OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

terça-feira, 8 de março de 2016

25 de ABRIL de 1974

Este foi um dia há muito tempo esperado.
À altura dava aulas na Escola Secundária e seriam umas oito e pouco da manhã, já eu ia saindo às Portas de Santa Catarina, quando um carro parou a meu lado oferecendo-me boleia. Era o professor Vítor Trindade a quem eu disse que não valia a pena subir pois já estava perto da escola. Como insistisse, aceitei e mal me sentei dá -me a notícia: tinha havido uma revolução e as tropas estavam na rua em Lisboa.
Numa grande excitação entrámos na escola e na sala dos professores ia um grande burburinho. Ainda não se sabia ao certo qual a origem do movimento embora para mim houvesse só uma certeza: era o fim do fascismo que tínhamos aguentado durante quase cinquenta longos anos.
Lembro-me de ver o Dr Crujo , esfregando as mãos  talvez de satisfação , enquanto ia repetindo de grupo em grupo :  pode ser o  Kaulza de Arriaga, pode ser, não sabemos!
Nesse dia foi impensável dar aulas e apenas se abriram as salas para uma conversa informal com os alunos. Só a D Fátima insistiu numa aula normal para  grande descontentamento dos alunos.


Foi um dia inesquecível todos de ouvido à escuta não perdendo pitada das notícias que iam chegando pela rádio e televisão. Alguns jornais fizeram duas edições que se esgotaram num ápice!
Lembro-me depois, de passarmos o resto da tarde e da noite de ouvido à escuta no rádio e na televisão, seguindo todas as movimentações das tropas na capital.
Seguiram-se dias e meses de grande euforia e felicidade em que apenas estava em casa o tempo necessário para comer e dormir e pouco mais. Não havia manifestação onde não estivesse presente, as reuniões sucediam-se, os inúmeros comunicados eram esperados e lidos com sofreguidão . Compravam-se vários jornais por dia, República, Diário, Diário de Lisboa, Capital, etc..
Nada me podia escapar e lembro-me mesmo de dormir com dois ou três transístores no travesseiro para, a qualquer momento, poder ligar para as várias estações na altura dos noticiários.
A saída dos presos políticos foi um dos momentos altos desses dias.
A legalização do PCP, a criação do MDP onde fiz parte da comissão política com o dr. Patrício, a criação do MES onde estive filiada, as primeiras eleicões livres, foram liberdades que o 25 de Abril nos trouxe.
A  28 de Setembro a reacção quis mostrar os dentes mas não conseguiu passar.
Como em muitas localidades também também em Estremoz , nessa noite se fizeram barricadas, cortando a estrada. Eu estava lá e lembro-me de um episódio estranho em que não acreditaria se não estivesse presente.
Correu nesse dia o boato de que, num carro, tinha sido descoberto um caixão cheio de armas caso a que estaria associado o nome de Artur Agostinho.
Ora nessa noite estava eu entre muitos camaradas a fazer vistoria aos carros que passavam na estrada à procura de armas quando foi barrado um  carro de matrícula estrangeira, penso que suíca, que se revelou verdadeiramente suspeito : atrás do condutor seguia um caixão que ele se recusou a abrir. Ninguém teve dúvidas dado o tal boato que se ouvia e que nunca soube se tinha fundamento.
Mesmo depois de muito instado recusou-se a abrir ali o caixão.
Logo dali saíu um carro com alguns dos nossos que o escoltou até ao quartel para entregar o caso ao COPCON.
Revelou-se que era realmente um pobre desgraçado que resolvera dar sepultura à mulher na sua terra natal e se atrevera a passar fronteira clandestinamente ainda não percebo como. Naqueles tempos de liberdade a vigilância abrandara e tornava possíveis episódios insólitos  como este
Passaram-meses e a 11 de Novembro morreram muitas das minhas esperanças num mundo novo em que as desigualdades se esbatessem e onde todos gozassem das mesmas oportunidades. Um mundo novo onde ninguém passasse fome, onde todos tivessem acesso à saúde, ao ensino, ao trabalho e ao lazer.
Para além da liberdade, da abolição da censura, legalização dos partidos, libertação dos presos políticos,  Abril trouxe-nos o fim da guerra, que tantos mortos e estropiados causou.
Para mim foi um momento de libertação de um regime opressivo em que vivi quarenta longos anos. Os tempos que então vivi de alegrias constantes , de companheirismo, de absoluta liberdade foram os melhores da minha vida que me marcaram para sempre e estarão sempre vivos na minha memória.
Maria Helena Alves

