OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
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sábado, 16 de novembro de 2013

HISTÓRIA DA CAROCHINHA

Era uma vez uma carochinha que andava a varrer a casinha e achou cinco réis e foi logo ter com uma vizinha e perguntou-lhe: “Oh vizinha, que hei-de eu fazer a estes cinco réis?”
Respondeu-lhe a vizinha: “ Compra doces!”
Nada, nada, que é lambarice!” – respondeu a carochinha
Foi ter com outra vizinha e ela disse-lhe o mesmo; depois foi ter com outra que lhe disse:” Compra fitas,flores,braceletes e brincos, vai-te pôr à janela e diz: "Quem quer   casar com a carochinha, que é bonita e perfeitinha?”
Foi a carochinha comprar muitas fitas, rendas, flores, braceletes de ouro e brincos; enfeitou-se muito enfeitada e foi-se pôr à janela, dizendo:
“Quem quer casar com a carochinha,
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um boi e disse:” Quero eu!”
Como é a tua fala?” –perguntou a carochinha
“Ummm, Ummmm, Ummmmmm” – Mugiu o boi.
“ Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite” – disse a carochinha
O boi foi-se embora. Depois a carochinha tornou outra vez  dizer:
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um burro e disse: “Quero eu, quero eu!”
Como é a tua fala? – perguntou a carochinha
“Em ...ó...em....ó...em....ó...” - zurrou o burro
“Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite!” – disse a carochinha
E o burro foi-se embora.
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Depois passou um porco e a carochinha disse-lhe: - “Deixa-me ouvir a tua fala!”
 “Onnnnn, onnnnn, onnnn” -  grunhiu o porco
“Nada, nada, não me serves que me acordas os meninos de noite.”
E o porco foi-se embora.
Passou um cão e a carochinha disse-lhe: “Deixa-me ouvir a tua fala?
“Béu, béu, béu” – ladrou o cão
“Nada, nada, não me serves que me acordas os meninos de noite!”
E o cão foi-se embora.
Passou um gato, e a carochinha disse-lhe:- ” Deixa-me ouvir a tua fala?”
“Miau, miau, miau” – respondeu o gato
“Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos à noite!” – respondeu a carochinha.
O gato foi-se embora. A carochinha já estava muito triste por não encontrar com quem casar. Pôs-se de novo à janela a dizer:
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um rato e disse : - “Quero eu!”A carochinha perguntou-lhe: “ Como é a tua fala?”
“Chi, chi, chi” – respondeu o rato.
“Tu sim, tu sim, quero casar contigo!” – disse a carochinha muito contente.
Então o ratinho casou com a carochinha e ficou-se chamando João Ratão. Viveram alguns dias muito felizes, mas tendo chegado o Domingo, a Carochinha disse ao João Ratão que ficasse ele a tomar conta na panela que estava ao lume a cozer a sopa, enquanto ela ia à missa.
O João Ratão foi para junto do lume para ver se a sopa estava cozida, meteu a mãe na panela e ficou-lhe lá. Meteu a outra; também lá ficou; meteu-lhe um pé; sucedeu-lhe o mesmo e sem ele dar por isso deu um trambolhão para dentro do caldeirão. E ficou cozido no caldeirão.
Voltou a carochinha da missa e como não visse o João Ratão procurou por todos os buracos e não o encontrou, e disse para consigo: “Ele virá quando quiser, deixa-me ir comer a minha sopa!” . Mas ao deitar a sopa no prato encontrou o João Ratão dentro da panela, morto e cozido.
A carochinha começou a chorar em altos gritos e uma tripeça que ela tinha em casa perguntou-lhe:
Que tens carochinha,
Que estás a chorar?

Morreu o João Ratão
E por isso estou a chorar.

E eu que sou tripeça
Ponho-me a chorar.

 Diz dali uma porta:
 Que tens tu, tripeça
Que estás a dançar?
Morreu o João Ratão
Carochinha está a chorar.
E eu que sou tripeça
Pus-me a dançar.
E eu que sou porta
Ponho-me a abrir e a fechar.

Diz dali uma trave:
 Que tens tu, porta,
Que estás a abrir e a fechar?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
 E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar.
E eu que sou trave
Quebro-me.

