Represento a Primavera
A mais bela das estações
É o tempo das flores
E do amor nos corações
Os pássaros fazem os ninhos
As andorinhas chegaram
As cegonhas já cá estão
Pr'a sempre cá ficaram
Com este belo clima
Há flores por todo o lado
Mas elas estão no campo
Que o jardim está depenado
As rosas e os malmequeres
As violetas e os amores
A alfazema e o rosmaninho
Enchem o espaço de odores
Os nossos campos estão verdes
Há lírios por todo o lado
Mas mal a Primavera chega
Já o Verão está apressado
Chega o Outono também
Com o seu tom acastanhado
E lá caindo a folha
Que o Natal está chegado
E tudo passa a correr
É chegado o Ano Novo
Mal nós nos distraímos
É Primavera de novo
Nós somos as bordadeiras
Isto é tudo a brincar
Vamos mas é divertir
Que o tempo está a passar.
Eglantina
OS NOSSOS ESCRITOS
TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
NATAL
O Natal já chegou
Oiço os sinos a tocar
E as estrelas no céu
São os anjos a dançar
Oiço música suave
E campainhas lá ao longe
É o Pai Natal que chega,
Mas ainda não é hoje.
Chega dia vinte e cinco
Puxado pelas suas renas,
Com tantos anos que tem
Já não tem força nas pernas
Com as suas campainhas
Vai anunciando o dia
Em que as nossas criancinhas
Estarão cheias de alegria
Com o seu fato vermelho
E o saco cheio de prendas
Passa pelo mundo inteiro
A distribuir oferendas
Quando Jesus nasceu
Segundo diz a lenda
Cada Rei Mago levou
Orgulhoso a sua prenda
Mas a Maria era bem simples
Deu á luz na manjedoura
Que em nada se parecia
Com as maternidades de agora
Festejemos o Natal
Erguendo os olhos ao céu
Mas não podemos esquecer
Quem não tem nada de seu
Desejo tudo de bom
Tenham Paz e Harmonia
Desejo-vos um Bom Natal
E um Ano Novo cheio de alegria!
Eglantina
Oiço os sinos a tocar
E as estrelas no céu
São os anjos a dançar
Oiço música suave
E campainhas lá ao longe
É o Pai Natal que chega,
Mas ainda não é hoje.
Chega dia vinte e cinco
Puxado pelas suas renas,
Com tantos anos que tem
Já não tem força nas pernas
Com as suas campainhas
Vai anunciando o dia
Em que as nossas criancinhas
Estarão cheias de alegria
Com o seu fato vermelho
E o saco cheio de prendas
Passa pelo mundo inteiro
A distribuir oferendas
Quando Jesus nasceu
Segundo diz a lenda
Cada Rei Mago levou
Orgulhoso a sua prenda
Mas a Maria era bem simples
Deu á luz na manjedoura
Que em nada se parecia
Com as maternidades de agora
Festejemos o Natal
Erguendo os olhos ao céu
Mas não podemos esquecer
Quem não tem nada de seu
Desejo tudo de bom
Tenham Paz e Harmonia
Desejo-vos um Bom Natal
E um Ano Novo cheio de alegria!
Eglantina
QUERO MUDAR O MUNDO
Quero mudar o mundo
Quero viver melhor
Quero que todos tenham
Muita paz e amor
Quero divertir-me
Andar sempre em festa
Quero ter outra vida
Que esta não presta
Quero que todos cantem
Uma canção de amor
E que todos brinquem
Sem nenhum pudor
Façam asneiras
Tudo o que quiserem
E ninguém se importe
Com o que disserem!
Eglantina
Quero viver melhor
Quero que todos tenham
Muita paz e amor
Quero divertir-me
Andar sempre em festa
Quero ter outra vida
Que esta não presta
Quero que todos cantem
Uma canção de amor
E que todos brinquem
Sem nenhum pudor
Façam asneiras
Tudo o que quiserem
E ninguém se importe
Com o que disserem!
