OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

OS BOMBEIROS DE ESTREMOZ



Lá vão os nossos bombeiros

Com as mangueiras no ar
Vão todos muito apressados
Para os fogos apagar

Correm todos apressados
Para aliviar a dor
Dos sinistrados da estrada
Que tratam com muito amor

Mas nós temos que brincar
Há muita espécie de fogo
Se uma moça tem calor
Eles também correm logo

Precisam de viaturas novas
Principalmente de ambulâncias
Algumas estão tão usadas
Que os tombos nos dão ânsias 

E precisam de dinheiro
Vamos todos ajudar
Quero vê-los bem garbosos
E com o estandarte no ar

http://colorir.estaticos.net/desenhos/color/201101/abddcdb384d059b34f357237a01d54f5.pngGosto de os ver a marchar
E desfilar com a fanfarra
Estes soldados da paz
São formigas não cigarras

Quando ouço ambulâncias
Para mim é uma aflição
Será que vão apagar fogo
Ou será uma inundação?

E lá vão todos janotas
Com as fardas a brilhar
São os bombeiros de Estremoz

Ninguém os pode parar




Eglantina  2014

BOLSINHA PORTA-MOEDAS


Bolsinha em Prata



Tinha uma linda bolsinha
Toda ela em prata lavrada
Que me deu minha madrinha
Onde eu guardava a mesada

Um dia que fui teimosa
À missa, eu a levei
Sentia-me tão vaidosa
Que minha mãe não escutei

Mas saiu-me bem cara
Esta minha teimosia
Pois a bolsinha de prata
Nos bolsos a não trazia

Muito chorei nesse dia
mas aprendi a lição
Escutar o que a mãe dizia
Sempre com muita atenção

Aula Poesia e Contos   6 de Fevereiro de 2014

São Sebastião

RUMO DA MINHA VIDA...

Sonhei, sonhar é fácil!... Concretizar esses sonhos é que é mais difícil.
Sonhei um dia, que quando tivesse cabelos brancos e os filhos criados, que iria viver com o meu marido para o Alentejo. Nesse tempo, era para o Baixo Alentejo pois o meu marido é de lá, mas afinal não foi para o Baixo Alentejo , mas sim para o Alto Alentejo, para Estremoz.
O meu sonho não era só esse; mas também  eu  com o meu marido iriamos percorrer o nosso Portugal, de lés-a-lés, sem termos horários nem contas a darmos a ninguém.
Mas, o destino assim não o quis!
Deu-me já nesta idade um neto, e assim, em vez de sermos avós, somos pais-avós. Não é que eu não esteja satisfeita com o nascimento do meu neto e de ter que o criar, cuidar e educar como se ele fosse meu filho. Mas, o que é certo é que os meus sonhos de ter uma velhice tranquila e sem preocupações se gorou.
Não me sinto arrependida de ter trocado os meus sonhos pelo meu neto, pois quando os seus pais se separaram não tinham condições para o educar.
Estou feliz por lhe poder dar uma vida melhor que aquela se ele tivesse ficado a viver com a mãe. Nem sempre as perdas são más.

Aula de Poesia e Conto, Academia Sénior de Estremoz Fevereiro 2014
São  ( 66 anos) 

A GRANDE PERDA

A nossa casa, meu amor, a nossa casa
Ficou ali tão só e abandonada,
Como a ave que ao voar perdeu a asa
Assim me sinto eu desamparada.

Parece que foi ontem, meu amor,
No silêncio de tanta noite estrelada
À tua espera com carinho e com ardor
Que eu sentia os teus passos à chegada

De mãos dadas, tu e eu, tão pobrezinhos
Mas co'a riqueza de termos dois filhinhos
Dia a dia lá fomos labutando

Tão curto foi o caminho percorrido
Perdi-te para sempre meu querido
E agora vou sozinha mendigando

Aula de Poesia e Contos Academia Sénior de Estremoz   Fevereiro 2014

Lúcia Cóias

NO DIA DOS NAMORADOS, VEM A ESTREMOZ

Vem a Estremoz meu amor
Encanto dos meus olhos
E abraça-me com calor
Pr'a beijar os lábios teus

Não te vás embora ainda
Fica, dá-me mais um beijo
Em Estremoz cidade linda
Do meu querido Alentejo

Vem comigo festejar
O dia dos namorados
Em Estremoz vamos ficar
P'ra todo o sempre ligados

Eu queria cantar-te um fado
Que pena não tenho voz
Dou-te um beijo de bom grado
Na cidade de Estremoz