CIGANOS

Ouvi há dias a crónica "o amor é" de Júlio Machado Vaz sobre a maneira como os ciganos foram e são tratados na Suécia. Foram esterilizados, impedidos de entrar no país, as suas crianças foram-lhes retiradas. Fiquei estupefacta pois, embora saiba da perseguição que esta etnia tem sofrido ao longo da história, nunca pensei que isto se pudesse passar na Suécia país que eu pensava ser um modelo de democracia.

Uma cigana que tinha sido convidada para a cerimónia em que o governo iria pedir desculpas públicas pela maneira como a etnia tinha sido tratada, foi impedida de entrar no hotel onde a cerimónia decorria. Pasme-se!!!
Como Júlio Machado Vaz falou da sua boa relação com ciganos também eu quero aqui dar testemunho do meu bom convívio com esta raça.
Tempos houve em que as crianças eram ameaçadas com o homem do saco ou "o cigano" sempre que se recusavam a comer a sopa. Qualquer briga, qualquer roubo tem como primeiros suspeitos os ciganos. No entanto a grande maioria dos crimes, rixas, desrespeito da lei nada têm com eles.
A minha convivência com os ciganos vem da minha infância. O meu pai teve durante muitos anos uma estalagem onde muitos deles tinham residência fixa.
Como tínhamos acesso pela horta era lá que, tanto eu como as minhas irmãs e primas, passávamos grande parte do nosso tempo e das nossas brincadeiras.
Sempre foram muito carinhosos connosco e algumas vezes fugi para ir comer com eles. Ainda hoje faço uma sopa a que chamo "grãos à cigana" que lá comia e de que gosto muito.
 Lembro-me que um dia, no meio duma briga, um deles abriu em cima da mesa de pedra uma navalha de ponta e mola. Eu estava presente e, na minha inocência, quis pegar a navalha para que não se ferissem. Fechou-se na minha mão apanhando-me um dedo de raspão. Ao verem o sangue logo ali a briga se acabou e era ver a aflição dos dois a quererem tratar-me da ferida e o medo de que o meu pai soubesse do sucedido.
Quando nasceu lá uma menina convidaram o meu irmão Aníbal e a minha prima Maria Inácia para padrinhos. Foi-lhe posto o nome de Donalda.
Depois deste são convívio nunca tive ideias pré concebidas como a maioria das pessoas têm sobre os ciganos. Há bons e maus como em todas as raças.
Como professora muitos foram os que passaram pela minha escola. Ainda hoje sou muito amiga de algumas dessas minhas alunas.
Tive uma acção de formação sobre minorias na escola: ciganos, africanos e estrangeiros de vários países .
Estivemos um mês na Cúria com muito bons professores que nos deram a conhecer as origens da etnia cigana e os seus costumes.
Como trabalho final apresentei um estudo sobre uma criança da nossa sala que contou para todos os colegas os hábitos da sua família, em dias de festa, casamentos e mortes. Ensinou-os a dançar e, pelo menos as raparigas aprenderam com ela alguns passos das suas danças tão características.
Durante muitos anos dei alfabetização a adultos e houve anos em que a sala se enchia apenas com pessoas dessa etnia. Alguns pertenciam a famílias que se odiavam mas todos acataram as minhas recomendações de que tudo isso ficava para lá da porta da sala de aula e nunca houve entre eles o mais leve atrito.
Alguns eram bastante inteligentes e aprenderam a ler com uma enorme facilidade. Um que me lembro, vinha sempre irrepreensívelmente vestido, depois de ter passado nos balneários públicos para tomar banho. O mesmo não se poderia dizer da maioria que traziam na pele e nas vestes a marca das péssimas condições em que viviam. Tinha havido mortes nas duas famílias e o luto era guardado, para além do preto com que se vestiam, com o cabelo e barba que nunca mais cortaram e um chapéu que nunca tiravam da cabeça.
No mercado, ainda hoje  encontro alguns desses alunos ou seus familiares que me vêm cumprimentar com muita simpatia.


