OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OS DEZ ANÕEZINHOS DA TIA VERDE-ÁGUA

Era uma mulher casada, mas que se dava muito mal com o marido, porque não trabalhava nem tinha ordem no governo da casa; começava uma coisa e logo passava para outra, tudo ficava em meio, de maneira que quando o marido vinha para casa nem tinha o jantar feito, e à noite nem água para lavar os pés nem a cama arranjada. As coisas foram assim, até que o homem lhe a ralhar e a bater, e ela a passar muito má vida. A mulher andava triste por o homem lhe bater, e tinha uma vizinha a quem se foi queixar. Era mulher idosa e muito sábia, e  dizia-se que as fadas a ajudavam. Chamavam-lhe a Tia Verde-Água:
– Ai, Tia! vocemecê é que me podia valer nesta aflição.
– Pois sim, filha; eu tenho dez anõezinhos muito trabalhadores, e mando-tos para tua casa para te ajudarem.
E a velha começou a explicar-lhe o que devia fazer para que os dez anõezinhos a ajudassem:
- que quando pela manhã se levantasse fizesse logo a cama, em seguida acendesse o lume; depois enchesse o cântaro de água, varresse a casa, remendasse a roupa, e no intervalo em  que cozinhasse o jantar fosse dobando as suas meadas, até o marido chegar. Foi-lhe assim indicando o que havia de fazer, que em tudo isto seria ajudada, sem ela o sentir, pelos dez anõezinhos.
A mulher assim o fez, e se bem o fez melhor lhe saiu. Logo à boca da noite foi a casa da Tia Verde-Água agradecer-lhe o ter-lhe mandado os dez anõezinhos, que ela não viu  nem sentiu, mas o trabalho lhe tinha corrido como por encanto.
Foram-se assim passando as coisas, e o marido estava pasmado por ver a mulher tornar-se tão arranjadeira e asseada;
Ao fim de oito dias, ele não se conteve que não lhe dissesse como ela estava outra mulher, e que assim viveriam como Deus com os anjos. A mulher contente por se ver agora feliz, e mesmo porque o ordenado chegava para todo o mês, vai a casa da Tia Verde-Água agradecer-lhe o favor que lhe fez:
– Ai, minha Tia, os seus dez anõezinhos fizeram-me um servição; trago agora tudo arranjado, e o meu homem anda muito meu amigo. O que lhe eu pedia agora é que mos deixasse lá ficar.
A velha respondeu-lhe:
– Deixo, deixo. Pois tu ainda não viste os dez anõezinhos?
– Ainda não; o que eu queria era vê-los.
– Não sejas tola; se tu queres vê-los olha para as tuas mãos, e os teus dedos é que são os dez anõezinhos.

A mulher compreendeu a lição, e foi para casa satisfeita consigo por saber como é que se faz  um bom trabalho. 

Da Minha Aldeia

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


Alberto Caeiro

Nem Sempre Sou Igual


Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

Alberto Caeiro

Sou um Guardador de Rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro

COMO A COMIDA QUER O SAL

Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga.
A mais velha respondeu:  – Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:  – Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.
A mais nova respondeu:  – Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova  não o amava tanto como as outras, e pô-la fora do palácio.
 Ela foi muito triste por esse mundo fora, e chegou ao palácio de um rei.Aí  ofereceu-se para ser cozinheira. Um dia veio à mesa uma empada de galinha muito bem feita, e o rei ao parti-la achou dentro um anel muito pequeno  e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando de dedo em dedo, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei, seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não pôs sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia?
 Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha:
– É porque a comida não tem sal.
O pai do noivo fingiu-se muito zangado e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha posto sal na comida daquele convidado. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.



