OS NOSSOS ESCRITOS

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A CAMINHO DA ESCOLA

Para chegar à escola tinha que atravessar quase toda a cidade mas sempre fui sozinha desde o primeiro dia. Não como hoje acontece com os pais ou familiares a acompanhar as crianças quatro vezes ao dia.
Eu nunca tinha apetite e muito menos ao pequeno almoço. A minha mãe fazia de tudo para que eu comesse e, quando já não havia nada a fazer, dava-me 5 tostões para comprar um brinhol na  Ti 'Dalina. Por vezes tinha direito a um ovo assado nas brasas da fornalha batido com cerveja preta e muito  açúcar que eu apreciava no primeiro dia mas que depressa enjoava.
Fosse a comer o pequeno almoço em casa, fosse a ir à barraca comprar o brinhol, sempre perdia tempo mais que suficiente para chegar atrasada. Claro que, à minha espera logo que pisava o portado da sala, tinha a D. Ludovina à minha espera de régua em riste e muitas vezes era este o único pequeno almoço do dia.
Mesmo sabendo o que me esperava arranjava sempre alguma entretenga para o caminho. Lembro-me particularmente de uma brincadeira  com que me divertia sempre que encontrava mais companheiras no caminho. Para chegar à escola, depois de sair do Largo de S. José onde morava, tinha que percorrer toda a rua de S. António para entrar no Rossio onde ia ao brinhol. Aí já se iam juntando algumas colegas mas a maior parte só surgiriam no largo onde é agora a praça de taxis e o Tribunal. No lugar deste era a Igreja de S. André e onde estão os táxis era a praça de hortaliças. Nesse largo começava então a brincadeira.
Dávamos todas as mãos e algumas de nós seguíamos de olhos fechados guiadas pelas outras. Todas queriam ser a tapar os olhos e havia sempre discussão. Um dia, sem darmos por isso, todas fechámos os olhos ao mesmo tempo e zás! dou com toda a força num candeeiro!!!
Dali ainda tínhamos de atravessar o Terreiro das Covas, a Rua das Freiras e só depois de passar a Fonte de Espírito Santo chegávamos à escola na Rua da Levada. Estão a ver o que tinha de andar para ir à escola? Não admira que chegasse todos os dias em último lugar...
Naquele dia para além do atraso levava metade da cara toda negra e não consegui convencer a professora que tinha caído da cama e não fora tabefe da minha mãe. Antes isso que descobrir o verdadeiro motivo daquele inchaço. Então é que eu ficava com um inchaço maior do outro lado...
Como todos os dias chegava atrasada lá estava ela sempre atrás da porta à minha espera:
-Outra vez a pisar ovos? E trás! Lá vinha a primeira dose do dia!
Uma vez, ao querer apanhar uma companheira, escapou-lhe a régua e bateu com tanta força na carteira que a partiu. Durante uns dias houve folga mas eu , esperando que ela me ficasse muito agradecida disse-lhe que lhe traria um régua nova. Pediria ao meu tio Júlio que era carpinteiro que a fizesse.
Mas o meu tio nunca arranjava vagar para aceder ao meu pedido e ela não me largava,  todos os dias a pedir- me a régua. Um dia em que já não sabia o que lhe dizer, levantei-me com o propósito de não sair de casa sem a dita.
Fui- me ter com o meu tio e tanto o chateei que ele me mandou esperar e logo ali se pôs a fazê-la. Esperei e esperei até que ele acabasse o trabalho. Era uma linda régua de azinho, única madeira com que o meu tio trabalhava, pesada e bem mais grossa que a primeira.
Desta vez em lugar de chegar atrasada chegaria atrasadíssima. Não importava!  Levava-lhe aquela prenda que tanta falta lhe fazia e até me iria agradecer.
Todo o caminho me fui tentando convencer que assim seria e quando cheguei toda ufana apresentei-lhe a régua novinha em folha.
-Outra vez atrasada! gritou. E agarrando na linda prenda que lhe levava deu-me com ela nas mãos enquanto gritava:
-Pois vais já estreá-la!!!
E,  nem nesse dia,  a megera me poupou...