Maria Helena Alves

sábado, 5 de março de 2016

INAUGURAÇÃO DA BIBLIOTECA E DESFILE LITERÁRIO

AULA DE POESIA E CONTO NA ACADEMIA SÉNIOR DE ESTREMOZ

inauguração da biblioteca da academia sénior de estremoz

LÚCIA CÓIAS E EGLANTINA ESTIGA ATRÁS
EGLANTINA ESTIGA
DESFILE LITERÁRIO PADEIRA DE ALJUBARROTA
DESFILE LITERÁRIO
DESFILE LITERÁRIO

Pantufa mais gorda

MA  RI.   AH   EL    EN   AF   AL  CÁ  TÔ  AL  VE    S
Ma    Mal/Manel /
Ri.    Rir /haveria/avaria/ trafaria/
Ah!
El.   Ela/ ele/ elevar/ Raquel
En.    Enganar/merenda/venda/emenda
Af.     Afã /afagar/afogar
Al.    Almoço /faltar/ almograve/fatal
Vê.    Houve/vento /velório/vela
S.    Plurais/situação &

O (MA)nel  ((RI)u-se nervoso  (AH) ! Mas (EL)e que t(EN)ha emenda.  (AF)ogar o anim(AL)!  (CA)lculem o gaia(TO)! Grande (S)afado!

Já há algum tempo que via a minha Pantufa mais gorda  mas levei uns dias a aperceber-me que me iria dar gatinhos.
Só poderia ficar com um e apressei-me a encontrar donos para os restantes.
Tudo bem planeado e hoje, logo de manhã encontrei em cima da cama das minhas filhas quatro gatinhos lindos como nunca vi outros. Apeteceu-me ficar com eles todos tal era a dificuldade da escolha. Havia um todo pretinho que me trouxe à memória a minha linda Sweety que fez as delícias das minhas filhas durante quase vinte anos. Seria este o escolhido sem sombra de dúvida.
A minha irmã que tinha uma reunião importante no Porto deixou-me cá o Manel ,um pimpolho de cinco anos vivo como só ele , que me punha a cabeça em água já há três dias. Ficou doidinho quando descobriu os gatos. Apanhava um para logo o largar e pegar noutro num absoluto desvario. Também ele se decidiu pelo preto e já não o largou. Bem lhe dizia eu que não se devia mexer nos gatinhos porque, como todos sabem, são enjeitados pela mãe... Nem me ouviu  e o gatinho preto tornou-se a sua companhia a partir dali.
Hoje, estava eu ocupada na cozinha despachando o almoço quando comecei a ouvir o riso nervoso do Manel de mistura com alguns soluços incontroláveis. Acorri num susto e, que vejo eu?
Na casa de banho, estava o meu amigo Manel dando banho ao seu gatinho. Tinha enchido de água o bidé e lá estava o Manel tentando reanimar sem sucesso o seu gatinho preferido
Com um sorriso soluçado foi explicando que apenas lhe queria dar banho porque ele era o mais sujo deles todos. (Todos tinham apenas umas leves manchas ao passo que ele era completamente preto...).
Meu rico gatinho. Afogar o animal!  Ah, grande safado!!!

A RAPARIGA NAS NÚVENS

Porque não hei-de eu ser como as crianças ? A estas horas estão as minhas amigas passeando na feira de s. Mateus e eu aqui estou confinada a este quarto já vai para 10 dias. Tenho pouca saúde e já devia estar habituada pois até me parece que passo mais tempo aqui que lá fora. Mas não me resigno e com o passar dos anos mais cresce a minha revolta.
Hoje resolvi que havia de esquecer a minha má sorte e pensar em coisas alegres já que não  serve de nada estar para aqui a martirizar-me porque até me sobe a febre.
E foi assim que, na minha imaginação, vi concretizado o sonho da minha vida: passeava em Paris e era tal e qual como vira na televisão.
Cidade linda de edifícios monumentais, com o Sena um rio tranquilo com barcos cheios de turistas.  Tantas vezes tinha sonhado embarcar num deles como se também eu fosse uma turista cheia de posses a viajar pelo mundo.
E eis-me a correr mundo sem destino marcado como se fosse levada numa nuvem num passeio interminável. Os desertos sem fim de África, os cumes cobertos de neve dos Imalaias, a Patagónia que era tal e qual tinha lido num livro de viagens, a
Lapónia  onde tive a sorte de assistir ao mais belo espetáculo que verei em toda a minha vida. O céu iluminou-se com uma luz estranha e foi como se uma cortina esvoaçasse ao vento e fosse sendo pintada de lindas e variadas cores.
Ouço bater à porta e a cabeça da minha mãe assoma com a bandeja do lanche.
Que raiva! Não tenho fome e vieram perturbar a minha viagem que viera alegrar  a minha solidão...