Oh! que encanto tão belo
Meu amor minha riqueza
Anda comigo ao Castelo
Namoramos com certeza

Fui a Estremoz em passeio
Achei-lhe graça tamanha
Meu barquinho de recreio
Contigo andei no Gadanha

Fica em Estremoz meu amor
Cidade que nos encanta
Nela viveu e morreu
A nossa Rainha Santa

Deste-me o teu coração
em troca eu dei-te o meu
Foi grande a nossa paixão
Em Estremoz levei-te ao Céu

Tenho-te amor acredita
Não sejas tão fatalista
Em Estremoz cidade linda
Tu foste a minha conquista

Aula de Poesia e Contos Academia Sénior de Estremoz 14 Fevereiro 2014

Lúcia Cóias


ESTAÇÕES E APEADEIROS DA MINHA VIDA



Perdi tudo na vida
Pelo menos do que me lembro
Era ainda muito nova
E já corria como o vento


Perdi o sonho do amor
Que me fugiu entre as mãos
Perdi tudo na altura
Em que acabou a paixão

Perdi a minha mana
O que muito me revoltou
Ainda tenho saudades dela
Que partiu e não voltou

Mas ganhei uma flor
 dia que a minha filha nasceu
Foi a maior alegria
E graça que Deus me deu

Espero não perder na vida
Nunca este apeadeiro
Pela ordem da vida
Espero partir primeiro

Com o passar dos anos
Na vida tudo se perde
Perdemos família e amigos

Só não se perdem desenganos.



Aula de Poesia e Conto - Eglantina , Fevereiro 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Se Me Esqueceres


Quero que saibas 
uma coisa. 

Sabes como é: 
se olho 
a lua de cristal, o ramo vermelho 
do lento outono à minha janela, 
se toco 
junto do lume 
a impalpável cinza 
ou o enrugado corpo da lenha, 
tudo me leva para ti, 
como se tudo o que existe, 
aromas, luz, metais, 
fosse pequenos barcos que navegam 
até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 
se pouco a pouco me deixas de amar 
deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 
me esqueceres 
não me procures, 
porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 
o vento de bandeiras 
que passa pela minha vida 
e te resolves 
a deixar-me na margem 
do coração em que tenho raízes, 
pensa 
que nesse dia,


 a essa hora
 
levantarei os braços 
e as minhas raízes sairão 
em busca de outra terra. 

Porém 
se todos os dias, 
a toda a hora, 
te sentes destinada a mim 
com doçura implacável, 
se todos os dias uma flor 
uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 
ai meu amor, ai minha amada, 
em mim todo esse fogo se repete, 
em mim nada se apaga nem se esquece, 
o meu amor alimenta-se do teu amor, 
e enquanto viveres estará nos teus braços 
sem sair dos meus. 

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
Chile  1904 // 1973  Poeta / escritor




PABLO NERUDA

SONETO AMOROSO DEFENDENDO O AMOR

FRANCISCO QUEVEDO
  É gelo abrasador, fogo gelado, 
é ferida que dói e não se sente, 
é um sonhado bem, um mal presente, 
é um breve descanso fatigado; 
    é um sossego que nos dá cuidado, 
um cobarde com nome de valente, 
solitário andar por entre gente, 
um amar nada mais que ser amado; 
    é uma liberdade encarcerada, 
que dura até ao último momento; 
doença que piora se é tratada. 
    Este o menino Amor, o seu tormento. 
Vede a amizade que terá com nada 
o que em tudo vai contra o seu intento! 

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética' 
Tradução de José Bento

Espanha 1580 // 1645   Poeta

Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços

FLORBELA ESPANCA
Tenho saudades da carícia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dão vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu toda a gente é mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha pensado fazer. Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer. 

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"
Vila Viçosa 1894 // 1930  Poetisa  


Presídio


DAVID MOURÃO-FERREIRA
Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo 
Que dizer do pescoço, às vezes mármore, 
às vezes linho, lago, tronco de árvore, 
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...? 

E o ventre, inconsistente como o lodo?... 
E o morno gradeamento dos teus braços? 
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne: 
é também água, terra, vento, fogo... 

É sobretudo sombra à despedida; 
onda de pedra em cada reencontro; 
no parque da memória o fugidio 

vulto da Primavera em pleno Outono... 
Nem só de carne é feito este presídio, 
pois no teu corpo existe o mundo todo! 

David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética” 

Portugal 1927 // 1996 Poeta/Escritor