Eglantina
NATAL
24 de
Dezembro
Véspera de Natal. Mal posso esperar.
Não sei porque gosto tanto do Natal. Talvez pela ceia, os doces e as prendas.
Cá em casa somos 10 irmãos . Só há prendas muito pequeninas e são só para as meninas. Este ano somos só 3 que a Natália está em casa do tio Carreço.
Antes de virmos dormir lá alinhámos os sapatos na chaminé.
Avistámos no escritório uma grande caixa de cartão muito bem fechada mas tivemos medo de a abrir.
Subi de má vontade para o quarto com as minhas irmãs e preparo-me para uma noite sem sono.
25 de Dezembro
Nunca me vou esquecer deste Natal.
Depois de uma longa espera, alguma claridade assoma pela janela e diz-me que está a nascer o dia 25. Só aí temos ordem de descer até à cozinha. Acordo as minhas irmãs e precipitamo-nos escada abaixo, atravessamos o quintal (está um frio de rachar e nós em camisa de dormir...) e ali estão, alinhados na chaminé, 8 ou 9 sapatos todos com alguma coisa dentro:
Nos sapatos enormes dos meus irmãos há apenas umas cascas de laranja muito enroladinhas ou uns carvões roubados aos tições da lareira.
E nos nossos? Umas miniaturas de tabletes de chocolate num atado apertado por uma fitinha de seda colorida e uns brinquedos que nos enchem os olhos. Estava ali a explicação da caixa mistério. Brinquedos e jogos a que faltavam peças e que vêm da loja do meu tio Chico porque já não têm venda. Mas no meu sapatinho está mais qualquer coisa do que nas minhas irmãs.
O dono da farmácia Costa, que gosta muito de mim, deixou-me uma prenda de Natal.
Perante a inveja das minhas irmãs desembrulhei o pacote e de lá saíu a mais linda boneca que eu já vi.
Não cabia em mim de contente e durante todo o dia não mais a larguei.
Depois do jantar reunimos-nos todos à chaminé à volta do lume de chão. E lá estou eu com a minha prenda de Natal preferida. O quentinho da lareira sabe- me bem, aquece-me as faces. Embora proibida de o fazer, agarro a tenaz para mexer as brasas. Gosto de ver as fagulhas que se levantam logo que lhes chego. A minha mãe ralha, largo a tenaz e levanto-me. Um clarão enorme, chamas azul esverdeadas levantam-se e só após alguns minutos percebo que já não tenho boneca... Era de celulóide e bastaram uns segundos para ser consumida pelas chamas. Choro desesperada . Sei que por muitos anos que ainda viva, nunca mais terei desgosto comparado com este que estou sentindo agora.
-Milena Falcato
Véspera de Natal. Mal posso esperar.
Não sei porque gosto tanto do Natal. Talvez pela ceia, os doces e as prendas.
Cá em casa somos 10 irmãos . Só há prendas muito pequeninas e são só para as meninas. Este ano somos só 3 que a Natália está em casa do tio Carreço.
Antes de virmos dormir lá alinhámos os sapatos na chaminé.
Avistámos no escritório uma grande caixa de cartão muito bem fechada mas tivemos medo de a abrir.
Subi de má vontade para o quarto com as minhas irmãs e preparo-me para uma noite sem sono.
25 de Dezembro
Nunca me vou esquecer deste Natal.
Depois de uma longa espera, alguma claridade assoma pela janela e diz-me que está a nascer o dia 25. Só aí temos ordem de descer até à cozinha. Acordo as minhas irmãs e precipitamo-nos escada abaixo, atravessamos o quintal (está um frio de rachar e nós em camisa de dormir...) e ali estão, alinhados na chaminé, 8 ou 9 sapatos todos com alguma coisa dentro:
Nos sapatos enormes dos meus irmãos há apenas umas cascas de laranja muito enroladinhas ou uns carvões roubados aos tições da lareira.