Milena Alves

ACEITAR-ME A MIM PRÓPRIA

ACEITAR-ME A MIM PRÓPRIA 

O que é mais importante?
Aceitar-se a si próprio?
Sentir-se acoompanhado?
A comparação com os outros ?
O controlo dos sentimentos?
Os juízos que fazem a seu respeito?     

ACEITAR-ME A MIM PRÓPRIA 

Quando ouvi a frase dei-lhe um sentido que não seria o que a autora lhe quis dar. O meu texto vai basear-se nessa minha primeira impressão. 
Na minha adolescência e até já depois de adulta não teria grande amor próprIo. Fiz vários tratamentos para engordar pois durante anos fui extremamente magra e não aceitava o meu corpo Casei-me aos vinte e quatro anos com 40 kg e bem mais alta do que hoje sou.
A diretora do colégio e minha professora de português, escolheu-me algumas vezes para ir recitar talvez por achar que eu lia bem mas, chegada ao palco, era preciso empurrarem-me e mesmo assim só com muito custo me desenvencilhava da tarefa. Cheguei assim ao meu curso do magistério primário onde o diretor com quem mantinha uma relação de ódio, tentou fazer-me a vida negra e rebaixou-me durante os dois anos em que por lá andei. Nunca ninguém me perguntou o que queria eu seguir e assim fui empurrada para um curso que nunca escolheria. 
Convenci-me que a minha vida não permitia escolhas e incuti em mim mesma que talvez as minhas capacidades não fossem suficientes para atingir o que queria e acabei por nem tentar.
A partir daí foi um crescendo sempre na dúvida se seria capaz de levar a cabo qualquer tarefa mais difícil que me fosse proposta. A minha auto-estima estava muito baixa pois mesmo em minha casa constantemente comparavam as minhas capacidades intelectuais e não só, com a minha irmã. 
Quando fomos para o sexto ano, agora décimo, entrei cerca de mês e meio depois das aulas terem começado. Meti-me em brios, peguei nos livros da minha irmã e, estudando sozinha, consegui as melhores notas da turma. Isso melhorou muito a minha auto-estima e pensei que todas as pessoas eram capazes de desempenhar algumas tarefas mas não todas, conforme as aptidões de cada um.
Vi que era muito melhor que outras pessoas em alguns desempenhos            específicos mas que essas mesmas pessoas faziam coisas que eu nem me atreveria tentar
Este reconhecimento de mim mesmo foi-me abrindo a mente e, a pouco e pouco, aprendi a gostar mais de mim.
Hoje penso que pus fim a essas dúvidas e aceito-me tal como sou com as minhas limitações, aceitando o meu corpo aleijado, o andar com o nariz cada vez mais perto do chão, as minhas rugas e todos os "andycaps "próprios da idade.
Por vezes ainda sinto alguma raiva quando não consigo prosseguir na minha atividade preferida : pintura e desenho. As pessoas pensarão que é falsa modéstia ou baixa auto-estima mas não é uma coisa nem outra. 
O meu alvo está muito alto e, como o que consigo fazer não chega nem lá perto, resolvi desistir.  Não me interessa fazer o bonitinho, o mesmo parecido com o modelo, que fizera até aqui.
Chamem-me o que quiserem e talvez um dia continue no mesmo caminho que até aqui, nunca se sabe...
Nunca digas nunca!
Milena Alves

