Não sabia o que havia de vestir?! não vesti calças de ganga,  não aguentava tanto calor! 
Já ia a meio do caminho, reparei que não trazia óculos escuros, não trazia caneta, não trazia bloco! Mas, não voltei atrás, já estava muito atrasada e não queria chegar tarde. Não é habitual eu chegar tarde!  

São Sebastião, 66 anos, Estremoz

AS FÉRIAS DA MINHA VIDA

Em jovem, com os meus dez, onze anos, comecei a ter umas férias que para mim se tornaram inesquecíveis.
Os meus tios António Alves e Maria Amélia, todos os anos iam passar férias com os filhos para a Serra d'Ossa.
A partir de certa altura, eu e as minhas irmãs começámos a ir com eles. 
Calcula-se a festa, cinco raparigas e um rapaz de idades diversas, mas bastante próximas.
A minha mãe mandava uma empregada connosco para ajudar a da minha tia.
Nós passávamos lá os três meses de Verão, 
íamos no princípio das férias regressando a casa no início das aulas. Desta maneira, tínhamos uma vida de princesas, porque podíamos fazer tudo o que nos apetecesse, pois a minha tia era uma pessoa já muito para a frente, naquela época. 
Não nos proíbia de nada, de maneira que calcorreávamos tudo por aquela serra acima , conforme nos apetecia.
A nossas casa era o Convento, onde hoje é o Hotel de S. Paulo. Os nossos quartos eram as celas dos frades e não raro passavam ratos pelas nossas camas. Calcula-se então a festa que nós fazíamos quando estávamos deitadas.
Tínhamos toda a zona envolvente baptizada.
Era o Lago a que chamávamos de Mãe d'Água, a Fonte do leão, era a Fonte da Saúde e a Fonte das Lágrimas, Pontal dos Lacraus, e a telha, mais tarde Fonte da Telha.
Tomado o pequeno almoço, lá íamos nós explorar tudo em redor: era S. Gens, S. Corvalho, Monte Virgem, Aldeia da Serra... parando mais tempo num pinhal que ficava perto do Convento,  onde passávamos o resto do dia, e aonde nos levavam o almoço, só regressávamos quase à hora do jantar.
Antes de jantar , quase todas as tardes subíamos até S. Corvelha de onde vínhamos cansadíssimos e capazes de banho e devorar tudo o que nos dessem para comer. Neste  tempo, era hábito as famílias irem para a serra, de modo que tínhamos sempre amigos e conhecidos, a maior parte de Évora.
Aos Domingos, tínhamos sempre a visita dos meus primos, irmãos e outros amigos.
Nos ábados à noite, lá íamos nós todos para a aldeia da Serra onde fazíamos bailes no pátio do sr Torgal , na varanda da Josélia ao som do harmónio do Sr Galito que tocava sempre igual, era vira o disco e toca o mesmo!e também de um gramofone antigo muito ronfenho.
Quando regressávamos ao Convento, já vinha tudo cansado porque ainda é um bom esticão!
Quando chegava Setembro, eu e a minha prima Maria Odete tínhamos alguma tristeza por não assistirmos às festas de Estremoz, sonhávamos que ouvíamos os foguetes, mas depois lá passava.
Não quero dizer que não tenha passado algumas férias agradáveis com a  família de depois formei, o meu marido e os meus filhos, mas estas férias que acabo de descrever nunca me saem da cabeça.
Há uns anos atrás fui de visita ao Convento de São Paulo, hoje hotel, e fiquei encantada e muito feliz por rever alguns dos sítios onde passei as melhores férias da minha vida

Adélia Alves Rebocho

Serra com o pico mais alto a 653 metros de altitude, situada entre Estremoz e o Redondo. Possui grande variedade de plantas e animais, como, por exemplo, a planta insetívora chamada orvalho-do-sol. Apesar da imensa plantação de eucaliptos que conheceu na década de 50 e após ter ardido, em 2003, continua a ser o pulmão de vários concelhos do Alentejo. É também o local onde se encontra, desde, 1182, o Convento de São Paulo.