E nos nossos? Umas miniaturas de tabletes de chocolate num atado apertado por uma fitinha de seda colorida e uns brinquedos que nos enchem os olhos. Estava ali a explicação da caixa mistério. Brinquedos e jogos a que faltavam peças e que vêm da loja do meu tio Chico porque já não têm venda. Mas no meu sapatinho está mais qualquer coisa do que nas minhas irmãs.
O dono da farmácia Costa, que gosta muito de mim, deixou-me uma prenda de Natal.
Perante a inveja das minhas irmãs desembrulhei o pacote e de lá saíu a mais linda boneca que eu já vi.
Não cabia em mim de contente e durante todo o dia não mais a larguei.
Depois do jantar reunimos-nos todos à chaminé à volta do lume de chão. E lá estou eu com a minha prenda de Natal preferida. O quentinho da lareira sabe- me bem, aquece-me as faces. Embora proibida de o fazer, agarro a tenaz para mexer as brasas. Gosto de ver as fagulhas que se levantam logo que lhes chego. A minha mãe ralha, largo a tenaz e levanto-me. Um clarão enorme, chamas azul esverdeadas levantam-se e só após alguns minutos percebo que já não tenho boneca... Era de celulóide e bastaram uns segundos para ser consumida pelas chamas. Choro desesperada . Sei que por muitos anos que ainda viva, nunca mais terei desgosto comparado com este que estou sentindo agora.
-Milena Falcato
domingo, 24 de novembro de 2013
MULHER
Aquela rosa vermelha
Que estava no jardim
Como vivia sozinha
Chorava mágoas sem fim
Toda a mulher merece
Uma flor bem bonita
Seja ela nova ou velha
Vista de seda ou de chita
Sê tudo o que quiseres ser
E faz o que te apetece
E dá todo o teu amor
A quem achares que merece
As mulheres e as plantas
São parecidas, sim senhor
Umas precisam de água
Outras precisam de amor
Foi lá longe na América
Onde havia preconceitos
Que queimaram trinta operárias
Que lutavam pelos seus direitos
A mulher merece tudo
Tratem-na bem que afinal
Ela é o que melhor existe
Neste nosso Portugal
Toda bela e perfumada
Lá vai passando na rua
Toda mulher é formosa
E tão bela como a Lua
Eglantina
Que estava no jardim
Como vivia sozinha
Chorava mágoas sem fim
Toda a mulher merece
Uma flor bem bonita
Seja ela nova ou velha
Vista de seda ou de chita
Sê tudo o que quiseres ser
E faz o que te apetece
E dá todo o teu amor
A quem achares que merece
As mulheres e as plantas
São parecidas, sim senhor
Umas precisam de água
Outras precisam de amor
Foi lá longe na América
Onde havia preconceitos
Que queimaram trinta operárias
Que lutavam pelos seus direitos
A mulher merece tudo
Tratem-na bem que afinal
Ela é o que melhor existe
Neste nosso Portugal
Toda bela e perfumada
Lá vai passando na rua
Toda mulher é formosa
E tão bela como a Lua
Eglantina
Etiquetas:
Eglantina
Local:Casa Branca
7100 Estremoz, Portugal
A MINHA AVENTURA CASEIRA
Quando vivi num 1º andar da Rua 31 de Janeiro, tinha um lindo gato, de olhos verdes e pêlo comprido, que estava sempre à janela.
Um belo dia, seriam uma sete horas da manhã, eu estava na cozinha a fazer o pequeno almoço, quando ouvi um barulho estranho: era o estore da sala que caía com um enorme estrondo. O meu pensamento foi logo para o gato e corri para a janela, só para ver uma enorme cauda branca que virava a esquina.
Corri escadas abaixo em aflição, a pensar apenas em apanhar o gato. Este assustado, refugiou-se debaixo de um carro e até que eu o conseguisse agarrar e segurar no meu colo apenas emitia um estranho barulho, como um uivo. Finalmente, reparei nos olhares estranhos que os passantes me dirigiam: na minha urgência de apanhar o gato nem reparava que estava de cócoras, na rua, em camisa de dormir.