Maria Helena Alves   Novembro 2013

sábado, 16 de novembro de 2013

HISTÓRIA DA CAROCHINHA

Era uma vez uma carochinha que andava a varrer a casinha e achou cinco réis e foi logo ter com uma vizinha e perguntou-lhe: “Oh vizinha, que hei-de eu fazer a estes cinco réis?”
Respondeu-lhe a vizinha: “ Compra doces!”
Nada, nada, que é lambarice!” – respondeu a carochinha
Foi ter com outra vizinha e ela disse-lhe o mesmo; depois foi ter com outra que lhe disse:” Compra fitas,flores,braceletes e brincos, vai-te pôr à janela e diz: "Quem quer   casar com a carochinha, que é bonita e perfeitinha?”
Foi a carochinha comprar muitas fitas, rendas, flores, braceletes de ouro e brincos; enfeitou-se muito enfeitada e foi-se pôr à janela, dizendo:
“Quem quer casar com a carochinha,
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um boi e disse:” Quero eu!”
Como é a tua fala?” –perguntou a carochinha
“Ummm, Ummmm, Ummmmmm” – Mugiu o boi.
“ Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite” – disse a carochinha
O boi foi-se embora. Depois a carochinha tornou outra vez  dizer:
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um burro e disse: “Quero eu, quero eu!”
Como é a tua fala? – perguntou a carochinha
“Em ...ó...em....ó...em....ó...” - zurrou o burro
“Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite!” – disse a carochinha
E o burro foi-se embora.
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Depois passou um porco e a carochinha disse-lhe: - “Deixa-me ouvir a tua fala!”
 “Onnnnn, onnnnn, onnnn” -  grunhiu o porco
“Nada, nada, não me serves que me acordas os meninos de noite.”
E o porco foi-se embora.
Passou um cão e a carochinha disse-lhe: “Deixa-me ouvir a tua fala?
“Béu, béu, béu” – ladrou o cão
“Nada, nada, não me serves que me acordas os meninos de noite!”
E o cão foi-se embora.
Passou um gato, e a carochinha disse-lhe:- ” Deixa-me ouvir a tua fala?”
“Miau, miau, miau” – respondeu o gato
“Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos à noite!” – respondeu a carochinha.
O gato foi-se embora. A carochinha já estava muito triste por não encontrar com quem casar. Pôs-se de novo à janela a dizer:
” Quem quer casar com a carochinha
 que é bonita e perfeitinha?”

Passou um rato e disse : - “Quero eu!”A carochinha perguntou-lhe: “ Como é a tua fala?”
“Chi, chi, chi” – respondeu o rato.
“Tu sim, tu sim, quero casar contigo!” – disse a carochinha muito contente.
Então o ratinho casou com a carochinha e ficou-se chamando João Ratão. Viveram alguns dias muito felizes, mas tendo chegado o Domingo, a Carochinha disse ao João Ratão que ficasse ele a tomar conta na panela que estava ao lume a cozer a sopa, enquanto ela ia à missa.
O João Ratão foi para junto do lume para ver se a sopa estava cozida, meteu a mãe na panela e ficou-lhe lá. Meteu a outra; também lá ficou; meteu-lhe um pé; sucedeu-lhe o mesmo e sem ele dar por isso deu um trambolhão para dentro do caldeirão. E ficou cozido no caldeirão.
Voltou a carochinha da missa e como não visse o João Ratão procurou por todos os buracos e não o encontrou, e disse para consigo: “Ele virá quando quiser, deixa-me ir comer a minha sopa!” . Mas ao deitar a sopa no prato encontrou o João Ratão dentro da panela, morto e cozido.
A carochinha começou a chorar em altos gritos e uma tripeça que ela tinha em casa perguntou-lhe:
Que tens carochinha,
Que estás a chorar?

Morreu o João Ratão
E por isso estou a chorar.

E eu que sou tripeça
Ponho-me a chorar.

 Diz dali uma porta:
 Que tens tu, tripeça
Que estás a dançar?
Morreu o João Ratão
Carochinha está a chorar.
E eu que sou tripeça
Pus-me a dançar.
E eu que sou porta
Ponho-me a abrir e a fechar.

Diz dali uma trave:
 Que tens tu, porta,
Que estás a abrir e a fechar?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
 E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar.
E eu que sou trave
Quebro-me.

Diz dali um pinheiro:
 Que tens, trave,
Que te quebraste?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
 E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar,
E eu quebrei-me.
E eu que sou pinheiro
Arranco-me.

Vieram os passarinhos para descansar no pinheiro e viram-no arrancado e disseram:

Que tens, pinheiro,
Que estás no chão?

Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
E eu arranquei-me.
E nós que somos passarinhos
Vamos tirar os olhinhos.