Diz dali um pinheiro:
 Que tens, trave,
Que te quebraste?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
 E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar,
E eu quebrei-me.
E eu que sou pinheiro
Arranco-me.

Vieram os passarinhos para descansar no pinheiro e viram-no arrancado e disseram:

Que tens, pinheiro,
Que estás no chão?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
E eu arranquei-me.
E nós que somos passarinhos
Vamos tirar os olhinhos.

Os passarinhos tiraram os olhinhos, e depois foram á fonte beber água. E diz-lhe a fonte:

Porque foi passarinhos,
Que tirastes os olhinhos?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
O pinheiro arrancou-se,
E nós passarinhos,
Tirámos os olhinhos
E eu que sou fonte
Seco-me

Vieram os meninos do rei com os seus cantarinhos para levarem água da fonte e acharam-na seca e disseram:

Que tens fonte,
Que secaste?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
Atripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
 E eu sequei-me.
E nós quebramos os cantarinhos.

E foram os meninos para o palácio e a rainha perguntou-lhes:

Que tendes meninos,
 Que quebrastes os cantarinhos?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
 A fonte secou-se.
E nós quebramos os cantarinhos.
Pois eu que sou rainha
Andarei em fralda pela cozinha.

Diz dali o rei:
E eu vou arrastar o cu
Pelas brasas....
(Versão de Coimbra)


Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Ed. Leya (Pág. 43-47)









A FORMIGA E A NEVE

Uma formiga prendeu o pé na neve.
 Disse a formiga:: “Oh neve, tu és tão forte que o meu pé prendes!”
Responde a neve: “ Tão forte sou eu que o Sol me derrete”
Disse a formiga: “ Oh Sol tu és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende!”
Responde o Sol:” Tão forte sou eu que a parede me impede!”
Disse a formiga: “Oh parede tu és tão forte que impedes o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde a parede:” Tão forte sou eu que o rato me fura!”
Disse a formiga: “Oh rato tu és tão forte que furas a parede que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
“Responde o rato:” Tão forte sou eu, que o gato me come!”
Disse a formiga: “Oh gato tu és tão forte que comes o rato, que fura a parede que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o gato:”Tão forte sou eu, que o cão me morde!”
Disse a formiga: “Oh cão, tu és tão forte que mordes o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o cão:” Tão forte sou eu que o pau me bate!”
Disse a formiga: “Oh pau tu és tão forte que bates no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o pau: “ Tão forte sou eu, que o lume me queima!”
Disse a formiga: “Oh lume, tu és tão forte que queimas o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o lume:”Tão forte sou eu que a água me apaga!”
Disse a formiga: “Oh água, tu és tão forte que apagas o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde a água: “ Tão forte sou eu que o boi me bebe!”
Disse a formiga: “Oh boi, tu és tão forte que bebes a água, que apaga o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o boi:” Tão forte sou eu que o carniceiro me mata!”
Disse a formiga: “Oh carniceiro, tu és tão forte que matas o boi, que bebe a água, que apaga o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o carniceiro: “ Tão forte sou eu, que a morte me leva!”



Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Ed. Leya,  (pág 48-49)