DUAS MELGAS À CONVERSA

Era verão. A tarde estava bastante quente.
Sentei-me à sombra de uma parede velha e esburacada e pareceu-me ouvir conversa.
Apurei o ouvido e fui andando até ao sítio de onde vinha o som.
E com o que é que eu fui dar?
Com duas melgas que já não estavam lá muito satisfeitas uma com a outra, apesar de serem comadres.
Por sinal, uma era muito gorda e a outra era mesmo muito escanzelada. Dizia a magra:
- Oh Comadre, tu estás cada vez mais gorda, pareces uma bola, qualquer dia não te podes mexer, nem sequer voar!
-E tu? - diz a comadre gorda - estás tão esticadinha que daqui a pouco desapareces!
A magrinha, olhando-se toda vaidosa e já um pouco zangada, respondeu:
 - Pois é, tu só gostas de tirar o sangue àquelas senhoras todas anafadas que só se alimentam de bons bifes, batatas fritas , ovos estrelados e muitos doces! Qualquer dia ouve-se  - PUM! e dizem as tuas amigas: Foi a gorda que rebentou!!
E continuou dizendo: - Fazes uma alimentação errada ao aterrares só nos gordos, enquanto eu, que só pouso nos nobres de sangue azul, eu mantenho-me sempre elegante. Até estou a pensar fazer uma passagem de modelos com as minhas asas todas enfeitadas. E vou dizer-te um segredo: Sangue azul não engorda, pois eles têm uma alimentação cuidada e fazem grandes dietas, andam sempre em Spas e nas festas dos croquetes. São os chamado Get Set. Se quiseres eu ensino-te onde eles estão, e começas já a beber-lhe o sangue, vais ver que num instante ficas elegante como eu.!!
A gorda aproveitou o conselho e dentro de pouco tempo parecia gémea da comadre, tal era a elegância que conseguiu alcançar!
Daí em diante, as duas comadres nunca mais discutiram por causa da elegância, pois sabiam bem onde deviam pousar...

Adélia Rebocho   11/6/2014

77 PALAVRAS ( 14 vezes a palavra não)

Não gosto de dias cinzentos, tristes. Dias assim não alegram. Logo pela manhã, não apetece levantar. Que é que vou fazer num dia sem sol? Não sei!
Apesar de não me apetecer, levanto-me.
Tomo banho, arranjo-me, em seguida saio, tenho que fazer compras. Não tenho pão, não tenho queijo, não tenho manteiga, não tenho leite, não tenho nada para comer.
Não encontro ninguém, não falo.
Afinal não tomo pequeno-almoço; Vou ler um livro que não acabei!!

Adélia Alves, 79 anos

77 PALAVRAS SEM A LETRA A

Hoje vou ler um livro que me ofereceu o meu filho. É um belo livro que se lê com muito gozo, pois nele se vê onde é que se pode ir com muito pouco esforço, pois o herói, do mesmo, conseguiu ir de encontro do que sempre desejou. Foi o primeiro homem que correu o mundo inteiro e ficou no Guiness,  com muito desejo de vencer no mundo de modelo . Começou com pouco e findou com muito. 