FIM

HISTÓRIA DE JOÃO GRILO

Havia um rapaz chamado João Grilo, que era muito pobrezinho.
Os pais queriam a todo o custo casá-lo rico, apesar da sua pobreza e falta de estudos.
Um dia, espalhou-se por toda a terra que tinham desaparecido as jóias de uma princesa e que o rei seu pai daria a mão da princesa a quem descobrisse o autor do roubo; mas também castigaria com a morte todo aquele que se fosse apresentar e que no fim de três dias não descobrisse o ladrão.
Começaram os pais de João Grilo a meter-lhe na cabeça que fosse tentar fortuna, mas o rapaz não queria, pois sabia que alguns tinham sido mortos por não descobrirem as jóias.
Enfim, tanto o atentaram que o João Grilo se foi apresentar ao rei.
Os guardas do palácio não o queriam deixar entrar por o verem muito mal vestido e roto, e começaram a escarnecer dele,  dizendo-lhe que ele era doido e outras coisas assim...
Por fim, lá o deixaram entrar.
O rei e a princesa também se riram muito dele, mas não tiveram remédio senão cumprir a sua palavra.
Meteram-no num quarto e deram-lhe três dias para pensar.
Ia só um criado dar-lhe de comer; e à noite, quando esse criado lhe perguntou se queria mais alguma coisa, ele respondeu que não, e ao mesmo tempo, dando um suspiro, disse: - Já lá vai um!
O criado saiu muito atrapalhado e foi ter com os outros dois criados, a quem contou as palavras que o João Grilo tinha dito.
Estes três criados eram justamente os que tinham roubado as jóias da princesa e julgaram que o João Grilo tinha conhecido um dos ladrões e por isso tinha dito: - Já lá vai um!
Enganavam-se, porque ele se tinha referido a que já lá ia um dia, e ele ia caminhando para a forca.
Os criados combinaram que no dia seguinte iria outro, para ver se o João Grilo também o conhecia.
Assim fez; e à noite, quando perguntou se queria mais alguma coisa, respondeu João Grilo que não e repetiu: - Já lá vão dois!
O criado ficou assustadíssimo e foi logo contar aos outros. Imagine-se  como eles ficaram.
No dia seguinte foi o outro, e quando à noite se despediu para se ir embora, diz o João Grilo: - Está pronto: já lá vão os três.
O criado, julgando que estava tudo descoberto, deita-se aos pés do João Grilo e diz-lhe:
- É verdade, senhor, fomos nós os três, mas peço-lhe por tudo quanto há, que não diga nada ao rei que somos nós os ladrões, porque ficaríamos desgraçados. Nós damos as jóias todas, mas há-de ser com a condição de que não há-de dizer nada.
Joaõ Grilo caiu das nuvens, mas fingiu que efetivamente tinha adivinhado.
Prometeu ao criado que não diria nada e mandou-lhe buscar as jóias, que ele trouxe logo.
Como tinham acabado os três dias, o rei mandou chamar o João Grilo e perguntou-lhe:
- Então já descobriste o ladrão?
-Saiba Vossa Majestade que sim senhor! – respondeu João Grilo
O rei riu-se muito, julgando que o rapaz era doido, mas ele apresentou-lhe as jóias, sem dizer quem tinha sido o ladrão.
Imagine-se como ficou a princesa, vendo que tinha de casar com aquele maltrapilho! Chorou muito e pediu ao pai que não a casasse com aquele homem, mas o rei dizia-lhe que palavra de rei não volta atrás e que era forçoso que eles se casassem.
A princesa não teve outro remédio senão conformar-se; mas o João Grilo, que tinha bom coração, vendo a repugnância dela, disse que desistia do casamento.
O rei gostou muito dessa atitude e disse-lhe que pedisse o que quisesse, que ele tudo lhe daria.
João Grilo só pediu para ficar no palácio.
O rei concordou e deu-lhe muitos sacos de dinheiro.
Ficou o rapaz no palácio, e o rei julgava-o adivinhão.
Um dia, o rei apanhou um grilo no jardim; fechou-o na mão e chamou o João Grilo.
Veio o rapaz e o rei perguntou-lhe: - Oh João, adivinha lá o que eu tenho fechado nesta mão?
O rapaz coitado, começa a coçar a cabeça e a dizer: - Ai! Grilo, Grilo, em que mãos estás metido!!
O rei julgando que ele se referia ao grilo que ele tinha fechado na mão dele, ficou muito contente, e disse: - Adivinhaste, adivinhaste, é um grilo! E deu-lhe muito dinheiro.
Outro dia, encontrou o rabo de uma porca, que tinham morto e enterrado no quintal.
Chamou o João Grilo e perguntou-lhe: - Oh João, adivinha lá o que está aqui enterrado?
O pobre João Grilo, não sabendo o que havia de fazer à sua vida, começa a dizer: - Aqui é que a porca torce o rabo!
O rei abraça-o muito contente, e diz: - Adivinhaste, adivinhaste, é o rabo de uma porca! E deu-lhe mais dinheiro.
O rapaz vendo-se rico e temendo que não adivinhasse mais alguma coisa, ou para melhor dizer, que o acaso não o favorecesse, escreveu uma carta, fingindo ser a mãe, a pedir que fosse imediatamente para casa, porque ela estava muito doente.
O rei custou-lhe muito a saída dele do palácio, mas não teve outro remédio senão deixá-lo ir.
Despediram-se. O rapaz montou o cavalo e, quando já ia longe, o rei apanhou caganitas de cabra que estavam no chão, meteu-as no lenço e começa a dizer-lhe adeus com o lenço.
O rapaz que ia já longe e estava farto do rei, disse-lhe adeus, dizendo: - Adeus, adeus, caganitas para Vossa Majestade!!!
O rei ficou muito contente, e dizia: - Aquilo é que é um rapaz esperto! Como ele adivinhou que eu tinha caganitas no lenço!
E o rapaz foi para casa dos pais, estava muito rico e assim se viu livre do rei.
Contos Populares Portugueses
Consiglieri Pedroso
Editora Vega


OUTUBRO RECOMEÇO DAS AULAS

Nos primeiros dias de Outubro reiniciámos as nossas aulas. 
O clima era de entusiasmo. Rever colegas do ano anterior e conhecer os novos que se apresentaram, deu origem a grandes conversas cheias de entusiasmo, ale e este ano para além de trabalharmos a poesia e o conto, decidimos enveredar pela escrita criativa. Assim, vamos começar a construir textos autobiográficos que no final do ano irão ser compilados e cada aluno/a vai elaborar um álbum da sua vida que será oferecido aos filhos, aos netos ou a quem da família estiver mais interessado.