O MACACO E A ROMÃZEIRA

Era uma vez um macaco que estava em cima de uma oliveira a comer uma romã; sucedeu que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e, passado pouco tempo, nasceu uma romãzeira.
Quando o macaco viu a romãzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e disse-lhe:
“Arranca a tua oliveira para crescer a minha romãzeira!”
Responde o homem: “Não estou para isso!”
Foi-se o macaco ter com a justiça e disse-lhe: “Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira para crescer a minha romãzeira!”
Responde a justiça: “ Não estou para isso!”
Foi-se o macaco ter com o rei e disse-lhe:”Rei, tira a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o rei: “ Não estou para isso!”
Foi o macaco ter com a rainha: “ Rainha, põe-te mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde a rainha: “ Não estou para isso!”
Foi-se ter com o rato:”Rato, rói as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o rato: “Não estou para isso!”
Foi ter com o gato: “ Oh gato, come o rato, para ele roer as camisas à rainha para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o gato:”Não estou para isso!”
Foi-se ter com o cão:”Oh cão, morde o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o cão:” Não estou para isso!”
Foi ao pau e disse-lhe: Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o pau:”Não estou para isso!”
Foi ter com o lume: “Oh lume, queima o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
“Responde o lume: “ Não estou para isso!”
Foi ter com a água:”Oh água, apaga o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
A água responde: “ Não estou para isso!”
Foi ter com o boi: “Oh boi, bebe a água para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
O boi responde: “Não estou para isso!”
Foi ter com o carniceiro: “ Oh carniceiro, mata o boi para ele beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o carniceiro: “ Não estou para isso!”
Foi ter com a morte:” Oh morte, leva o carniceiro, para ele matar o boi, para ele beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
A morte disse que sim. A morte ia levar o carniceiro e ele disse:lhe: “Não me leves que eu mato o boi!”
Disse o boi: “Não me mates que eu bebo a água!”
Disse a água:”Não me bebas que eu apago o lume!”
Disse o lume:” Não me apagues que eu queimo o pau!”
Disse o pau: “Não me queimes que eu bato no cão!”
Disse o cão:”Não me batas que eu mato o gato!”
Disse o gato:Não me mordas que eu como o rato!”
Disse o rato:” Não me comas que eu roo as camisas à rainha!”
Disse a rainha: “ Não me roas as camisas que eu ponho-me de mal com o rei!”
Disse o rei:”Não te ponhas de mal comigo que eu tiro a vara à justiça!”
Disse a justiça: “ Rei não me tires a vara que eu prendo o homem!”
Disse o homem: “Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira!”
E o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romãzeira.

Contos Populares Português, Adolfo Coelho, Ed Leya, (pág.53-54






O COELHINHO BRANCO

Era uma vez
Um coelhinho
Que foi à sua horta
Buscar couves
Para fazer um caldinho.

Quando o coelhinho branco voltou para casa depois de vir da horta, chegou à porta e achou-a fechada por dentro; bateu e perguntaram-lhe de dentro: “Quem é?”

O coelhinho respondeu:
Sou o coelhinho
Que venho da horta
E vou fazer um caldinho.

Responderam-lhe de dentro:
E eu sou a cabra cabrez
Que te salto em cima
E te faço em três.

Foi-se o coelhinho por aí fora muito triste e encontrou um boi e disse-lhe:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde o boi: “ Eu não vou lá que tenho medo!”
Foi o coelhinho andando e encontrou um cão e disse-lhe:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde o cão: “ Eu não vou lá que tenho medo!”. Foi mais adiante o coelhinho e encontrou o galo, a quem disse também:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde o galo:”Eu não vou lá que tenho medo!” Foi-se o coelhinho muito mais triste, já sem esperanças de poder voltar para casa, quando encontrou uma formiga que lhe perguntou: “Que tens tu coelhinho?”
Eu vinha da horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde a formiga: “ Eu vou lá e veremos como isso há-de ser”. Foram os dois e bateram à porta; diz-lhe a cabra cabrês lá de dentro:
Aqui ninguém entra
Está cá a cabra cabrês
Que lhe salta em cima
E os faz em três.

Responde a formiga:
Eu sou a formiga rabiga,
Que te tiro as tripas
E furo a barriga.

Dito isto, a formiga entrou pelo buraco da fechadura, matou a cabra cabrez, abriu a porta ao coelhinho, foram fazer o caldinho e ficaram vivendo juntos, o coelhinho branco e a formiga rabiga.


Fim





Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Leya,S.A (pág.50-52)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OS DEZ ANÕEZINHOS DA TIA VERDE-ÁGUA

