OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

BOLSINHA PORTA-MOEDAS


Bolsinha em Prata



Tinha uma linda bolsinha
Toda ela em prata lavrada
Que me deu minha madrinha
Onde eu guardava a mesada

Um dia que fui teimosa
À missa, eu a levei
Sentia-me tão vaidosa
Que minha mãe não escutei

Mas saiu-me bem cara
Esta minha teimosia
Pois a bolsinha de prata
Nos bolsos a não trazia

Muito chorei nesse dia
mas aprendi a lição
Escutar o que a mãe dizia
Sempre com muita atenção

Aula Poesia e Contos   6 de Fevereiro de 2014

São Sebastião

RUMO DA MINHA VIDA...

Sonhei, sonhar é fácil!... Concretizar esses sonhos é que é mais difícil.
Sonhei um dia, que quando tivesse cabelos brancos e os filhos criados, que iria viver com o meu marido para o Alentejo. Nesse tempo, era para o Baixo Alentejo pois o meu marido é de lá, mas afinal não foi para o Baixo Alentejo , mas sim para o Alto Alentejo, para Estremoz.
O meu sonho não era só esse; mas também  eu  com o meu marido iriamos percorrer o nosso Portugal, de lés-a-lés, sem termos horários nem contas a darmos a ninguém.
Mas, o destino assim não o quis!
Deu-me já nesta idade um neto, e assim, em vez de sermos avós, somos pais-avós. Não é que eu não esteja satisfeita com o nascimento do meu neto e de ter que o criar, cuidar e educar como se ele fosse meu filho. Mas, o que é certo é que os meus sonhos de ter uma velhice tranquila e sem preocupações se gorou.
Não me sinto arrependida de ter trocado os meus sonhos pelo meu neto, pois quando os seus pais se separaram não tinham condições para o educar.
Estou feliz por lhe poder dar uma vida melhor que aquela se ele tivesse ficado a viver com a mãe. Nem sempre as perdas são más.

Aula de Poesia e Conto, Academia Sénior de Estremoz Fevereiro 2014
São  ( 66 anos) 

A GRANDE PERDA

A nossa casa, meu amor, a nossa casa
Ficou ali tão só e abandonada,
Como a ave que ao voar perdeu a asa
Assim me sinto eu desamparada.

Parece que foi ontem, meu amor,
No silêncio de tanta noite estrelada
À tua espera com carinho e com ardor
Que eu sentia os teus passos à chegada

De mãos dadas, tu e eu, tão pobrezinhos
Mas co'a riqueza de termos dois filhinhos
Dia a dia lá fomos labutando

Tão curto foi o caminho percorrido
Perdi-te para sempre meu querido
E agora vou sozinha mendigando

Aula de Poesia e Contos Academia Sénior de Estremoz   Fevereiro 2014

Lúcia Cóias

NO DIA DOS NAMORADOS, VEM A ESTREMOZ

Vem a Estremoz meu amor
Encanto dos meus olhos
E abraça-me com calor
Pr'a beijar os lábios teus

Não te vás embora ainda
Fica, dá-me mais um beijo
Em Estremoz cidade linda
Do meu querido Alentejo

Vem comigo festejar
O dia dos namorados
Em Estremoz vamos ficar
P'ra todo o sempre ligados

Eu queria cantar-te um fado
Que pena não tenho voz
Dou-te um beijo de bom grado
Na cidade de Estremoz

Oh! que encanto tão belo
Meu amor minha riqueza
Anda comigo ao Castelo
Namoramos com certeza

Fui a Estremoz em passeio
Achei-lhe graça tamanha
Meu barquinho de recreio
Contigo andei no Gadanha

Fica em Estremoz meu amor
Cidade que nos encanta
Nela viveu e morreu
A nossa Rainha Santa

Deste-me o teu coração
em troca eu dei-te o meu
Foi grande a nossa paixão
Em Estremoz levei-te ao Céu

Tenho-te amor acredita
Não sejas tão fatalista
Em Estremoz cidade linda
Tu foste a minha conquista

Aula de Poesia e Contos Academia Sénior de Estremoz 14 Fevereiro 2014

Lúcia Cóias


ESTAÇÕES E APEADEIROS DA MINHA VIDA



Perdi tudo na vida
Pelo menos do que me lembro
Era ainda muito nova
E já corria como o vento


Perdi o sonho do amor
Que me fugiu entre as mãos
Perdi tudo na altura
Em que acabou a paixão

Perdi a minha mana
O que muito me revoltou
Ainda tenho saudades dela
Que partiu e não voltou

Mas ganhei uma flor
 dia que a minha filha nasceu
Foi a maior alegria
E graça que Deus me deu

Espero não perder na vida
Nunca este apeadeiro
Pela ordem da vida
Espero partir primeiro

Com o passar dos anos
Na vida tudo se perde
Perdemos família e amigos

Só não se perdem desenganos.



