Vem a Estremoz meu amor
Encanto dos meus olhos
E abraça-me com calor
Pr'a beijar os lábios teus
Não te vás embora ainda
Fica, dá-me mais um beijo
Em Estremoz cidade linda
Do meu querido Alentejo
Vem comigo festejar
O dia dos namorados
Em Estremoz vamos ficar
P'ra todo o sempre ligados
Eu queria cantar-te um fado
Que pena não tenho voz
Dou-te um beijo de bom grado
Na cidade de Estremoz
Oh! que encanto tão belo
Meu amor minha riqueza
Anda comigo ao Castelo
Namoramos com certeza
Fui a Estremoz em passeio
Achei-lhe graça tamanha
Meu barquinho de recreio
Contigo andei no Gadanha
Fica em Estremoz meu amor
Cidade que nos encanta
Nela viveu e morreu
A nossa Rainha Santa
Deste-me o teu coração
em troca eu dei-te o meu
Foi grande a nossa paixão
Em Estremoz levei-te ao Céu
Tenho-te amor acredita
Não sejas tão fatalista
Em Estremoz cidade linda
Tu foste a minha conquista
Aula de Poesia e Contos Academia Sénior de Estremoz 14 Fevereiro 2014
Lúcia Cóias
OS NOSSOS ESCRITOS
TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS ELABORADOS PELAS ALUNAS DA DISCIPLINA
POESIA ELABORADA PELAS ALUNAS
POESIA, CONTOS E OUTROS TEXTOS TRABALHADOS NA AULA
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
ESTAÇÕES E APEADEIROS DA MINHA VIDA
Perdi tudo na vida
Pelo menos do que me lembro
Era ainda muito nova
E já corria como o vento
Perdi o sonho do amor
Que me fugiu entre as mãos
Perdi tudo na altura
Em que acabou a paixão
Perdi a minha mana
O que muito me revoltou
Ainda tenho saudades dela
Que partiu e não voltou
Mas ganhei uma flor
dia que a minha filha
nasceu
Foi a maior alegria
E graça que Deus me deu
Espero não perder na vida
Nunca este apeadeiro
Pela ordem da vida
Espero partir primeiro
Com o passar dos anos
Na vida tudo se perde
Perdemos família e amigos
Só não se perdem desenganos.
Aula de Poesia e Conto - Eglantina , Fevereiro 2014
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Se Me Esqueceres
uma coisa.
Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.
Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.
Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
Chile 1904
// 1973 Poeta / escritor
PABLO NERUDA |
SONETO AMOROSO DEFENDENDO O AMOR
FRANCISCO QUEVEDO |
É gelo abrasador, fogo gelado,
é ferida que dói e não se sente,
é um sonhado bem, um mal presente,
é um breve descanso fatigado;
é um sossego que nos dá cuidado,
um cobarde com nome de valente,
solitário andar por entre gente,
um amar nada mais que ser amado;
é uma liberdade encarcerada,
que dura até ao último momento;
doença que piora se é tratada.
Este o menino Amor, o seu tormento.
Vede a amizade que terá com nada
o que em tudo vai contra o seu intento!
Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'
Tradução de José Bento
é ferida que dói e não se sente,
é um sonhado bem, um mal presente,
é um breve descanso fatigado;
é um sossego que nos dá cuidado,
um cobarde com nome de valente,
solitário andar por entre gente,
um amar nada mais que ser amado;
é uma liberdade encarcerada,
que dura até ao último momento;
doença que piora se é tratada.
Este o menino Amor, o seu tormento.
Vede a amizade que terá com nada
o que em tudo vai contra o seu intento!
Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'
Tradução de José Bento
Espanha 1580
// 1645 Poeta
Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços
FLORBELA ESPANCA |
Tenho saudades da carícia dos
teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam
e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus
beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dão vontade de chorar.
Tenho saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão
suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha
linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu
tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém
se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu
dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom;
podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu toda a gente é mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que
eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia
fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela alguma
coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha pensado fazer.
Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e já não tenho medo que
toda a lama deste mundo me toque sequer.
Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"
Vila
Viçosa 1894 // 1930
Poetisa
Presídio
DAVID MOURÃO-FERREIRA |
Nem todo o
corpo é carne... Não, nem todo
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?
E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética”
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?
E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética”
Portugal 1927
// 1996 Poeta/Escritor
Soneto do Maior Amor
VINICIUS DE MORAES |
Maior amor
nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da vida eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.
Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da vida eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.
Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'
Brasil 1913
// 1980 Diplomata/ Poeta/
escritor
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
A PORTA DA NOSSA CASA
Como seria aquela porta da casinha onde nasci, onde entrei e saí tanta vez, decerto pela mão da minha Mãe que mal conheci e de quem nem sequer o seu bonito rosto está gravado na minha memória?!
Seria uma porta larga, estreita, com batente de ferro ou uma mãozinha que trouxesse um som alegre ou, que sabe, um som pesado, anunciando a entrada para um lar sem amor e sem alegria? Não sei, nem quero lembrar. Recordo sim, e com saudade, uma porta castanha que tinha então a tal mãozinha pesada, com um som lúgubre que fazia eco.
De vestidinho preto e branco, cabelo cortado à " Beatriz Costa" , nela entrei pela primeira vez.
À entrada um átrio de tijolo já comido pelo tempo, seguido de uma enorme escadaria de mármore, que mais tarde eu esfregaria de uma ponta à outra, descalcinha ( aqui para nós, para mim era uma alegria!) até ficar um brinquinho.