Era uma mulher casada, mas que se dava muito mal com o marido, porque não trabalhava nem tinha ordem no governo da casa; começava uma coisa e logo passava para outra, tudo ficava em meio, de maneira que quando o marido vinha para casa nem tinha o jantar feito, e à noite nem água para lavar os pés nem a cama arranjada. As coisas foram assim, até que o homem lhe a ralhar e a bater, e ela a passar muito má vida. A mulher andava triste por o homem lhe bater, e tinha uma vizinha a quem se foi queixar. Era mulher idosa e muito sábia, e  dizia-se que as fadas a ajudavam. Chamavam-lhe a Tia Verde-Água:
– Ai, Tia! vocemecê é que me podia valer nesta aflição.
– Pois sim, filha; eu tenho dez anõezinhos muito trabalhadores, e mando-tos para tua casa para te ajudarem.
E a velha começou a explicar-lhe o que devia fazer para que os dez anõezinhos a ajudassem:
- que quando pela manhã se levantasse fizesse logo a cama, em seguida acendesse o lume; depois enchesse o cântaro de água, varresse a casa, remendasse a roupa, e no intervalo em  que cozinhasse o jantar fosse dobando as suas meadas, até o marido chegar. Foi-lhe assim indicando o que havia de fazer, que em tudo isto seria ajudada, sem ela o sentir, pelos dez anõezinhos.
A mulher assim o fez, e se bem o fez melhor lhe saiu. Logo à boca da noite foi a casa da Tia Verde-Água agradecer-lhe o ter-lhe mandado os dez anõezinhos, que ela não viu  nem sentiu, mas o trabalho lhe tinha corrido como por encanto.
Foram-se assim passando as coisas, e o marido estava pasmado por ver a mulher tornar-se tão arranjadeira e asseada;
Ao fim de oito dias, ele não se conteve que não lhe dissesse como ela estava outra mulher, e que assim viveriam como Deus com os anjos. A mulher contente por se ver agora feliz, e mesmo porque o ordenado chegava para todo o mês, vai a casa da Tia Verde-Água agradecer-lhe o favor que lhe fez:
– Ai, minha Tia, os seus dez anõezinhos fizeram-me um servição; trago agora tudo arranjado, e o meu homem anda muito meu amigo. O que lhe eu pedia agora é que mos deixasse lá ficar.
A velha respondeu-lhe:
– Deixo, deixo. Pois tu ainda não viste os dez anõezinhos?
– Ainda não; o que eu queria era vê-los.
– Não sejas tola; se tu queres vê-los olha para as tuas mãos, e os teus dedos é que são os dez anõezinhos.

A mulher compreendeu a lição, e foi para casa satisfeita consigo por saber como é que se faz  um bom trabalho. 

COMO A COMIDA QUER O SAL

Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga.
A mais velha respondeu:  – Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:  – Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais nova respondeu:  – Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova  não o amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio.
 Ela foi muito triste por esse mundo fora, e chegou ao palácio de um rei.Aí  ofereceu-se para ser cozinheira. Um dia veio à mesa uma empada de galinha muito bem feita, e o rei ao parti-la achou dentro um anel muito pequeno  e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando de dedo em dedo, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei, seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não pôs sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia?
 Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se muito zangado e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha posto sal na comida daquele convidado. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.