Adélia Rebocho  79 anos

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

ACADEMIA SÉNIOR DE ESTREMOZ

 Ouvia falar à minha irmã mais velha e a algumas amigas, na Universidade Sénior que frequentavam e sentia grande desejo que em Estremoz houvesse uma coisa igual. Mas nem em Évora, cidade de tradição universitária, ainda tinha sido criada. Muitas foram as vezes em que falei com o meu amigo Abílio, presidente da Câmara, a pedir-lhe que abrisse em Évora uma Universidade para os velhotes. Estava tão interessada que me deslocaria até lá para frequentar as aulas.
Foi durante  a presidência do Alberto Fateixa que finalmente foi criada a Academia Sénior de Estremoz, honra lhe seja feita.
Ainda hoje não sei o porquê de não ser Universidade. Seja como for, ao contrário de todas de que tenho conhecimento, aqui não se paga nada e os professores são voluntários. Funciona no Centro Cultural Dr Marques Crespo  onde ocupa 4 salas para além do auditório onde são dadas as aulas de Ginástica e Canto.
Fui das primeiras pessoas a inscrever-se e em todas as disciplinas que já estavam asseguradas e noutras que eram apenas mera hipótese.
Foi das melhores coisas que me aconteceram.
Sou feliz  aqui, com o são convívio entre nós e com todas as aprendizagens que vou fazendo.
Tenho aulas de Inglês, Cultura, Poesia e Conto, Bordados e Trapologia, Computadores, Teatro, Ginástica e Pintura.
Ainda andei na Dança e no Canto mas tive de desistir por não ter as condições físicas requeridas. Este ano não houve aulas de Inglês por não haver professor disponível.
Eu própria ainda dei Alfabetização e Português, mas as alunas começaram a faltar por razões de saúde delas e dos familiares e, por enquanto, estamos paradas.
Temos uma biblioteca com perto de 300 volumes,  oferta de amigos e professores da Academia. Ainda não está a funcionar talvez por negligência minha e da Aura que ainda não acabámos a catalogação.
No verão passado aproveitámos a sala para nos reunirmos para a "hora do tricot". Para além de tricotarmos bebíamos o chá acompanhado por bolinhos que levávamos. Enfim aproveitamos todos os pretestos para estarmos juntas e passarmos bem o tempo...
Há dez ou onze anos que abriu a Academia e tenho adorado aqui andar.
Tanta gente interessante que conheci e de quem fiquei amiga!
O convívio nas aulas, o muito que aprendi nas várias disciplinas, os trabalhos que produzi em várias áreas, principalmente na Pintura,  Bordados e Internet.
Todos os anos expomos as nossas obras que são sempre muito apreciadas.
Na aula de Poesia e Conto da Zuzu, depois de lermos alguns contos e muita poesia, foi-nos sugerido lançarmo-nos na aventura da escrita criativa.
Tendo como base o livro de Pedro Sena-Lino, "A minha vida num livro", pusemos mãos à obra e todas descobrimos em nós alguns dotes para a escrita que não pensávamos ter.
Perdemos o medo de nos expormos publicamente, contando factos da nossa vida particular, que estavam esquecidas em algum recôndito da nossa memória   e que aí ficariam para sempre.
Temos duas ou três poetisas de serviço que nos têm deliciado com os seus belos poemas.
Escrevo os meus textos no iPad e muitas vezes apagavam-se sem compreender porquê.
Foi quando o meu neto João me deu a ideia de os publicar no facebook porque ali não se perderiam. A princípio não aceitei lá muito bem a ideia,  ainda mais quando na privacidade marcou 'só para amigos'. Ora, pelo menos na minha página, "amigos",  para além dos propriamente ditos, são toda uma multidão de conhecidos ou mesmo completamente desconhecidos. O erro deve ser meu e da minha fraca apetência para trabalhar nestas coisas...
Um resultado tirei no facebook:  a minha família tem-me agradecido a publicação das estórias, algumas delas desconhecidas da grande maioria.
Também alguns amigos têm feito o favor de deixar comentários que muito agradeço.
Continuo a escrever mas nem tudo publico. Penso que são coisas muito particulares que não interessam a mais ninguém como alguém me disse há dias.
Mesmo não concordando muito com essa pessoa, fiquei um pouco alerta... ( essas pessoas são complexadas e não têm coragem de escrever ,muito menos de expor o que escrevem e são más conselheiras ( disse a Zuzu)
Gosto muito das aulas de Cultura dadas pelo professor Mateus. Muitas das várias matérias brilhantemente preparadas pelo professor deram lugar a ótimos passeios de estudo.
Presentemente foi-nos proposto sermos nós os alunos a preparar a aula talvez também para descanso do professor que anda cheio de trabalho.
A pesquisa é sobre o azulejo em Estremoz. Formaram-se vários grupos e foram distribuídos os locais onde cada estudo recairia. Saíram trabalhos muito interessantes que foram apresentados em diversos suportes: em papel, em slides, em PowerPoint,  etc.
Calhou-me a mim fazer o estudo da azulajeria nos conventos e trabalhar com o colega Joaquim Correia.
Ainda fiz uma pequena pesquisa na internet que pouco resultou e não consegui encontrar-me com o colega. Felizmente chegou-se à conclusão que este tema se sobrepunha a outros já trabalhados. Juntei-me então com a Neida e vamos fotografar e documentarmos-nos sobre os azulejos existentes na Igreja dos Mártires, na Igreja da Nossa Senhora da Conceição e mais outra pequena  igreja existente no Castelo e da qual não sei o nome. Por enquanto ainda não nos reunimos para começar...
Está combinado um passeio ao Museu do Azulejo em data ainda a marcar por indisponibilidade do autocarro da Câmara.
O professor tem em vista produzir um livro com o resultado de todos os trabalhos.
Também gosto muito das aulas de teatro com a Luz. Tem experimentado connosco opções de ambientes que compõem os espetáculos que temos apresentado. Tem gostado da disponibilidade que tem encontrado em todas nós e que talvez não fosse possível encontrar em artistas profissionais com quem trabalha.
No dia  28 de Março estivemos em Alandroal onde fomos muito bem recebidos.
Em Julho apresentámo-nos por duas vezes em Estremoz. Já fomos a Évora, Redondo, Mourão e umas seis vezes em Estremoz. Temos sido muito aplaudidos em todas as nossas saídas. No nosso livro temos mensagens muito lisonjeiras de pessoas que têm assistido às nossas "performances".
O próximo "espetáculo" será muito provavelmente no Garcia de Resende em Évora. Viva o luxo!!!
E tem sido assim que tenho preenchido ultimamente a minha vida a fazer coisas que me dão muito prazer, que me obrigam a sair de casa todos os dias apesar de todas as dores que me atormentam.



-Milena Falcato