Ao cimo dessa escadaria, outra porta. Essa sim, era a entrada de um convento, transformado em Asilo de Crianças Órfãs.
Uma sineta, anunciava alguém que pretendia entrar. Passados que foram uns tantos anos, ainda tenho a sensação do som dessa dita sineta que tanta vez tocou, anunciando a chegada daquela santa velhinha que era a minha Avó, quando me ia visitar.
Tantas e tantas portas tinha aquele asilo e todas elas saudosas e algumas tristes lembranças. Mas, aquela porta larga que nunca se fechava senão à noite, essa sim, era a porta que dava para o jardim da palmeira, o nosso recreio, onde eram esquecidos todos os sofrimentos, castigos, palmatoadas e outras coisas que nem é bom lembrar.
Era o sonho, a fantasia, a alegria esfuziante! Ora era médica ou enfermeira ou o doente que tinha ataques epiléticos e até o padre a pregar o seu sermão.
No bolso, andavam sempre à socapa as cinco pedrinhas para o jogo da china e, outras vezes, os grãos e os feijões mal cozidos, que eu escondia por não ser capaz de os comer. Ali, no terreiro ia-os espalhando um a um, às escondidas. Depois viriam as palmatoadas por causa das nódoas no bibe, mas isso, já era hábito.
As portas das salas de aula davam uma sensação de conforto! era bom aprender tudo! Ler, escrever, contar e sobretudo, bordar com linhas de tantas e lindas cores!
Por fim, passados tantos anos, chegou a hora de transpor definitivamente a tal porta castanha da entrada, a caminho da aventura, da liberdade, do medo e do desconhecido.
Olhos em frente, o coração palpitante mas, uma força enorme de vencer na vida e, por fim, um grande amor, cujos frutos são hoje a razão do meu viver.
Aula de Poesia e Conto, Academia Sénior de Estremoz Junho 2013
Lúcia Cóias
UMA PERDA, UM ACHAMENTO E UMA GRANDE DESILUSÃO
Quando tinha aí os meus 2 ou 3 anos, os meus avós que viviam em Lisboa, ofereceram-me uma boneca que me deslumbrou. Era muito diferente das bonecas de trapo que a minha mãe me fazia ( hoje, a esta distância dou-lhe muito valor, feitas com todos os pormenores, muito bem vestidas e ornamentadas) e também diferente da boneca de louça de que eu gostava, mas que não servia para brincar porque se partia.
Era o último grito da moda em bonecas, era de baquelite. Muito brilhante, tinha a cor da nossa pele, uns olhos azuis pestanudos e maravilha das maravilhas, podia cair no chão que não se partia. Só tinha um senão, não tinha roupa bonita.
Uns tempos antes do Natal, a minha boneca desapareceu. Fiquei desolada. Onde a poderia ter deixado, se eu tinha tanto cuidado com ela? A minha mãe não se zangou, nem a vi muito preocupada.
No dia de Natal, fomos abrir os presentes e tinha no sapatinho uma boneca lindíssima, com um traje de minhota, roupa acetinada, cordões dourados, um deslumbramento. Peguei-lhe encantada e minutos depois tentei despi-la e qual não foi o meu espanto quando descobri que era a boneca desaparecida, os pés e os sapatos que tinha desenhados na própria pele, não deixaram dúvidas. A minha mãe tinha disfarçado tudo muito bem, inclusivé fizera-lhe umas chinelas que eu descalçara. Olhando para a cara não tive dúvidas, eram os mesmos olhos azuis... A minha mãe como o dinheiro não abundava, resolvera reutilizar a boneca, tornando-a deslumbrante no seu traje de minhota feito pelas suas mãos de fada.
O achamento da boneca trouxe-me, porém, uma grande desilusão: afinal o Menino Jesus não existia ...
Aula de Poesia e Conto Academia Sénior de Estremoz 29 Janeiro 2014
Aura Simões
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
O TRANSPORTE DOS ANOS 50/60
Na quinta onde vivi o nosso transporte era um trem puxado por
dois cavalos brancos, que eram a menina dos olhos do Sr. Francisco, o cocheiro.
Ainda hoje o consigo ver a escovar os cavalos, o que eles muito apreciavam;
via-se que estavam felizes.
O Sr. Francisco tinha como farda uma camisola aos
quadradinhos brancos e azuis que ele atava à frente com um nó. Era como a farda
de um chauffeur, fazia parte dele.
Quando vínhamos à
cidade, o Sr. Francisco engatava os cavalos ao trem e, à hora combinada, estava
à porta com o chapéu na mão à espera que nós subíssemos para a carruagem e
depois era seguir estrada fora até à cidade.
Eu adorava ir às lojas e na loja
do Luís Campos davam-me sempre rebuçados. Mas era sempre a minha madrinha que
comprava tudo, não me deixava escolher nada, tudo era à vontade dela.
Mas o
passeio com os cavalos compensava tudo.
Eu também gostava muito de os ver à
solta a pastar no prado verde; era como uma tela de pintor como uma linda
paisagem rural.
Tenho saudades daqueles belos cavalos e de toda a azáfama
daquela casa rural, onde os animais de que eu tanto gostava faziam parte do
dia-a-dia.
Naquele tempo o automóvel era chamado de D. Elvira e
arrastadeira mas eram um luxo só para gente rica.
Eglantina
Aula Poesia e Conto, Janeiro 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)