FIM

HISTÓRIA DE JOÃO GRILO

Havia um rapaz chamado João Grilo, que era muito pobrezinho.
Os pais queriam a todo o custo casá-lo rico, apesar da sua pobreza e falta de estudos.
Um dia, espalhou-se por toda a terra que tinham desaparecido as jóias de uma princesa e que o rei seu pai daria a mão da princesa a quem descobrisse o autor do roubo; mas também castigaria com a morte todo aquele que se fosse apresentar e que no fim de três dias não descobrisse o ladrão.
Começaram os pais de João Grilo a meter-lhe na cabeça que fosse tentar fortuna, mas o rapaz não queria, pois sabia que alguns tinham sido mortos por não descobrirem as jóias.
Enfim, tanto o atentaram que o João Grilo se foi apresentar ao rei.
Os guardas do palácio não o queriam deixar entrar por o verem muito mal vestido e roto, e começaram a escarnecer dele,  dizendo-lhe que ele era doido e outras coisas assim...
Por fim, lá o deixaram entrar.
O rei e a princesa também se riram muito dele, mas não tiveram remédio senão cumprir a sua palavra.
Meteram-no num quarto e deram-lhe três dias para pensar.
Ia só um criado dar-lhe de comer; e à noite, quando esse criado lhe perguntou se queria mais alguma coisa, ele respondeu que não, e ao mesmo tempo, dando um suspiro, disse: - Já lá vai um!
O criado saiu muito atrapalhado e foi ter com os outros dois criados, a quem contou as palavras que o João Grilo tinha dito.
Estes três criados eram justamente os que tinham roubado as jóias da princesa e julgaram que o João Grilo tinha conhecido um dos ladrões e por isso tinha dito: - Já lá vai um!
Enganavam-se, porque ele se tinha referido a que já lá ia um dia, e ele ia caminhando para a forca.
Os criados combinaram que no dia seguinte iria outro, para ver se o João Grilo também o conhecia.
Assim fez; e à noite, quando perguntou se queria mais alguma coisa, respondeu João Grilo que não e repetiu: - Já lá vão dois!
O criado ficou assustadíssimo e foi logo contar aos outros. Imagine-se  como eles ficaram.
No dia seguinte foi o outro, e quando à noite se despediu para se ir embora, diz o João Grilo: - Está pronto: já lá vão os três.
O criado, julgando que estava tudo descoberto, deita-se aos pés do João Grilo e diz-lhe:
- É verdade, senhor, fomos nós os três, mas peço-lhe por tudo quanto há, que não diga nada ao rei que somos nós os ladrões, porque ficaríamos desgraçados. Nós damos as jóias todas, mas há-de ser com a condição de que não há-de dizer nada.
Joaõ Grilo caiu das nuvens, mas fingiu que efetivamente tinha adivinhado.
Prometeu ao criado que não diria nada e mandou-lhe buscar as jóias, que ele trouxe logo.
Como tinham acabado os três dias, o rei mandou chamar o João Grilo e perguntou-lhe:
- Então já descobriste o ladrão?
-Saiba Vossa Majestade que sim senhor! – respondeu João Grilo
O rei riu-se muito, julgando que o rapaz era doido, mas ele apresentou-lhe as jóias, sem dizer quem tinha sido o ladrão.
Imagine-se como ficou a princesa, vendo que tinha de casar com aquele maltrapilho! Chorou muito e pediu ao pai que não a casasse com aquele homem, mas o rei dizia-lhe que palavra de rei não volta atrás e que era forçoso que eles se casassem.
A princesa não teve outro remédio senão conformar-se; mas o João Grilo, que tinha bom coração, vendo a repugnância dela, disse que desistia do casamento.
O rei gostou muito dessa atitude e disse-lhe que pedisse o que quisesse, que ele tudo lhe daria.
João Grilo só pediu para ficar no palácio.
O rei concordou e deu-lhe muitos sacos de dinheiro.
Ficou o rapaz no palácio, e o rei julgava-o adivinhão.
Um dia, o rei apanhou um grilo no jardim; fechou-o na mão e chamou o João Grilo.
Veio o rapaz e o rei perguntou-lhe: - Oh João, adivinha lá o que eu tenho fechado nesta mão?
O rapaz coitado, começa a coçar a cabeça e a dizer: - Ai! Grilo, Grilo, em que mãos estás metido!!
O rei julgando que ele se referia ao grilo que ele tinha fechado na mão dele, ficou muito contente, e disse: - Adivinhaste, adivinhaste, é um grilo! E deu-lhe muito dinheiro.
Outro dia, encontrou o rabo de uma porca, que tinham morto e enterrado no quintal.
Chamou o João Grilo e perguntou-lhe: - Oh João, adivinha lá o que está aqui enterrado?
O pobre João Grilo, não sabendo o que havia de fazer à sua vida, começa a dizer: - Aqui é que a porca torce o rabo!
O rei abraça-o muito contente, e diz: - Adivinhaste, adivinhaste, é o rabo de uma porca! E deu-lhe mais dinheiro.
O rapaz vendo-se rico e temendo que não adivinhasse mais alguma coisa, ou para melhor dizer, que o acaso não o favorecesse, escreveu uma carta, fingindo ser a mãe, a pedir que fosse imediatamente para casa, porque ela estava muito doente.
O rei custou-lhe muito a saída dele do palácio, mas não teve outro remédio senão deixá-lo ir.
Despediram-se. O rapaz montou o cavalo e, quando já ia longe, o rei apanhou caganitas de cabra que estavam no chão, meteu-as no lenço e começa a dizer-lhe adeus com o lenço.
O rapaz que ia já longe e estava farto do rei, disse-lhe adeus, dizendo: - Adeus, adeus, caganitas para Vossa Majestade!!!
O rei ficou muito contente, e dizia: - Aquilo é que é um rapaz esperto! Como ele adivinhou que eu tinha caganitas no lenço!
E o rapaz foi para casa dos pais, estava muito rico e assim se viu livre do rei.
Contos Populares Portugueses
Consiglieri Pedroso
Editora Vega