Gabriela Ruivo Trindade recebeu prémio na Feira do Livro

Manuel Alegre
Gabriela Ruivo Trindade recebeu prémio na Feira do Livro
por Elisabete Silva07 junho 2014http://www.dn.pt/Common/Images/img_artes/icn_comentario.gifComentar
Gabriela Ruivo Trindade recebeu o prémio de Miguel Pais do Amaral (presidente do Conselho de Administração da Leya). Manuel Alegre e Isaías Gomes Teixeira (presidente Executivo da Leya) também participaram da cerimónia de entrega do prémioFotografia © Carlos Manuel Martins/Global Imagens
Gabriela Ruivo Trindade nunca tinha publicado um texto, mas com 'Uma Outra Voz' não só concretizou esse desejo como venceu o prémio LeYa 2013, que recebeu hoje ao final da tarde na Feira do Livro, em Lisboa.
"Este livro nasceu da partilha num blog familiar, no qual a família partilhou muitas histórias", contou a autora de 43 anos, casada, dois filhos e que reside em Londres. No discurso, confessou que estava a ser "assaltada pelos mesmo sentimentos" de quando recebeu um prémio de banda desenhada aos "12 ou 13 anos": o pânico de falar em público, a timidez ("que aumenta com o passar do tempo") e a sensação de que não devia estar ali, como vencedora. Explicou que muitos familiares deviam estar naquele palco a seu lado. Mas deixou um recado sobre o apoio à literatura: "Estes prémios não chegam, é necessário uma política digna desse nome".
Manuel Alegre, presidente do júri, destacou o facto de ser a primeira mulher a ser premiada e de ser a segunda vez que venceu um desempregado (o primeiro foi João Ricardo Pedro, em 2011, com 'O Teu Rosto Será o Último'). O valor monetário do prémio LeYa é de 100 mil euros.
"Este prémio desencadeou uma revolução. Muitas pessoas começaram a escrever", destacou Manuel Alegre. "Nestes tempos conturbados escrever é e sempre será um ato de libertação", acrescentou.
Os elementos do júri destacaram um pormenor do livro de Gabriela Ruivo Trindade: "as fortes personalidades das personagens, principalmente femininas." O júri foi composto por, além de Manuel Alegre: os escritores Nuno Júdice, Pepetela e José Castello; o professor da Universidade de Coimbra José Carlos Seabra Pereira; o reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo, Lourenço do Rosário; a professora da Universidade de São Paulo, Rita Chaves.
Esta foi a quinta vez que o prémio LeYa foi atribuído (a vencedora foi anunciada em outubro do ano passado e já decorre o concurso de 2014). Em 2008, o eleito foi o 'Rastro do Jaguar' escrito por Murilo Carvalho e no ano seguinte venceu o romance "O Olho de Hertzog", do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho. Em 2011, foi distinguido o romance "O Teu Rosto Será o Último", estreia literária do português João Ricardo Pedro e, no ano passado, o escolhido foi o português Nuno Camarneiro, com o romance "Debaixo de Algum Céu".

Em 2010 o prémio LeYa não foi atribuído. Segundo a editora o júri "entendeu que as obras a concurso não correspondem à importância e ao prestígio do Prémio LeYa no âmbito das literaturas de língua portuguesa".

CHARLOT E OS LIVROS

Na gravura que me mostraram pareceu-me ver a figura do Charlot em equilíbrio em cima duma enorme pilha da livros que se eleva acima da cidade e das fábricas. Que conceito poderei eu retirar daqui?
O humor pode ser muito para além do que o comum das pessoas pensam. 
Charlot praticava um tipo de humor inteligente. Notava-se nele uma inteligência e uma cultura que contrastava com a sua figura de palhaço desastrado e vagabundo.
O humor que me faz rir é este. Humor feito por quem tem uma base cultural sólida. Temos o exemplo do Ricardo Araújo Pereira e os seus três companheiros, do Herman José ou     Serafim  entre outros poucos mais.
Todos eles  têm, para além da inteligência que se lhes reconhece, uma enorme cultura adquirida sobretudo nos muitos livros que foram lendo ao longo da vida.
Há depois os tais palhaços que muito se esforçam a contar umas anedotas sem graça ou já com cabelos brancos, que fazem rir salas cheias de basbaques no muito em voga "stand up".
 "Ler um livro é ler a vida" disse-me um dia um amigo a propósito de leitura.
É uma frase que me tocou particularmente pois em poucas palavras resume bem onde nos pode levar o contacto com os livros. Muitas vezes a cito às minhas alunas quando estou a tentar incutir-lhe o gosto pela leitura.
Maria Helena Alves

