OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

quarta-feira, 25 de junho de 2014

DOCE AMÉLIA


Quis fazer-te uma poesia
Lindas palavras diria
Mas não tive inspiração.
E por mais simples que fosse
O coração só me trouxe
Por ti, grande admiração.

Implorei com sentimento
Palavras vindas do vento
Pr’aquela mulher formosa.
Apesar da sua idade
Guarda ainda mocidade
E é linda como uma rosa.

Qu’importa os cabelos brancos
Olha! Não são assim tantos
E as rugas que o rosto tem.
Só tens é que ter vaidade
Pois tiveste a felicidade
De seres mulher e seres mãe.

Não tenhas pena Amelinha
De já não seres garotinha
Como ainda querias ser.
O tempo passa e não pára
E a gente nunca repara
Que a vida é água a correr.

Com amor  Lúcia Cóias

Estremoz,  25 Junho 2014

AS FÉRIAS NA ERICEIRA

Alguns anos após o 25 de Abril, deu-se o boom  do campismo. Toda a gente fazia campismo. Ia-se à Nauticampo comprar tendas e autocaravanas. A Feira era muito concorrida, havia gente por todos os lados, vendo e apreciando as tendas, casas em miniatura que nos levavam a sonhar com férias baratas,  em contacto directo com a natureza.
O Zé não estava nada entusiasmado, mas como tínhamos alguns amigos que eram uns entusiastas do campismo, lá fomos nós à Nauticampo comprar uma tenda. Vimos uma montada que era uma casa autêntica, podia-se andar lá em pé, os quartos ficavam um de cada lado da tenda e ao meio tinha uma sala, ao fundo era o quarto dos meus pais!
Levámos aquela. Nem nos preocupámos em saber se a conseguiríamos montar!!? Lá fomos nós, felizes e contentes carregados com dois sacos enormes, um da tenda e o outro dos ferros!
Os nossos amigos iam montar a tenda no Parque de Campismo da Ericeira, que tinha sido inaugurado há muito pouco tempo, e nós também fomos com eles. O Parque abria no dia 1 de Junho e podíamos montar lá as tendas até Setembro. Assim fizemos durante 4 anos. Montávamos a tenda e só a tirávamos de lá no final de Agosto ou  Setembro.
Escolhíamos um local próximo dos balneários, e fazíamos uma “aldeia” com as tendas à volta e um terreiro no centro, onde passávamos a maior parte do tempo. Chegámos a ter lá 5 tendas. O meu pai fez uma espécie de portão para se entrar e por cima pôs um letreiro, Aldeia dos Felizardos, ou lá como era... já não me consigo lembrar do nome. O curioso é que os outros campistas respeitavam aquela entrada e ninguém passava por ali. Estávamos completamente isolados do resto dos campistas.
Os nossos amigos tinham filhos da mesma idade das minhas filhas, assim a Vina e o Américo tinham o Paulo e a Sandra, os Teixeiras tinham a Nani, a Vera e o João Pedro, o Tó e a Cândida tinham o João Carlos e o André ( mais pequeninos) . Íamos todos os fins de semana para o campismo e o mês de Agosto era todo lá passado. Amigos e familiares iavisitar-nos, alguns levavam tendas pequenas e ficavam lá alguns dias.Quando decidíamos fazer caldeirada ou sardinhada ou febras grelhadas era para todos. Logo pela manhã, muito cedo íamos à praça da Ericeira e comprávamos o que precisávamos. Na Ericeira aproveitávamos para beber café e comer as célebres “parras” do Salvador, ficávamos ali sentados na esplanada, lendo o jornal e aproveitando o tempo que ainda tínhamos  para depois irmos para o Parque de Campismo. As manhãs muito frescas, o cacimbo da manhã, o cheiro do mar a maresia, o cheiro dos pinheiros criavam um ambiente muito muito agradável.
Íamos a pé, para a praia que fica mesmo em frente do Parque, era uma praia pequena, rodeada  de grandes rochas e com um mar bastante agitado. Não era vigiada, nem tinha bar. Dizíamos que era uma praia selvagem. Era frequentada pelos campistas, por isso tinha muito pouca gente. Não tínhamos medo do mar, as miúdas nadavam o tempo todo, brincavam todos juntos, estávamos felizes.
Como ficávamos no Parque de Campismo muitos meses, todos os fins de semana levávamos alguma coisa que nos estava a fazer lá falta, frigorifico, carpete para o chão da tenda, cadeiras de campismo, televisão, rádio, etc. etc. ... íamos equipando a tenda com tudo aquilo que nós precisávamos.
Passámos momentos muito agradáveis, de verdadeiro convívio e amizade, muito bem dispostos, muito tranquilos. Os meus pais adoravam ir para lá. A minha mãe ia num autocarro de Benfica para a Ericeira, para ficar lá mais tempo, nós íamos buscá-la à Ericeira e depois o meu pai vinha ao fim de semana. Os meus cunhados também eram visitas frequentes. O meu tio Zé Varela e a família ficaram lá uns dias e adoraram aquele convívio.
Os miúdos, os sete e mais alguns que apareciam aos fins de semana, adoravam a brincadeira. Andavam sempre muito bem dispostos, a brincar pelo parque e a andar de bicicleta. A Marta era a mais pequenina, mas todos tinham muita paciência para ela e levavam o tempo todo na brincadeira. À tarde, voltávamos a ir para a praia ou vestíamos as nossas roupas de verão e íamos passear à Ericiera.
Como  éramos muitos, nunca fazíamos refeições às horas dos outros campistas. Quando acabávamos de almoçar ou jantar, já os outros campistas estavam a passear ou a descansar.
Lembro-me da hora de lavar a louça nos lava-louças do parque. Arranjámos uma caixas de plástico da fruta, muito  grandes e aí escorríamos a louça. Eu e a minha mãe pagávamos, uma  de cada lado e lá íamos nós lavar a louça, era uma alegria. Tínhamos os lava-louças por nossa conta, falávamos alto, brincávamos, ríamos. Tudo era uma brincadeira, tudo era divertido, nada nos aborrecia.
Num fim de semana, houve uma enorme  trovoada, seguida de chuva torrencial. Estávamos com medo que chovesse dentro da tenda, mas felizmente isso não aconteceu na nossa tenda. Muitas tendas do parque ficaram completamente inundadas, os colchões a “nadar” dentro das tendas, mas a nossa portou-se muito bem. Tínhamos uma cozinha de campismo, onde cozinhávamos e onde estava o frigorífico. A água corria em regos largos com muitas agulhas dos pinheiros e paus. Entrou pelo motor do frigorífico que ficou completamente tapado com tanta coisa. Pensámos que o frigorífico não ia mais trabalhar, mas não, retirámos a lama, as agulhas dos pinheiros, deixámos secar e no dia seguinte lá estava ele a trabalhar com toda a força. Era o frigorífico que eu tinha levado no meu casamento, era um Hoover, muito resistente e forte, como já não se fabricam, que comprei através do meu tio Jacinto.
Quando chegava a hora de desmontar aquilo tudo, era um quebracabeças. O meu pai tinha uma Ford Transit que ia duas vezes a nossa casa, carregadíssima com tudo o que nós tínhamos vindo a trazer a pouco e pouco.
Eu e o Zé desmontávamos a tenda, o que era um trabalho complicadíssimo, pois a tenda era muito alta e o pano da tenda era enorme. Ficávamos estafados e o Zé que nunca teve jeito para bricolage, arranjava sempre uma enorme dor de cabeça, de tanto cansaço e tanto enervamento.
Durante o inverno, as nossas conversas giravam a volta daqueles meses passados no campismo. Lembrávamos cenas e situações caricatas e divertidas que nos tinham acontecido. Os miúdos falavam com saudade das brincadeiras ao ar livre, da praia e do campismo. No ano seguinte lá estávamos nós outra vez...