Este gato era muito mimado e esperto. Fazia xi-xi na sanita, sem que tal o tenhamos ensinado e dormia na cama da minha filha, que na altura ainda vivia connosco. Quando a minha filha se ia deitar, levava-o escondido no casaco, mas eu sempre via a sua cauda pendurada ... era gato escondido com rabo de fora...
Depois deste gato, tive uma cadela preta, pequenina, que um certo dia se escondeu no roupeiro e me fez andar à procura dela durante uma manhã inteira.
Eglantina
EPITÁFIO DA TINA
- Aqui jaz uma mulher que viveu à pressa e não teve tempo para fazer tudo o que queria.
- Sempre teve ânsia de liberdade, finalmente o seu espírito libertou-se.
- Aqui repousa a melhor amiga dos animais.
- Temos saudades tuas e das tuas gargalhadas.
- Que o teu espírito tenha paz, já que a tua vida foi um constante desassossego.
- Repousa em Paz e Descansa, pois toda a vida trabalhaste muito
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
O CORREDOR
Em jovem vivi numa casa grande com grandes divisões, ao meio tinha um corredor com portas para quase todas elas.
Imagine-se uma casa de campo nos anos cinquenta, onde tudo era iluminado à luz das velas, candeeiros de petróleo e candeias de azeite. O corredor tinha alguns metros e era dividido ao meio por um arco.
Quando se entrava pela porta das visitas havia um espaço decorado com quadros e um grande espelho sobre uma mesa com uma jarra com flores. Ao meio do arco havia uma imagem de Rainha Santa Isabel para nos abençoar e, no chão, vasos com plantas. Era um espaço bem bonito que dava acesso à sala de visitas.
Do outro lado do arco era a parte pobre do corredor, só com um cabide para pendurar casacos e a porta de acesso à cozinha, onde se encontrava uma grande chaminé, onde à noite ardia uma grande lareira e onde se fazia o serão, à luz do candeeiro a petróleo, e se contavam anedotas e histórias de feitiçarias, em que muita gente acreditava. Terminado o serão, voltava-se ao corredor com as velas a iluminar o percurso até aos quartos. À passagem pelo corredor, as velas projetavam sombras, como se de fantasmas se tratasse e também se ouvia o ranger do soalho, o que era assustador.
Eglantina
terça-feira, 19 de novembro de 2013
CARLITOS
Éramos
10 irmãos na nossa casa. A minha madrinha, que não podia ter filhos, pediu aos
meus pais que me deixassem ir morar com eles. Nunca soube ao certo que idade
teria mas devia ser ainda bebé.
Vivi em casa dos meus padrinhos até aos seis anos e meio como filha única muito mimada principalmente pelo meu padrinho. O pior mesmo era ser filha única e não ter companhia para a brincadeira.
A certa altura descobri, duas ou três portas abaixo na minha rua, a única criança que ali morava além de mim. Carlinhos era o seu nome e ainda hoje o recordo com imensa saudade e uma raiva enorme de o ter deixado morrer sem o tentar rever.
O Carlinhos, um ou dois anos mais velho, tinha o dom especial para inventar brincadeiras que nos habilitavam a uns bons açoites.
História número um :
O pai era dentista e precisava de sossego, a mãe não nos queria a atrapalhar na cozinha e, para nosso deleite, mandava-nos para o quarto de casal que era a maior divisão da casa e onde podíamos brincar à vontade.
Assim que entrava queria logo saber qual era a brincadeira do dia .
Nesse dia, como sempre aliás, já a tinha estudada.
- Hoje vamos brincar aos circos. Ora os circos têm um teto de pano e ele já tinha estudado como o fazer. Tirou colcha da cama e tentou estendê-la nos quatro ferros mas era pesada e caía. Tirámos as bolas de cobre que encimavam cada um mas escorregava na mesma. Então, com muito esforço, tentámos furar os ferros nos quatro cantos da colcha e acabámos " a obra " com o auxílio duma tesoura...
