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domingo, 26 de janeiro de 2014

O SÓTÃO

A casa da minha avó Bárbara tinha um sótão a todo o tamanho da casa, por isso, era um sótão muito grande. Podíamos andar ali em pé; junto às paredes era mais baixo, havia a toda a volta arcas onde se guardavam roupas velhas. Para o sótão iam  todas as coisas inúteis que já não tinham qualquer préstimo. Lembro-me de uma cama de ferro com enxergas de palha, um canapé de madeira, caixas de pele para guardar chapéus, malas de viagem, baús de pele, com a pele muito retorcida onde as preguetas tinham caído, sapatos velhos e muitas outras coisas. 
Mas, a primeira coisa que me vem à memória é o cavalete de pintura com as suas bisnagas de tinta de óleo que se encontravam no suporte do cavalete e os pincéis lavados, como se o pintor tivesse estado a pintar e tivesse deixado o quadro por acabar. Pendurada no cavalete estava a paleta, suja das muitas e muitas cores que tinham sido utilizadas para pintar os quadros que estavam pendurados nas paredes da casa da minha avó. Mas, aquele cavalete estava ali há anos, desde que o meu tio Zé Varela tinha ido com 17 anos para Estremoz, nunca mais ninguém o usou.
Anos mais tarde, quando eu já era uma adolescente, e pensando que o meu tio não se lembrava mais das tintas nem dos pincéis, resolvi levá-las para minha casa para as usar; contudo, como eu não sabia que eram tintas de óleo, juntei-lhe água e estraguei tudo; por isso, nunca consegui tirar qualquer proveito delas, nem pintar nada... assim foi a minha primeira experiência com a pintura. 
Quando eu queria ir ao sótão, pedia à minha avó que me deixasse lá ir, mas ela nunca mostrava vontade que eu para lá fosse. Nunca me deixava ir com as minhas amigas. Eu ia sempre sozinha, por isso não me demorava lá muito tempo, depressa me aborrecia. 
A um canto do sótão, estava um quadrado de 2 por 2 metros, protegido com traves de madeira, de um palmo de altura, que quando havia loja servia para guardar os candeeiros e as chaminés de vidro. Nesse quadrado guardavam-se cartas, postais e muitas facturas antigas, do tempo da loja. Entretinha-me a ler muitos dos papéis que ali se encontravam, apesar do pó, levava ali uma grande parte do tempo a ler cartas e postais.
O cheiro a pó e a coisas velhas guardadas ali há muito, muito tempo, assim como a luz do sol a entrar pelas pequenas clarabóias davam àquele lugar um ambiente muito especial, que me atraía. Nunca gostei de estar sozinha, por isso, como não podia levar amigas para brincar, não me demorava ali muito tempo.  
Aquele espaço onde os ruídos do exterior chegavam abafados, quente e seco era um local mítico... que a minha avó não compreendia muito bem, qual a razão de eu gostar de ir para lá... no meio de tanta coisa velha e sem préstimo...


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