Os passarinhos tiraram os olhinhos, e depois foram á fonte beber água. E diz-lhe a fonte:

Porque foi passarinhos,
Que tirastes os olhinhos?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
O pinheiro arrancou-se,
E nós passarinhos,
Tirámos os olhinhos
E eu que sou fonte
Seco-me

Vieram os meninos do rei com os seus cantarinhos para levarem água da fonte e acharam-na seca e disseram:

Que tens fonte,
Que secaste?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
Atripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
 E eu sequei-me.
E nós quebramos os cantarinhos.

E foram os meninos para o palácio e a rainha perguntou-lhes:

Que tendes meninos,
 Que quebrastes os cantarinhos?

Morreu o João Ratão
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
 A fonte secou-se.
E nós quebramos os cantarinhos.
Pois eu que sou rainha
Andarei em fralda pela cozinha.

Diz dali o rei:
E eu vou arrastar o cu
Pelas brasas....
(Versão de Coimbra)


Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Ed. Leya (Pág. 43-47)









A FORMIGA E A NEVE

Uma formiga prendeu o pé na neve.
 Disse a formiga:: “Oh neve, tu és tão forte que o meu pé prendes!”
Responde a neve: “ Tão forte sou eu que o Sol me derrete”
Disse a formiga: “ Oh Sol tu és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende!”
Responde o Sol:” Tão forte sou eu que a parede me impede!”
Disse a formiga: “Oh parede tu és tão forte que impedes o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde a parede:” Tão forte sou eu que o rato me fura!”
Disse a formiga: “Oh rato tu és tão forte que furas a parede que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
“Responde o rato:” Tão forte sou eu, que o gato me come!”
Disse a formiga: “Oh gato tu és tão forte que comes o rato, que fura a parede que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o gato:”Tão forte sou eu, que o cão me morde!”
Disse a formiga: “Oh cão, tu és tão forte que mordes o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o cão:” Tão forte sou eu que o pau me bate!”
Disse a formiga: “Oh pau tu és tão forte que bates no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o pau: “ Tão forte sou eu, que o lume me queima!”
Disse a formiga: “Oh lume, tu és tão forte que queimas o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o lume:”Tão forte sou eu que a água me apaga!”
Disse a formiga: “Oh água, tu és tão forte que apagas o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde a água: “ Tão forte sou eu que o boi me bebe!”
Disse a formiga: “Oh boi, tu és tão forte que bebes a água, que apaga o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o boi:” Tão forte sou eu que o carniceiro me mata!”
Disse a formiga: “Oh carniceiro, tu és tão forte que matas o boi, que bebe a água, que apaga o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o carniceiro: “ Tão forte sou eu, que a morte me leva!”



Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Ed. Leya,  (pág 48-49)

O MACACO E A ROMÃZEIRA

Era uma vez um macaco que estava em cima de uma oliveira a comer uma romã; sucedeu que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e, passado pouco tempo, nasceu uma romãzeira.
Quando o macaco viu a romãzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e disse-lhe:
“Arranca a tua oliveira para crescer a minha romãzeira!”
Responde o homem: “Não estou para isso!”
Foi-se o macaco ter com a justiça e disse-lhe: “Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira para crescer a minha romãzeira!”
Responde a justiça: “ Não estou para isso!”
Foi-se o macaco ter com o rei e disse-lhe:”Rei, tira a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o rei: “ Não estou para isso!”
Foi o macaco ter com a rainha: “ Rainha, põe-te mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde a rainha: “ Não estou para isso!”
Foi-se ter com o rato:”Rato, rói as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o rato: “Não estou para isso!”
Foi ter com o gato: “ Oh gato, come o rato, para ele roer as camisas à rainha para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o gato:”Não estou para isso!”
Foi-se ter com o cão:”Oh cão, morde o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o cão:” Não estou para isso!”
Foi ao pau e disse-lhe: Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o pau:”Não estou para isso!”
Foi ter com o lume: “Oh lume, queima o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
“Responde o lume: “ Não estou para isso!”
Foi ter com a água:”Oh água, apaga o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
A água responde: “ Não estou para isso!”
Foi ter com o boi: “Oh boi, bebe a água para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
O boi responde: “Não estou para isso!”
Foi ter com o carniceiro: “ Oh carniceiro, mata o boi para ele beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
Responde o carniceiro: “ Não estou para isso!”
Foi ter com a morte:” Oh morte, leva o carniceiro, para ele matar o boi, para ele beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele comer o rato , para ele roer as camisas à rainha, para ela se pôr mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira!”
A morte disse que sim. A morte ia levar o carniceiro e ele disse:lhe: “Não me leves que eu mato o boi!”
Disse o boi: “Não me mates que eu bebo a água!”
Disse a água:”Não me bebas que eu apago o lume!”
Disse o lume:” Não me apagues que eu queimo o pau!”
Disse o pau: “Não me queimes que eu bato no cão!”
Disse o cão:”Não me batas que eu mato o gato!”
Disse o gato:Não me mordas que eu como o rato!”
Disse o rato:” Não me comas que eu roo as camisas à rainha!”
Disse a rainha: “ Não me roas as camisas que eu ponho-me de mal com o rei!”
Disse o rei:”Não te ponhas de mal comigo que eu tiro a vara à justiça!”
Disse a justiça: “ Rei não me tires a vara que eu prendo o homem!”
Disse o homem: “Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira!”
E o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romãzeira.