O que nós nos divertimos! Houve acrobatas, malabaristas, palhaços e muita muita risota que acabou por chamar a atenção da mãe e calcula-se o que foi .
Cada um para sua casa para lhe ser aplicado o respetivo castigo...
Para nós era igual porque se repetia todos os dias...
História número dois:
Eu tinha umas lindas tranças que o meu padrinho adorava. A minha madrinha
era grande admiradora da Shirley Temple e do seus caracóis. Não descansou enquanto não me cortou as tranças e me encheu a cabeça de caracóis.!
Para melhor os moldar, apartava-me grande parte dos cabelos no cimo da cabeça e, com um gancho que se usava na altura, enrolava-o todo muito bem fechando depois o gancho a prender todo o rolo.
E foi neste preparo que cheguei a casa do Carlinhos. Logo ali teve a brilhante ideia de irmos brincar aos cabeleireiros.
Foi à cozinha tirar uma toalha que me atou ao pescoço e uma tesoura que conseguira surripiar.
Com uma mão agarrou no gancho e õcom a outra, ainda que com alguma dificuldade, cortou rente todo aquele cabelo que estava preso no gancho. Calculo hoje o susto e desgosto da minha madrinha quando me viu aparecer em casa com uma careca que apanhava todo o cimo da cabeça...
Lá se foi, e da pior maneira, o sonho de ter em casa uma Shirley Temple
História número três:
Eu tinha brinquedos caros e o meu padrinho já não sabia o que me dar.
Naquele dia fora a Lisboa e trouxera-me uma boneca de cartão muito grosso.
Teria uns 40 cm de altura e um pedestal em Madeira que a mantinha de pé. Os olhos muito grandes mexiam e apertando a barriga chorava. Tinha depois vestidos, sapatos, chapéus, roupa interior, enfim toda a espécie de acessórios que se possa imaginar.
Mal tive tempo de desembrulhar o presente corri a casa do meu amigo pois naquele dia teríamos um brinquedo que nos manteria activos por muito tempo porque havia muito que vestir e despir à Bonecao
Depressa se cansou e surgiu-lhe uma idéia melhor:
- Hoje vamos brincar aos jantarinhos!
Foi buscar uma panela, umas tesouras, umas facas, umas toalhas a fazer de aventais e estavam os chefes cozinheiros prontos a começar o dia...
Começou pelo fato que, como era de cartolina ainda que forte, conseguíamos cortar com a tesoura. Com muito trabalho lá conseguimos enfiar tudo em bocadinhos dentro da panela.
Até aqui tudo bem (mal) ! Mas hei-nos chegados à boneca propriamente dita que era muito grossa para a tesoura. Teve que ir buscar uma faca de serrilha e, mesmo assim, foi com um enorme esforço que juntámos uns três bocados à sopa que já estava na panela. Não sei se chegámos a comer a sopa mas "outra sopa " me esperava em casa e com muita razão...
Ainda me recorda o desgosto de não ter sequer chegado a brincar com a minha linda boneca...
Contando que já se passaram uns 75anos dada a qualidade do brinquedo, não deve ter sido nada barato.
-Milena Falcato (Novembro 2013)
Vivi em casa dos meus padrinhos até aos seis anos e meio como filha única muito mimada principalmente pelo meu padrinho. O pior mesmo era ser filha única e não ter companhia para a brincadeira.
A certa altura descobri, duas ou três portas abaixo na minha rua, a única criança que ali morava além de mim. Carlinhos era o seu nome e ainda hoje o recordo com imensa saudade e uma raiva enorme de o ter deixado morrer sem o tentar rever.
O Carlinhos, um ou dois anos mais velho, tinha o dom especial para inventar brincadeiras que nos habilitavam a uns bons açoites.