Aula de Poesia e Conto - Eglantina , Fevereiro 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Se Me Esqueceres


Quero que saibas 
uma coisa. 

Sabes como é: 
se olho 
a lua de cristal, o ramo vermelho 
do lento outono à minha janela, 
se toco 
junto do lume 
a impalpável cinza 
ou o enrugado corpo da lenha, 
tudo me leva para ti, 
como se tudo o que existe, 
aromas, luz, metais, 
fosse pequenos barcos que navegam 
até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 
se pouco a pouco me deixas de amar 
deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 
me esqueceres 
não me procures, 
porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 
o vento de bandeiras 
que passa pela minha vida 
e te resolves 
a deixar-me na margem 
do coração em que tenho raízes, 
pensa 
que nesse dia,


 a essa hora
 
levantarei os braços 
e as minhas raízes sairão 
em busca de outra terra. 

Porém 
se todos os dias, 
a toda a hora, 
te sentes destinada a mim 
com doçura implacável, 
se todos os dias uma flor 
uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 
ai meu amor, ai minha amada, 
em mim todo esse fogo se repete, 
em mim nada se apaga nem se esquece, 
o meu amor alimenta-se do teu amor, 
e enquanto viveres estará nos teus braços 
sem sair dos meus. 

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
Chile  1904 // 1973  Poeta / escritor




PABLO NERUDA

SONETO AMOROSO DEFENDENDO O AMOR

FRANCISCO QUEVEDO
  É gelo abrasador, fogo gelado, 
é ferida que dói e não se sente, 
é um sonhado bem, um mal presente, 
é um breve descanso fatigado; 
    é um sossego que nos dá cuidado, 
um cobarde com nome de valente, 
solitário andar por entre gente, 
um amar nada mais que ser amado; 
    é uma liberdade encarcerada, 
que dura até ao último momento; 
doença que piora se é tratada. 
    Este o menino Amor, o seu tormento. 
Vede a amizade que terá com nada 
o que em tudo vai contra o seu intento! 

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética' 
Tradução de José Bento

Espanha 1580 // 1645   Poeta

Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços

FLORBELA ESPANCA
Tenho saudades da carícia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dão vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu toda a gente é mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha pensado fazer. Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer. 

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"
Vila Viçosa 1894 // 1930  Poetisa  


Presídio


DAVID MOURÃO-FERREIRA
Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo 
Que dizer do pescoço, às vezes mármore, 
às vezes linho, lago, tronco de árvore, 
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...? 

E o ventre, inconsistente como o lodo?... 
E o morno gradeamento dos teus braços? 
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne: 
é também água, terra, vento, fogo... 

É sobretudo sombra à despedida; 
onda de pedra em cada reencontro; 
no parque da memória o fugidio 

vulto da Primavera em pleno Outono... 
Nem só de carne é feito este presídio, 
pois no teu corpo existe o mundo todo! 

David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética” 

Portugal 1927 // 1996 Poeta/Escritor

Soneto do Maior Amor

  
VINICIUS DE MORAES
Maior amor nem mais estranho existe 
Que o meu, que não sossega a coisa amada 
E quando a sente alegre, fica triste 
E se a vê descontente, dá risada. 

E que só fica em paz se lhe resiste 
O amado coração, e que se agrada 
Mais da vida eterna aventura em que persiste 
Que de uma vida mal-aventurada. 

Louco amor meu, que quando toca, fere 
E quando fere vibra, mas prefere 
Ferir a fenecer – e vive a esmo 

Fiel à sua lei de cada instante 
Desassombrado, doido delirante 
Numa paixão de tudo e de si mesmo. 

Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'

Brasil  1913 // 1980  Diplomata/ Poeta/ escritor