Contos Populares Português, Adolfo Coelho, Ed Leya, (pág.53-54






O COELHINHO BRANCO

Era uma vez
Um coelhinho
Que foi à sua horta
Buscar couves
Para fazer um caldinho.

Quando o coelhinho branco voltou para casa depois de vir da horta, chegou à porta e achou-a fechada por dentro; bateu e perguntaram-lhe de dentro: “Quem é?”

O coelhinho respondeu:
Sou o coelhinho
Que venho da horta
E vou fazer um caldinho.

Responderam-lhe de dentro:
E eu sou a cabra cabrez
Que te salto em cima
E te faço em três.

Foi-se o coelhinho por aí fora muito triste e encontrou um boi e disse-lhe:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde o boi: “ Eu não vou lá que tenho medo!”
Foi o coelhinho andando e encontrou um cão e disse-lhe:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde o cão: “ Eu não vou lá que tenho medo!”. Foi mais adiante o coelhinho e encontrou o galo, a quem disse também:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde o galo:”Eu não vou lá que tenho medo!” Foi-se o coelhinho muito mais triste, já sem esperanças de poder voltar para casa, quando encontrou uma formiga que lhe perguntou: “Que tens tu coelhinho?”
Eu vinha da horta
E ia para casa
Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrez
Que me salta em cima
E me faz em três

Responde a formiga: “ Eu vou lá e veremos como isso há-de ser”. Foram os dois e bateram à porta; diz-lhe a cabra cabrês lá de dentro:
Aqui ninguém entra
Está cá a cabra cabrês
Que lhe salta em cima
E os faz em três.

Responde a formiga:
Eu sou a formiga rabiga,
Que te tiro as tripas
E furo a barriga.

Dito isto, a formiga entrou pelo buraco da fechadura, matou a cabra cabrez, abriu a porta ao coelhinho, foram fazer o caldinho e ficaram vivendo juntos, o coelhinho branco e a formiga rabiga.


Fim





Contos Populares Portugueses, Adolfo Coelho, Leya,S.A (pág.50-52)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

far far away: Baixas pressões

far far away: Baixas pressões: Por aqui, o cinzento desprende-se, vagaroso, das nuvens baixas, e cola-se-nos à alma. Andamos pardacentos, cabisbaixos. Deprimidos. Sabem o...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

QUADRAS DE S. MARTINHO

[s martinho santa nostalgia 03[4].jpg]
S. Martinho
Castanhas quentinhas 
No lume a estalar 
P
’lo São Martinho
Vou comer até me fartar
.

A fogueira está acesa
As castanhas rachadas
Postas no lume quentinho
Não tarda já estão assadas.

Algumas estoiram no ar 
E tudo fica contente
Toca a rir e a brincar
Chegam para toda a gente.

Cá estão elas tão loirinhas
Boas, quentes e tostadas
A cara, a roupa e as mãos
Vão ficar enfarruscadas.

Come-se papas de milho
Romãs  e castanha assada,
Bebe-se uns copos de vinho
E às tantas não se dá por nada.

É dia de S. Martinho,
Dia de grande reinação
Há vinho novo fresquinho,
Castanha assada e animação

Dia 11 de Novembro
É o dia de S. Martinho
Come-se a castanha assada
E mais o caldo verdinho.