História número um :
O pai era dentista e precisava de sossego, a mãe não nos queria a atrapalhar na cozinha e, para nosso deleite, mandava-nos para o quarto de casal que era a maior divisão da casa e onde podíamos brincar à vontade.
Assim que entrava queria logo saber qual era a brincadeira do dia .
Nesse dia, como sempre aliás, já a tinha estudada.
- Hoje vamos brincar aos circos. Ora os circos têm um teto de pano e ele já tinha estudado como o fazer. Tirou colcha da cama e tentou estendê-la nos quatro ferros mas era pesada e caía. Tirámos as bolas de cobre que encimavam cada um mas escorregava na mesma. Então, com muito esforço, tentámos furar os ferros nos quatro cantos da colcha e acabámos " a obra " com o auxílio duma tesoura...
O que nós nos divertimos! Houve acrobatas, malabaristas, palhaços e muita muita risota que acabou por chamar a atenção da mãe e calcula-se o que foi .
Cada um para sua casa para lhe ser aplicado o respetivo castigo...
Para nós era igual porque se repetia todos os dias...
História número dois:
Eu tinha umas lindas tranças que o meu padrinho adorava. A minha madrinha
era grande admiradora da Shirley Temple e do seus caracóis. Não descansou enquanto não me cortou as tranças e me encheu a cabeça de caracóis.!
Para melhor os moldar, apartava-me grande parte dos cabelos no cimo da cabeça e, com um gancho que se usava na altura, enrolava-o todo muito bem fechando depois o gancho a prender todo o rolo.
E foi neste preparo que cheguei a casa do Carlinhos. Logo ali teve a brilhante ideia de irmos brincar aos cabeleireiros.
Foi à cozinha tirar uma toalha que me atou ao pescoço e uma tesoura que conseguira surripiar.
Com uma mão agarrou no gancho e õcom a outra, ainda que com alguma dificuldade, cortou rente todo aquele cabelo que estava preso no gancho. Calculo hoje o susto e desgosto da minha madrinha quando me viu aparecer em casa com uma careca que apanhava todo o cimo da cabeça...
Lá se foi, e da pior maneira, o sonho de ter em casa uma Shirley Temple
História número três:
Eu tinha brinquedos caros e o meu padrinho já não sabia o que me dar.
Naquele dia fora a Lisboa e trouxera-me uma boneca de cartão muito grosso.
Teria uns 40 cm de altura e um pedestal em Madeira que a mantinha de pé. Os olhos muito grandes mexiam e apertando a barriga chorava. Tinha depois vestidos, sapatos, chapéus, roupa interior, enfim toda a espécie de acessórios que se possa imaginar.
Mal tive tempo de desembrulhar o presente corri a casa do meu amigo pois naquele dia teríamos um brinquedo que nos manteria activos por muito tempo porque havia muito que vestir e despir à Bonecao
Depressa se cansou e surgiu-lhe uma idéia melhor:
- Hoje vamos brincar aos jantarinhos!
Foi buscar uma panela, umas tesouras, umas facas, umas toalhas a fazer de aventais e estavam os chefes cozinheiros prontos a começar o dia...
Começou pelo fato que, como era de cartolina ainda que forte, conseguíamos cortar com a tesoura. Com muito trabalho lá conseguimos enfiar tudo em bocadinhos dentro da panela.
Até aqui tudo bem (mal) ! Mas hei-nos chegados à boneca propriamente dita que era muito grossa para a tesoura. Teve que ir buscar uma faca de serrilha e, mesmo assim, foi com um enorme esforço que juntámos uns três bocados à sopa que já estava na panela. Não sei se chegámos a comer a sopa mas "outra sopa " me esperava em casa e com muita razão...
Ainda me recorda o desgosto de não ter sequer chegado a brincar com a minha linda boneca...
Contando que já se passaram uns 75anos dada a qualidade do brinquedo, não deve ter sido nada barato.
-Milena Falcato (Novembro 2013)
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