CARTA DE UM AVÔ PARA A SUA FILHA

Olha que incrível a carta que um avô escreveu para sua filha, quando ela expulsou o filho de casa! Não vamos explicar muito, porque a carta diz tudo:
Cara Christine,
Você me desapontou como filha. Você está certa sobre termos uma “vergonha na família”, mas errou sobre qual.
Expulsar seu filho de sua casa simplesmente porque ele disse a você que era gay é a verdadeira “abominação”. Uma mãe abandonar o filho é que “é contra a natureza”.
A única coisa inteligente que ouvi você dizer sobre tudo isso é que “não criou seu filho para ser gay”. Claro que não criou. Ele nasceu assim e escolheu isso tanto quanto escolheu ser canhoto. Você, entretanto, fez a escolha de ser ofensiva, mente-fechada e retrógrada.  Então, já que esse é um momento de abandonarmos filhos, acho que chegou a hora de dizer adeus a você. Sei que tenho um fabuloso (como os gays dizem) neto para criar e não tenho tempo para uma filha que é uma vadia sem coração.
Se encontrar o seu coração, ligue pra gente.
-Papai
You go, gramps!
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O AVÔ E O NETO

A gravura tinha um rapaz e um homem mais velho sentados em amena conversa com um semblante muito alegre.
Sem mesmo ver a gravura escrevi isto muito à pressa durante a hora de almoço para entregar na aula da Zuzu:

-Nem calculas como fiquei contente por te conseguir encontrar! Foi talvez melhor que me ter saído a sorte grande!
-Também eu avô ! Deixou-me era eu ainda um gaiato e nunca mais tivemos notícias suas.
-Sabes lá a minha vida! Saí daqui como já deves saber porque não me conseguia         governar. O lavrador que algumas vezes me deu trabalho tratava-nos pior que escravos. Ainda o sol não tinha despontado já lá estávamos a trabalhar no duro e só com uma pequena pausa para comer umas sopas que sonhavam com o azeite. Depois novamente ao trabalho até que o sol desaparecesse no horizonte e já não conseguíssemos fazer mais nada.
-Isso era na herdade do D. João, não era? A minha mãe falava-me muito nele e da maneira como a explorava a ela e a todas as companheiras.
Mas porque é que nunca mais nos disse nada?
-Quando daqui fui a minha vida também não foi um mar de rosas. Penei e corri muito até endireitar a minha vida. Tinha vergonha que na aldeia soubessem o que eu estava passando.
-Ó avô, o que nós queríamos era saber de si. Até pensámos se não teria morrido.
-Credo filho! Felizmente não foi esse o caso.
-Então porque não dava notícias?
-olha, quando consegui endireitar a minha vida escrevi várias cartas mas todas foram devolvidas. Assim passou algum tempo até que, já muito apoquentado resolvi escrever para a ti Zefa do Caco, que me   o que fora feito de vocês que nunca mais tinha tido notícias.
-Mas então porque é que ela não nos disse nada?
-Ó filho, o meu desgosto quando ela me mandou dizer da morte da tua mãe!
-Calculo. Tanto que o avô gostava dela!
-Se gostava! Ela foi a filha que nunca tive. Vi-a nascer e nesse mesmo
 dia ficar sem a mãe que morreu de parto . Acontecia muito naqueles tempos. Ajudei como pude na sua criação e ela pagou com amor o amor que eu lhe tinha.
Quando tu nasceste foste o meu primeiro e único neto.
-Já eu andava na escola quando os gaiatos me disseram que o avô não era o meu avô verdadeiro. Tive cá um desgosto! Fugi da aula e só me apanharam já era noite com toda a aldeia à minha busca.
-Mas a Zefa também me disse que tu tinhas tinhas saído para o estrangeiro e nunca mais souberam de ti.
Foi-me impossível encontrar-te e Deus sabe o que sofri.
- Tenho muita pena avô, mas também eu me vi obrigado como muitos dos meus colegas de curso a sair do país.
Foi uma alegria enorme, quando aqui cheguei depois de tanto anos por fora, saber que o avô tinha regressado à aldeia. Corri logo para aqui para lhe dar aquele abraço apertado tanto tempo adiado!

Maria Helena Alves