Todo o dia a apanhar chuva
Coitado do vendedor!
Mas à beira das castanhas
Fica cheio de calor.
O S. Martinho está a chegar
A lareira vou acender
Para as castanhas assar
E contigo as comer.
Com o frio a chegar
A natureza está-se a transformar
Os ouriços a abrir
Para as castanhas apanhar.
Diversos autores

PROVÉRBIOS SOBRE O S. MARTINHO

Provérbios - S. Martinho
· A cada bacorinho vem o seu S. Martinho.
· A cada porco vem o seu S. Martinho.
· Em dia de S. Martinho atesta e abatoca o teu vinho.
· Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho.
· No dia de S. Martinho, fura o teu pipinho.
· No dia de S. Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho.
· No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
· No dia de S. Martinho, mata o porquinho, abre o pipinho, põe-te mal com o teu vizinho. (sic.)
· No dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho.
· No dia de S. Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho.
· No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho.
· Pelo S. Martinho abatoca o pipinho.
· Pelo S. Martinho castanhas assadas, pão e vinho.
· Pelo S. Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.
· Pelo S. Martinho nem nado nem no cabacinho.
· Pelo S. Martinho prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não te faz dano.
· O Sete-Estrelo pelo S. Martinho, vai de bordo a bordinho; à meia-noite está a pino.
· São Martinho, bispo; São Martinho, papa; S. Martinho rapa.*
· Se o Inverno não erra o caminho, tê-lo-ei pelo S. Martinho.
· Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho.
· Veräo de S. Martinho säo três dias e mais um bocadinho.
· Vindima em Outubro que o S. Martinho to dirá. 

S. MARTINHO

S. Martinho




SÃO MARTINHO

Em França, a expressão "Verão de S. Martinho" é associada ao facto milagroso de terem florido as plantas, reverdecido as árvores e os pássaros terem começado a cantar, à passagem do corpo do Santo, levado de barco de Candes , onde falecera aos 81 anos, para Tours onde foi enterrado.
Relembrando esse episódio existe até "O Caminho do Verão de São Martinho"- "Le Chemin de l'Été de la Saint Martin"  

São Martinho é também santo patrono dos alfaiates, dos cavaleiros, dos pedintes, dos restauradores (hoteis, pensões, restaurantes), dos produtores de vinho e dos alcoólicos reformados, dos soldados... dos cavalos, dos gansos, e orago de uma série infindável de localidades de Beli Benastir, na Croácia, a Buenos Aires, na Argentina , passando, evidentemente, por numerosíssimas sítios de Norte a Sul de Portugal. 
Acerca do assunto, escreve o conceituado etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990) o seguinte: «O S. Martinho, como o dia de Todos os Santos, é também uma ocasião de magustos, o que parece relacioná-lo originariamente com o culto dos mortos (como as celebrações de Todos os Santos e Fiéis Defuntos). Mas ele é hoje sobretudo a festa do vinho, a data em que se inaugura o vinho novo, se atestam as pipas, celebrada em muitas partes com procissões de bêbados de licenciosidade autorizada, parodiando cortejos religiosos em versão báquica, que entram nas adegas, bebem e brincam livremente e são a glorificação das figuras destacadas da bebedice local constituída em burlescas irmandades. Por vezes uma dos homens, outra das mulheres, em alguns casos a celebração fracciona-se em dois dias: o de S. Martinho para os homens e o de Santa Bebiana para as mulheres (Beira Baixa). As pessoas dão aos festeiros,  vinho e castanhas. O S. Martinho é também ocasião de matança de porco.» (in As Festas. Passeio pelo calendário, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987)

Lenda de S. Martinho
Martinho era um valente soldado romano que estava a regressar de Itália para a sua terra, algures em França.
Num dia frio e tempestuoso de outono, montado no seu cavalo, estava a passar por um caminho, para atravessar uma serra muito alta, chamada Alpes, e, lá no alto, fazia muito frio, vento e mau tempo. Martinho estava agasalhado para aquela época: usava uma capa vermelha, que os soldados romanos normalmente usavam.
De repente, aparece-lhe um homem muito pobre, um mendigo,  vestido com roupas muito velhas e rotas, cheio de fome e de frio, que lhe pediu uma esmola.
Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar. Então, pegou na espada, levantou-a e deu um golpe na sua capa. Cortou-a ao meio e deu metade ao pobre. Mais adiante, encontrou outro pobre homem cheio de frio e ofereceu-lhe a outra metade da capa. Sem agazalho continuou a sua viagem ao frio e ao vento. De repente, as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia que era Verão! Os raios de Sol começaram a aquecer a terra e o bom tempo prolongou-se por cerca de três dias. Foi como uma recompensa de Deus a Martinho por ele ter sido bom.
É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, no dia 11 de Novembro,  mesmo sendo Outono, durante cerca de três dias o tempo fica melhor e mais quente: é o Verão de São Martinho.
http://smartinho.blogspot.pt/2006/11/o-dia-de-s-martinho-comemoraes-e.html