Zuzu Baleiro Junho 2014

EM SILÊNCIO

Gosto do silêncio
Faz-me bem.
Em silêncio
escuto a tua voz.
Em silêncio
ouço um pássaro cantar.
Em silêncio
escuto o vento.
Em silêncio
ouço o pensamento
E saboreio palavras que não digo a ninguém.
Em silêncio
escuto os passos da gente que passa.
Em silêncio
ouço a chuva na vidraça.
Em silêncio
olho o mar.
Em silêncio
na tristeza e na alegria.
Em silêncio
Na chegada e na partida.
Em silêncio
cai a noite.
Em silêncio
Nasce o dia.
Em silêncio
passa a vida.

Manuela Fidalgo Marques
Junho 2014

O PUCARINHO

 Não é fácil escrever sobre objectos de estimação, porque ligado a cada um deles, vêm sempre situações dolorosas que se foram rolando ao longo do tempo e não me apetece nada remexer em tudo isso.
Vou, por isso, escolher um púcaro de alumínio, já cheio de amolgadelas, mas que me remete para tempos felizes, sem nunvens.
Associado a ele está a figura da minha tia Palmira que foi um farol na minha infância.
Era cheia de imaginação, sempre a inventar coisas para a criançada – eu, o meu irmão e os filhos dela ( três raparigas e um rapaz ).
Como todos nós eramos franzinos,  “descobriu” que beber leite de burra seria o remédio ideal para de “fraquitos” nos tornarmos em crianças robustas. E pôs o plano em prática: descobriu uma horta no campo, mas não muito longe das nossas casas, onde havia uma burra e cuja dona concordou em nos receber.
E lá íamos, de manhã muito cedo, cada um com o seu pucarinho, beber o milagroso leite de burra. Punhamos o pucarinho junto da teta da burra e a dona ordenhava.
Bebíamos directamente da fonte para não haver contaminações. Beber o leite não era agradável, mas o passeio estrada fora, as brincadeiras, o ar puro, as flores que apanhávamos , os vegetais que trazíamos da horta para serem cozinhados, tudo isso era uma fonte de alegria para nós...
Os passeios para irmos beber o leite terminaram, já não me lembro porquê, mas o pucarinho ainda hoje me recorda esses dias felizes e despreocupados.

Estremoz, Junho 2014


Aura Simões