sexta-feira, 8 de novembro de 2013

AS JANELAS


As janelas da casa da minha infância nunca me despertaram grande interesse. Há uma janela no quarto de meus pais e outra na sala de jantar São pequenas, estreitas e ficam muito  altas em relação ao chão, e por isso, mandaram fazer uns estrados em madeira de 25 centímetros de altura por 30 de largura, colocados nos vãos das janelas, para que mais facilmente se chegasse à janela e se pudesse olhar cá para fora. As janelas não são airosas nem alegres, e por isso, a luz que por elas entra não é muito forte, o que dá às duas divisões um ar triste e pouco iluminado.  
Quando queremos ver algo que se passa na rua, temos que subir para o estrado, e de cima deste, podemos então, olhar a rua. Isso, sempre fez que eu nunca gostasse daquelas janelas. De dentro para fora, quando estamos sentados à camilha não vemos nada do que se passa lá fora. Se ouvimos algum barulho diferente, então, lá temos que subir para o estrado, abrir a janela e espreitar lá para fora. De fora para dentro, vive-se a mesma situação, como são muito altas, ninguém pode vir e espreitar à janela, não se vê nada cá para dentro.
Quando eu era muito pequena, gostava de brincar com as minhas bonecas no estrado da janela da casa de jantar, sentava-me ali e passava algum tempo entretida a brincar, mas não muito tempo, porque aquele lugar não tinha sol e eu sentia-o um espaço escuro e fechado...
Aos Domingos, as amigas ou as primas da minha mãe vinham lanchar com ela, então depois do lanche, nas tardes sem chuva, punham-se à janela, onde só cabem duas pessoas, e por isso quando era mais gente, tinham que fazer à vez. Lembro-me de vê-las com os seus melhores vestidos, muito bem penteadas e algumas delas, até se atreviam a pôr um pouco de “rouge” ou de pó-de-arroz, mas nunca pintavam os lábios, pois isso não era de “bom tom” numa senhora casada.
Quando eu tinha os meus cinco ou seis anos de idade, veio para Casa Branca um casal, o Sr. Escobar que era empregado de escritório do Sr. Martinho Rovisco e a D. Rosinha, uma jovem mulher muito bonita, muito elegante, que vestia muito bem e se arranjava como uma senhora da cidade. Penteava-se com uma linda trança que era o enlevo de toda a gente, tinha uma cara muito bonita que as pinturas ajudavam a realçar. Faziam um casal muito bonito, muito elegante, eram jovens e muito bem dispostos. Tinham um filho, o Sérgio, que era da minha idade. Os meus pais fizeram amizade com eles. Todas as tardes de Domingo, os três vinham para nossa casa, onde lanchavam e jantavam. A minha mãe gostava imenso da companhia da D. Rosinha que era mais evoluída que a maioria das amigas de minha mãe, e por isso lhe dava muitos conselhos sobre as modas daquela estação, cremes para o rosto, e até sugestões para se começarem a pintar... de culinária e sobre a decoração da casa... lembro-me que nessa época a minha mãe começou a dar mais atenção à maneira como se arranjava e começou a usar creme de beleza na cara.
Há um episódio muito engraçado, que ainda hoje é falado aqui em casa. Quando se ia a Lisboa, a viagem era de quatro a cinco horas, na furgoneta de meu pai. Então tínhamos que nos levantar por volta das quatro ou cinco horas da manhã, para se chegar a Lisboa pela manhã. Eu nesse dia não ia, estava a dormir no meu quarto. A minha mãe andava a preparar-se e a arranjar-se para saírem o mais cedo possível. A minha mãe chegou ao meu quarto, com as pressas do costume e pergunta-me: - “Oh filha, onde é que está o creme para a cara?” e eu muito ensonada, disse-lhe: “ Oh mãe, está ali!” e apontei para uma das gavetas do psiché que havia no meu quarto. A minha mãe abre a gaveta e vê outro creme e não o que ela procurava, então muito rapidamente diz: “Oh filha não é este, é Benamor!!!!”  . Sempre que estamos a falar de cremes de beleza, vem esta “história” à baila “ Oh filha é  Benamor!!!” é uma risota, pois vem-nos à memória os dias felizes que vivíamos naquela época, onde os meus pais eram um jovem casal, divertido, muito trabalhadores mas ao mesmo tempo muito divertidos, e eu e o meu irmão éramos duas crianças saudáveis, bem dispostas e muito, muito felizes.
ZUZU